Por Camila Boehm (Agência Brasil)
Grupos muitas vezes sem visibilidade – povos indígenas, comunidades tradicionais, agricultores e agricultoras familiares – trocam experiências de agroecologia, discutem os efeitos das políticas públicas para a agricultura familiar e pretendem dar mais espaço à agenda política do movimento, durante a 4ª edição do Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), iniciado hoje, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em Belo Horizonte. Terminará dia 3, domingo.
Um dos destaques do debate é o chamado “Pacote do Veneno”, um projeto de lei que retira os controles legais que impedem o uso desenfreado de agrotóxicos nas lavouras.
A programação inclui alimentação agroecológica, oficinas, atividades culturais, atos e debates públicos sobre temas como água, mudanças climáticas, sementes crioulas e biodiversidade.
Para Paulo Petersen, membro do comitê executivo do ENA e vice-presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), essa é uma chance de desmentir informações amplamente difundidas na sociedade.
“Uma das principais narrativas do que a gente chama de falsa verdade é a que o agrotóxico é um mal necessário. Essas são afirmações que confundem o debate público. A agroecologia demonstra que isto não é verdade e que é possível produzir em qualidade, diversidade e quantidade sem uso de veneno. O agrotóxico é um elo de uma cadeia de alimentos que precisa ser rompido, mas as políticas públicas continuam induzindo para o fortalecimento desse modelo”, explicou.
om o tema “Agroecologia e democracia unindo campo e cidade”, o encontro apresenta para a população urbana os múltiplos benefícios da agroecologia como a produção de alimentos saudáveis; a recuperação e conservação das fontes de água, da biodiversidade, das florestas e dos solos; a geração de renda na agricultura e a valorização das identidades e culturas dos povos e comunidades do campo.
Essas experiências trazem soluções que respondem a diversos desafios vivenciados no Brasil, como a alta concentração de agrotóxicos nos alimentos, desmatamento, mortes de rios, concentração de renda, êxodo rural e aumento da pobreza.
Um exemplo é o de Paula Silva Ferreira, de Irecê, na Bahia, e representante da Rede de Agroecologia dos Povos da Mata, que há 25 anos produz alimentos agroecológicos.
“Venho de uma comunidade [Lagoa Funda/município Barro Alto] que resiste a esse sistema [que usa agrotóxicos] e mostra que é possível produzir alimentos orgânicos. Conseguimos a certificação participativa nessa resistência. Produzimos todo tipo de verduras, hortaliças e legumes numa escala de toneladas. Saímos da perspectiva do quintal para 10 a 15 toneladas de produtos orgânicos de 28 produtores”, disse.