A II Romaria Padre Ezequiel Ramin reuniu cerca de mil pessoas em Rondolândia/MT, na manhã do domingo, 23/07, para rezar, cantar, refletir e fazer memória ao 32º aniversário do martírio do missionário comboniano, Pe. Ezequiel Ramin.
Saindo da comunidade que leva o nome Servo de Deus, os romeiros e romeiras seguiram em procissão por dois quilômetros até a Capela do Martírio. Nesta caminhada, foram lembrados os homens e mulheres que tombaram para que houvesse justiça, paz e vida plena a todos.
“Nestes 32 anos em que o Pe. Ezequiel Ramin foi assassinado por defender o direito à terra para pobres e indígenas, não podemos aceitar centenas de assassinatos em conflitos no campo, jovens sendo exterminados nas periferias das cidades e tantas outras formas de violação aos direitos humanos”, ressaltou José Aparecido de Oliveira, coordenador do Instituto Pe. Ezequiel Ramin (IPER).
Representantes da Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT/RO), estado que faz fronteira com Mato Grosso, caminharam com o povo, carregando banners que estampavam a violência que o povo camponês do Brasil, e em especial de Rondônia, vem sofrendo.
De acordo com o Relatório de Conflitos no Campo, publicado pela CPT, o estado de Rondônia foi, lamentavelmente, mais uma vez recordista em número de assassinatos. Foram registrados 11 assassinatos, dos 61 que ocorreram em todo o Brasil no ano de 2016. Isso equivale a uma média de cinco assassinatos por mês. E neste ano, já foram mortas 15 pessoas.
O cuidado com a Casa Comum também foi colocado durante o percurso da estrada enquanto a procissão passava por várias madeireiras e caminhões boiadeiros, símbolos dos principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, em terras que originalmente pertenciam aos povos indígenas das etnias Gavião e Arara.
Estas imagens revelavam o que as estatísticas já vêm apontando: o acúmulo de terras desmatadas em Rondônia. Até o ano de 2007, dado mais recente, foram derrubados 9 milhões de hectares, o que significa dizer que 44% da área originalmente coberta por florestas foi completamente devastada.
Renata Crisitna Pinto Neves, 26 anos, romeira da comunidade Sagrado Coração de Jesus, município de Jaru/RO, disse que estar próximo ao local onde Pe. Ezequiel foi martirizado significou muito para sua caminhada como cristã. “Pude sentir a força do amor que o motivou a se entregar em sacrifício, pois ele levou às últimas conseqüências o verdadeiro significado do seguimento a Jesus. O sangue que ele derramou não foi em vão. Já fecunda nossa terra e nos encoraja a cuidar da nossa Casa Comum”.
Sementes de Esperança
A Celebração Eucarística foi presidida pelo Superior Provincial dos Missionários Combonianos no Brasil, padre Dário Bossi, e concelebrada pelo Superior Geral dos Missionários Combonianos, o etíope Tesfaye Tadesse Gebresilasie (que significa esperança), diversos missionários combonianos da América Latina e padres da Diocese de Ji-Paraná.
Em sua homilia o padre Dário Bossi reafirmou as palavras do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si: “O tempo para encontrar soluções globais está acabando. Só podemos encontrar soluções adequadas se agirmos juntos e de comum acordo. Portanto, existe um claro, definitivo e improrrogável imperativo ético de agir”.
Bossi também lembrou que para darmos o testemunho do Evangelho devemos ser cristãos engajados, que a exemplo do servo de Deus, Ezequiel Ramin, em situações de conflitos, sejam eles sociais, ambientais ou qualquer uma de suas diversas faces, “devemos estar do lado dos pobres”.
“É nesses tempos difíceis que devemos reafirmar nossa opção por uma Igreja pobre e para as/os pobres, plantando sementes de esperança, na certeza de que um mundo justo e fraterno é possível, mas é necessário que nos comprometamos em ajudar a construí-lo”, concluiu Bossi.
Texto e fotos: Renata Garcia