Em meio a tantas notícias estarrecedoras no contexto político nacional, os índios do Acre trazem boas novas da floresta. É que no início de agosto está previsto o lançamento do livro: “Diários de trabalho dos Agentes Agroflorestais Indígenas”, material de divulgação do projeto “Território Indígena”, que é executado pela Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e conta com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Esse material reúne informações dos diários de trabalho dos agentes agroflorestais indígenas,os quais foram sistematizados desde o início do projeto. Conforme destaca Josias Maná, presidente da AMAAIC, “O Diário de Trabalho dos Agentes Agroflorestais Indígenas  (AAFIs) é um livro que vai mostrar como o agente agroflorestal faz o seu trabalho em cada terra indígena. Nos diários, os agentes vão anotando os seus trabalhos de todo dia, não é somente para anotar os trabalhos com SAFs (Sistemas Agroflorestais), mas todo tipo de trabalho que fazem nas aldeias com as comunidades, como reuniões, intercâmbios, vigilância, projetos que chegam na terra indígena e outros assuntos. O diário tem muitos desenhos, fotografias e gravações”.

Vera Olinda, organizadora da publicação, complementa: “É uma satisfação e um privilégio poder contribuir com os Agentes Agroflorestais Indígenas e a AMAAIAC nessa trajetória, que une educação e articulação política. Organizando os diários, a gente vê como são diversificadas as atividades dos AAFIs. Neste livro em especial, os temas mais comuns são soberania alimentar, organização comunitária, monitoramento territorial, intercâmbios. Nestes temas os agentes descreveram atividades nos SAFs e roçados, venda da produção, manejo de palha, reuniões comunitárias, viagens de intercâmbio. Estes foram os textos selecionados, mas o repertório é maior. Nos diários, eles registram muitas outras atividades e fatos, como se estivessem noticiando o que acontece nas aldeias. O conceito de autoria é o maior legado da educação indígena. Estes diários são de trabalho, mas é uma escrita livre, criativa, autoral. Manter isso é um desafio. Então, por mais que tenha obrigações com os projetos e tenha que trazer certas informações, o diário não deve ser um relatório frio, burocrático, com tópicos fechados. Acho que vai ser bem recebido nas terras indígenas, vai ser preciso continuar com a tradução e para um maior número de línguas indígenas”.

Finalmente, como destaca Francisca Arara, coordenadora do projeto, o que se espera “é que este livro ajude a entender e pensar sobre o conhecimento e as práticas agroecológicas de cada povo indígena. E também que ensine um pouco sobre a nossa prática de plantios. Também mostrar nossas culturas e línguas indígenas. Esperamos, ainda, que os não indígenas entendam que temos outro jeito de pensar, plantar e de usar os nossos territórios”.

Conforme citação de Gavazzi (2012), a realização de diários de trabalho, procedimento que faz parte da formação dos AAFIs, é uma prática cada vez mais frequente de registro escrito, importante elemento em sua formação profissional. Além disso, os diários são um importante instrumento que contribui para a compreensão das dinâmicas culturais, sociais, econômicas e ambientais ativados pelos AAFIs no seu trabalho e com a sua comunidade.

Texto e fotos: Marcos Catelli Rocha