rsz giovanneA Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) realizou uma Oficina Nacional sobre Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas no mês passado em Ouricuri, no Pernambuco. Cerca de 30 pessoas de todas as regiões do país aprenderam novos métodos, elaborados pela AS-PTA, para avaliação dos processos produtivos territoriais. A atividade ocorreu na sede da ONG CAATINGA, que atua há mais de 25 anos na região assessorando organizações da agricultura familiar.

Para falar sobre o evento e as novas formas de assistência técnica e extensão rural (Ater), conversamos com Giovanne Xenofonte, coordenador da CAATINGA. Segundo ele, há uma expectativa grande por parte das organizações para que esses novos olhares sejam incorporados nos métodos de avaliação das políticas públicas realizadas pelos governos.

 

Você pode relatar como foi a construção do encontro localmente e as visitas às experiências?

Foi uma oportunidade muito valiosa receber pessoas de todas as regiões do país, e poder partilhar um pouco o que está sendo construído no território do Araripe no que diz respeito à agroecologia. Uma troca muito grande, e a construção de novos conhecimentos muito intensa.  Oportunidade também de conhecer outras realidades das regiões e contamos já com uma rede de famílias agricultoras que vem nesse processo no território, que partilhou com o pessoal do curso um pouco das suas experiências. Essas experiências foram o combustível para o nosso debate e avaliação da metodologia que foi desenvolvida e construída nesse curso promovido pela ANA.

Ao mesmo tempo de um debate teórico e alguns conceitos, tivemos também a oportunidade de ver como eles se concretizam na vida das famílias agricultoras. Assim como as vivências das famílias agricultoras vêm nos fornecer algumas informações para compararmos esses processos em curso de fortalecimento da agricultura familiar no território.

Qual expectativa em relação a essa ferramenta? Ela pode influenciar na realidade?

Para nós do CAATINGA é uma expectativa muito grande. Já vivenciamos um pouco esse processo desde a Rede Ater Nordeste há alguns anos, e ela mudou um pouco a nossa forma de olhar para o território e a realidade da agricultura familiar. Quando mudamos a forma de olhar, mudamos também a nossa atuação. Há bem pouco tempo a pergunta que a gente fazia nos agroecossistemas era como eles podem se adequar para receber a agroecologia. E depois dessa metodologia a pergunta é outra: como a agroecologia pode ajudar as famílias agricultoras a organizar suas lógicas produtivas? Essa mudança de enfoque, do olhar, da pergunta, diz muito sobre a ação institucional.

Passamos a enxergar a realidade sob uma ótica de que a agricultura familiar é bastante presente e numerosa no território do Araripe, está lá vivenciando diversos processos sob influência de várias políticas e ações governamentais ou da sociedade civil. E essas ações colocam a agricultura familiar no território sob diversas rotas de desenvolvimento, umas mais especializadas em alguma atividade, outras diversificadas e mais agroecológicas e outras numa lógica camponesa mais tradicional. Compreendemos hoje que todas são lógicas válidas, mas que de fato essa forma de análise tem ajudado a ver como é que as lógicas camponesas pegam mais a lógica da diversidade e da sustentabilidade desenvolvendo atividades que dão uma garantia melhor de alimentos tanto para a família quanto para todo o território.

Como é visto pelas organizações esse tratamento da ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) no governo?

Para nós é um grande desafio, mas também uma oportunidade porque esse método que estamos desenvolvendo pode ser vivenciado por um conjunto de famílias agricultoras atendidas pelas chamadas de ATER do governo. Para isso precisamos organizar um pouco a ação, os instrumentos previstos dentro da chamada, para que seja feito nesse enfoque nessa perspectiva. Porque isso muitas vezes não está dado dentro das próprias organizações e às vezes dentro da própria chamada, então estamos fazendo uma série de arranjos para que essa perspectiva seja considerada dentro dos processos de construção do conhecimento através da ATER aqui no território.