Plenária Nacional da ANA reuniu representações de todo o Brasil para fortalecer o movimento agroecológico. Atividades aconteceram em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Foto: Lorena Anahi

Vibrando na sintonia da força dos povos do território da região metropolitana de Belo Horizonte (MG), em convergência com as experiências agroecológicas construídas a muitas mãos em todo país, a Plenária da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) aconteceu entre os dias 5 e 8 de julho, na capital mineira. 

O evento reuniu 113 representações de movimentos sociais, redes e articulações nacionais, regionais e estaduais, grupos de trabalho e coletivos da ANA, e também de redes e fóruns parceiros da Articulação e representantes de agências de cooperação e apoiadores.  

Após dois anos de atividades virtuais, a Plenária marca o retorno às atividades presenciais, a celebração dos 20 anos da ANA, o fortalecimento das articulações para as ações de incidência política nas eleições, entre outras pautas. Além disso, também possibilitou a ida das pessoas participantes para vivências em sete diferentes pontos de luta da agroecologia na capital mineira, onde partilhas e aprendizados foram fortalecidos entre lideranças de diferentes territórios.

“Celebrar esses 20 anos é celebrar uma vitória. Se tem uma palavra que pode nos identificar, é a palavra “diversidade”. A diversidade é a nossa virtude”, afirmou Paulo Petersen, integrante do Núcleo Executivo, sobre o momento histórico da Articulação. 

Entre importantes momentos da Plenária, destacam-se a criação do GT Indígena e todo o debate sobre a urgência de fortalecer a luta em defesa dos povos da Amazônia. Outro ponto de destaque foi o lançamento da carta do I Encontro de Mulheres Negras, Indígenas e Quilombolas da Agroecologia, que reforça a importância de integrar à agroecologia às lutas antirracista, feminista e anticapitalista.

Foto: Lorena Anahi

“É preciso que todas e todos façam uma reflexão sobre como a gente vai debater o tema racismo. É nossa tarefa colorir a ANA, trazendo indígenas, quilombolas e a população negra para construir esse processo”, expõe Elisabeth Cardoso, a Beth, que integra o GT Mulheres da ANA e o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM).

Segundo Fran Paula, que também faz parte do GT Mulheres, “estamos vivendo um marco histórico da agroecologia no Brasil. A luta antirracista dentro da ANA está sendo construída faz muito tempo. Afinal de contas, dissociar a construção da agroecologia da luta antirracista é uma forma muito equivocada de fazer agroecologia. Às vezes, pode ser desconfortável falar dessa agroecologia antirracista, devido ao próprio processo histórico do Brasil. Mas, a gente precisa construir os espaços para que essa luta seja feita. Estamos num momento histórico e político em que é preciso nos posicionarmos como agroecologia antirracista. O que os povos indígenas e quilombolas vêm fazendo nesse país é a luta agroecológica”, afirma. 

Foto: Lorena Anahi

Incidência política

O movimento agroecológico tem grandes desafios pela frente: contribuir para derrubar o fascismo  nas urnas, eleger candidaturas comprometidas com políticas públicas de futuro e fortalecer a agenda da agroecologia nas eleições deste ano. Um dos pontos altos da Plenária foi a aprovação, por unanimidade, do apoio ao pré-candidato Luis Inácio Lula da Silva para a presidência da República. Nesse sentido, a Plenária da ANA foi uma grande oportunidade de reunir os  pares para sintonizar análises do campo agroecológico na atual conjuntura e discutir as ações estratégicas de incidência política a partir da campanha de mobilização ‘Agroecologia nas Eleições’. 

A campanha, conduzida pela ANA, tem como objetivos mobilizar candidatas e candidatos aos cargos estaduais e federais nas eleições deste ano, para que apoiem as pautas da agroecologia e assumam compromisso com políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar e de soberania e segurança alimentar e nutricional. Uma das estratégias de incidência é a carta-compromisso, que apresenta as principais demandas referentes ao reconhecimento e ao fortalecimento da agroecologia pelo Estado brasileiro. Também será elaborado um mapa das políticas públicas estaduais e uma análise das políticas federais que subsidiarão a ação da rede em todo o país.Como disse Viviane Brochardt, integrante da ANA, “A gente precisa afirmar a democracia, pois não existe agroecologia sem democracia”.

Ao longo da Plenária, o debate sobre a incidência política foi iniciado de maneira regionalizada, onde representantes de cada região do país se reuniram em grupos para refletir coletivamente sobre o nosso papel enquanto atrizes e atores políticos na construção da agroecologia no atual cenário. Os Grupos de Trabalho da ANA também se reuniram para aprofundar essas reflexões. 

A partir dos diálogos sobre a conjuntura política e a dinâmica organizativa de cada região, foi possível aprofundar os debates sobre os fundamentos da campanha de mobilização Agroecologia nas Eleições (AnE). Foram abordadas a Carta-Compromisso da ANA, a dimensão estratégica da comunicação, o levantamento de políticas estaduais de agroecologia e os resultados preliminares. Todas as informações coletadas estão sendo sistematizadas na plataforma Agroecologia em Rede (AeR). A metodologia de coleta e cadastramento na plataforma das políticas identificadas foi apresentada pela equipe da plataforma.

Vivências

Pisar no chão, sentir o território, abraçar quem dele cuida. Durante a realização da plenária, foram realizadas vivências em diferentes pontos de luta e resistência das redes e movimentos de agricultura urbana da região metropolitana de Belo Horizonte. As pessoas participantes da plenária foram divididas em sete grupos para a realização das visitas de campo, que partiram para: o Assentamento Pastorinhas, na região de Brumadinho; a Associação Comunitária do bairro da Felicidade (Abafe); o Ervanário São Francisco de Assis; a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) Orapronóbis; os Núcleos Lixo Zero; a Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente (CCPJO);, e a Rede SISAU – Circuito de Comercialização Solidária da Agricultura Familiar e Urbana.

Outro fato interessante que marcou o evento e que diz respeito às forças do território, foi que todos os dias, no início da programação, foram feitas homenagens às mulheres de luta do movimento agroecológico da região, destacando uma história para partilhar e pedindo as bênçãos para iniciar os trabalhos. 

Foto: Lorena Anahi

20 anos da ANA

Além do tom político, a Plenária da ANA também teve um tom celebrativo, em comemoração aos 20 anos de atuação. No espaço do Memorial da ANA foram reunidos materiais e produtos de comunicação que marcam a história dessa grande rede de redes. Um espaço colorido, com uma ambientação especial e preparado especialmente para o resgate coletivo das memórias do movimento agroecológico também abrigou muitos recados celebrativos das pessoas que participaram da Plenária.

Além disso, os 20 anos da ANA também foram bastante comemorados com música e dança: a roda de samba das mulheres do Projeto Gira e a DJ Black Josie, no espaço Baticum Tendinha Cultural, além de forró pé de serra, ao som do Trio Passarada. Nesses tempos desafiadores, reforçamos a importância de celebrar a existência e resistência com afeto, cultura, cores, sorrisos e muita alegria. Fortalecermos a nossa energia para continuarmos firmes e fortes na luta.

No final da Plenária, foi feito um ato contra o PL do Veneno, que está em tramitação no Senado Federal. Em coro forte, a Plenária inteira ecoou o grito “Na luta pela vida, Brasil sem agrotóxico”. 

Ainda no encerramento, toda a equipe da cozinha coordenada por  Kelma Zenaide, que trabalha com culinária afro-brasileira, foi convidada para receber uma homenagem das pessoas que participaram do evento e que compartilharam da comida saborosa e ancestral. “Servir minha comida em evento que trata da agroecologia, num momento tão difícil de escassez, é poder dividir com as pessoas a importância do alimento. É uma somatória, onde a gente pode não só falar, mas também demonstrar como é importante a gente se alimentar bem, ter educação alimentar, segurança alimentar, poder se alimentar a cada dia de um alimento saudável e bem feito”, destacou Kelma, coordenadora do Kitutu Gourmet, descendente do quilombo de Pinhões, em Minas Gerais, e que também é escritora, com especialização em literatura africana e afro-brasileira. É importante ressaltar que todos os alimentos utilizados para o preparo das refeições da Plenária foram adquiridos junto às famílias agricultoras da própria região.

*Toda a cobertura do evento foi feita de forma coletiva e colaborativa, com a participação de comunicador@s de diversas organizações que contribuíram com fotos, vídeos, coleta de informações, entre outros.