O documento, que reúne mais de 70 adesões, reforça a importância de integrar à agroecologia as lutas antirracista, feminista e anticapitalista

Mulheres negras, indígenas e quilombolas do Grupo de Trabalho (GT) Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) lançaram Carta Política durante a Plenária Nacional da ANA, que ocorre em Belo Horizonte (MG) até sexta-feira (8). O documento, que recebeu mais de 70 adesões de redes, organizações e movimentos sociais de todo o Brasil, é fruto do I Encontro Nacional de Mulheres Negras, Indígenas e Quilombolas da Agroecologia. O texto reforça, em especial, a importância de integrar à agroecologia as lutas antirracista, feminista e anticapitalista.

Apresentação da Carta Política na Plenária da ANA. (Foto: Islandia Bezerra)

Resultado de um processo de construção coletiva, o Encontro foi promovido entre 8 e 10 de junho em São José do Ribamar (MA). A atividade reuniu 109 mulheres, dentre indígenas, quilombolas, mulheres de terreiro, agricultoras e técnicas agroecológicas, agroextrativistas, ribeirinhas, agricultoras urbanas e mulheres do movimento negro. “As discussões trazidas por nós destacam o elo entre a agroecologia e a espiritualidade. Reconhecem que práticas ancestrais femininas de matriz indígena e africana mantêm e protegem a agrosociobiodiversidade, com resistência, afeto, cuidado e cura para os nossos Corpos-Territórios. Essas práticas com justiça social e ambiental tornam-se necessárias para afirmar os princípios do bem viver, a partir do reconhecimento de que somos sementes e ancestralidade e que nossos passos vêm de longe”, destaca trecho do documento.

“A Carta representa a expressão das mulheres do Encontro. Fizemos o seu lançamento na Plenária para que isso não fique apenas entre as mulheres e as entidades que participaram do evento. Precisamos fazer ecoar a Carta para toda a ANA. Da mesma maneira que a gente trouxe, a partir do GT Mulheres da ANA, o debate sobre mulheres para a centralidade da pauta, é preciso que todas e todos façam uma reflexão sobre como a gente vai debater o tema racismo. É nossa tarefa colorir a ANA, trazendo indígenas, quilombolas e a população negra para construir esse processo”, expõe Elisabeth Cardoso, a Beth, que integra o GT Mulheres da ANA e o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM).

Antepassadas do futuro

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As mulheres denunciam o “aumento assustador da quantidade de pessoas que vivem em situação de fome e extrema miséria, que saltou de 19 milhões para 33,1 milhões de pessoas” segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Apontam também que “no Brasil está se acentuando a feminização e a racialização da pobreza, como expressão do racismo estrutural e ambiental, do modelo do agronegócio, mineração e mercantilização da natureza e da vida”.

Diante de tal contexto, elas defendem a retomada de um projeto democrático e popular de sociedade e o fortalecimento das candidaturas de mulheres negras, indígenas e quilombolas nas Eleições 2022, assim como mais participação em associações, sindicatos, partidos políticos, organizações, redes e movimentos sociais. “Somos sujeitos políticos e lutamos cotidianamente pelo reconhecimento de outras formas e regras de fazer e viver a política”, afirmam na Carta.

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