mesa aberturaCom muita animação e musicalidade o “Seminário Sudeste – Por um Brasil Agroecológico”, realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) junto a parceiros do movimento agroecológico, iniciou seus debates sobre a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Os cerca de 150 participantes de todos os estados da região lotaram o auditório da biblioteca da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde o evento ocorrerá até o dia 11 de junho.

 

Em 2011 o Ministério do Meio Ambiente procurou a ANA para discutir a construção de um programa de agroecologia, e logo em seguida as mulheres cobraram da presidenta Dilma Rousseff na Marcha das Margaridas uma Política Nacional, contextualizou Eugenio Ferrari, do Núcleo Executivo da ANA. Em 2012 foram realizados 5 seminários regionais e um nacional, cujo processo foi muito importante para o movimento agroecológico e resultou num documento com propostas não só para o programa mas de unidade política, complementou.
“Foi instituída a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) e a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO) responsáveis pela implementação do plano, que foi integrado ao Plano Plurianual (PPA) de 2013 a 2015. Muitas comunidades não conhecem porque ainda não chegou lá, muita coisa está no papel e isso é um dos objetivos do nosso seminário: esclarecer e fazer uma avaliação crítica desse I Plano. Não há uma análise qualitativa para sabermos os avanços e seus desafios. Já realizamos seminários nas outras regiões brasileiras e provavelmente haverá um seminário nacional para formularmos as nossas propostas”, afirmou.

auditorio sudesteA presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Irene Cardoso, também professora da UFV, a agroecologia é ciência, movimento e prática. Segundo ela, a ABA representa o braço científico na agroecologia mas construída junto aos agricultores e movimentos. “Gosto da definição do Seu Neném: agroecologia é a natureza mediada pela cultura. A agroecologia é vida e um aprendizado infinito. E quero agradecer ao Núcleo de agroecologia em processo na universidade, esse seminário sendo construído por esses bolsistas já é um resultado do Planapo”, afirmou.

A agricultora Lourdes de Souza, do norte de Minas Gerais, destacou que foi a primeira vez que fez parte de uma mesa e o encontro vai falar de um projeto que vem contrapor tudo o que sofremos no Brasil. Vamos torcer para que no futuro seja uma política pública consolidada, pois é o projeto para sobrevivermos com decência na terra, acrescentou.

“A agroecologia é em respeito a tudo nesse planeta, e já vem sendo realizada pelas mulheres há muitos anos. Queremos com essa política descontruir a visão de que só podemos produzir em quantidade se for usando agrotóxico, e isso não é verdade. Na minha comunidade a cada ano a terra está melhor que antes. Somos expulsos de nossas terras e não temos para quem reclamar, e sem ela não conseguimos desenvolver nosso projeto de vida”, disse.

Esse ambiente de discussão é muito propício para as ideias virarem coisas concretas para o país, disse Patrícia Bustamante, da diretoria de transferência de tecnologia da Embrapa. Ela explicou que a empresa foi criada durante a ditadura militar e sempre trabalhou na linha do agronegócio, e tem 47 unidades espalhadas pelo país com mais de 5 mil pesquisadores, mas está tentando mudar seu olhar em relação ao campo.

partilha sudeste“A Embrapa tem sido demandada para dar um passo de integração com os agricultores. A PNAPO e todo o debate foi um avanço e diálogo que conseguimos manter nesses eventos e com os agricultores. Um desses marcos é nosso plano de inovação, que tem por objetivo reunir instituições de pesquisa, extensão e agricultores trazendo obrigações para dentro da Embrapa. Todos vamos levar obrigações para casa, arejar a instituição, um compromisso maior com a sociedade e um agricultor que está trabalhando no campo e dando a vida”, destacou.

Ocorreu uma homenagem ao militantes histórico da agroecologia, Jorge Zimmermann, que representava a Rede Cerrado e faleceu em 2014. Claudia de Souza, representando a CIAPO, lembrou que a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o chamou para construir o processo da política nacional junto a sociedade civil. “Na época éramos poucos órgãos do governo federal nessa construção. A política foi instituída em agosto de 2012 no I Encontro Unitário, essa trajetória agora conta com dez ministérios mais quatro convidados permanentes e outros órgãos querendo fazer parte. Ainda temos dificuldades com a execução e monitoramento, mas nesse ano a coisa foi diferente porque já ocorreram muitas reuniões e podemos discutir propostas mais concretas. E queremos que o PRONARA (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos) seja aprovado e implementado pelo governo brasileiro”, ressaltou.

A reitora da UFV, Nilda de Fátima, encerrou elencando projetos agroecológicos dentro da universidade. A agroecologia, segundo ela, é um tema de permanente discussão em respeito a terra e ao ambiente na região. “A universidade fez um seminário e nos posicionamos contra a passagem do mineroduto. Gostaria de destacar três pontos da carta política do ENA: recurso hídrico, porque temos o problema da gestão das águas no país e no mundo; uma luta que precisa ser intensificada é a volta das escolas no meio rural, pois várias estão sendo fechadas; vou reforçar a questão da redução ou eliminação dos agrotóxicos, essas substâncias são prejudiciais ao nosso organismo e destroem a terra e o meio ambiente”, reforçou.

Fotos: Rodrigo Carvalho, do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM)