Por Eduardo Sá, da Articulação Nacional de Agroecologia para a Mídia Ninja
Moradoras e moradores do bairro Jardim Sulacap, na zona oeste carioca, transformaram um terreno abandonado em espaço sociocultural e de produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos e sem transgênicos, para a população local. A agricultura urbana tem sido um elemento fundamental no projeto, que conta, desde 2016, com uma horta comunitária criada por voluntárias/os e, hoje, tem muitas hortaliças, árvores, arbustos e frutíferas. O ambiente se tornou também um ponto de encontro, onde são realizadas muitas atividades socioculturais.
Batizada de Horta da Praça Quincas Borba, que produz cerca de 450 mudas por mês e atende centenas de pessoas do bairro, a ideia iniciou com alguns moradores mais antigos buscando um bairro mais sustentável. O terreno tem cerca de 15 mil metros quadrados e, segundo as/os pioneiras/os do projeto, foi utilizado para recuperar um hábito antigo de cultivar horta, pomar, quintal produtivo e jardim, desde quando a região era parte do sertão carioca, chamado Fazenda dos Afonsos. Até os anos de 1940, quando a SulAmérica Capitalização comprou as terras para construir um bairro-jardim, o lugar era ocupado por vários sítios e pequenas fazendas. O movimento de cidade-jardim de Ebenezer Howard, um urbanista inglês, surgiu em resposta aos problemas urbanos e rurais de Londres no fim do século XIX, para melhoria da qualidade de vida.
De acordo com Emilson Moreira, um dos idealizadores e coordenador das ações do grupo Jardim Sulacap pelo Bairro Sustentável (JSBS), houve uma evolução significativa na região nos últimos anos e o local está aumentando ainda mais. O espaço público, que antes da horta estava degradado, com lixo, entulhos e resíduos de escavações, segundo ele, está agora em processo de regularização junto à Fundação Parques e Jardins, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele também é diretor de sustentabilidade da Associação de Moradores do Jardim Sulacap (Amisul) e está, juntamente com outras/os 12 colaboradoras/es, intermediando o diálogo com o poder público em busca da regularização do terreno.
“O lugar é mais do que uma horta comunitária: podemos ficar e conversar com outras pessoas, ter contato com a terra, bichos, ver práticas culturais que zelam pelas pessoas e constroem o presente pensando no amanhã. Acontecem festas populares – junina e primavera – que misturam histórias orais, passeios, reciclagem de resíduos orgânicos, jardinagem, instalação de brinquedos, trabalhos de manutenção, comidas típicas e populares, danças, músicas, brincadeiras antigas ao ar livre, oficinas e outras atividades mescladas no projeto de tornar o bairro melhor para todos”, afirmou Moreira.
Atualmente, existe um grupo em uma rede de mensagens online envolvendo cerca de 70 pessoas. O projeto também conta com o apoio da organização AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia), que presta assistência técnica à iniciativa. A organização se aproximou da Associação há alguns anos para realizar o Projeto Comunidades Verdes, que atendia os bairros no entorno da transcarioca (sistema de transporte público metropolitano que liga a Barra da Tijuca ao Aeroporto Galeão), e instalou hortas verticais experimentais. Mais recentemente, o Projeto Sertão Carioca, patrocinado pela Petrobras, viabilizou recursos para suporte técnico, disponibilização de sementes, materiais e assessoria para acesso a políticas públicas e estímulo a redes de agroecologia na cidade. A iniciativa buscava desenvolver espaços públicos na área de amortecimento no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca, na zona oeste.
De acordo com Márcio Mattos, da AS-PTA e integrante do Coletivo Nacional de Agricultura Urbana (CNAU), a destinação de um terreno mal aproveitado foi muito interessante ao dar uso ambiental, de produção de alimentos, ervas medicinais e outras coisas, além da convivência com trabalhos educativos com crianças e festivos com os moradores. Segundo ele, os moradores, ao se organizarem em coletivo, fortalecem a experiência, que por sua vez ganha força, e aumentam a capacidade de diálogo com o poder público em defesa de suas demandas.
“Esse grupo participou, por exemplo, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. A gente fortaleceu essas relações mostrando para a sociedade e para o poder público a importância que a agricultura tem na cidade. A ocupação dos espaços com agricultura, florestamentos, praças públicas com uso agrícola têm um papel muito importante. Essas redes acontecem aqui no Rio de Janeiro, mas estão também em outros lugares no Brasil. Buscamos que essas interações ganhem mais escala para discutir políticas em nível nacional, como o Projeto de Lei de uma Política Nacional de Agricultura Urbana”, afirmou Mattos.
Essa matéria foi publicada originalmente no site da Midia Ninja. Para acessar, CLIQUE AQUI.