Viçosa (MG) – Muita música e poesia, com todos de mãos dadas reverenciando a água, a terra, o céu e o ar, assim começou na noite de hoje (21) a Caravana Agroecológica e Cultural da Zona da Mata, em Viçosa (MG), no Centro de Tecnologias Alternativas (CTA). Dez municípios serão visitados até a próxima quinta-feira, envolvendo centenas de pessoas na região, onde em Espera Feliz (MG) haverá um ato público dos movimentos agroecológicos junto a representantes do governo.
De acordo com Denis Monteiro, secretário Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), é um momento histórico na construção do movimento agroecológico no Brasil. “Com certeza esse momento será revisitado com muito carinho no futuro. Seguimos na luta em defesa das sementes, do alimento saudável, na defesa da terra na mão dos trabalhadores. Pela multiplicação dessas ações, e o fortalecimento do movimento. Essa primeira caravana vai servir de inspiração para as próximas rumo ao III ENA”, afirmou.
Coordenadores do CTA explicaram que foi realizada uma oficina preparatória com os movimentos locais, envolvendo a Universidade Federal de Viçosa, sindicatos, o movimento negro, sem terras, mulheres, atingidos por barragens, dentre outros setores. O tema que norteou as discussões foi “Por que a sociedade brasileira deve apoiar a agroecologia?”, com desdobramento em diversas áreas: economia, mercados, identidade, cidadania, cultura, saúde, etc. Foi criado um mapa para pensar as estratégias de agroecologia na região.
As visitas vão passar por três níveis territoriais, com agroecosistemas diferentes em relação ao clima, solo e vegetação. Experiências com educação em escolas do campo, produções agroecológicas, organização das mulheres, acesso ao mercado e terra, sistemas agroflorestais, cooperativas de créditos, dentre outras iniciativas serão visitadas. Em relação aos conflitos e empreendimentos que impedem o avanço da agroecologia, os minériodutos [a região tem o segundo maior veio de bauxita do país, explorado pela Votarantim] e a construção de barragens estão previstas na programação. Todo o processo servirá de base para reflexão de outras etapas preparatórias do III ENA.
Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede
Ao final da abertura da caravana foi lançado o Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede, orçado em cerca de 1 milhão em euros, uma realização do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT-ANA). Apoiado pelas organizações União Europeia e Oxfam, tem como objetivo fortalecer a autonomia das mulheres na gestão de empreendimentos e realizar intercâmbio entre as experiências agroecológicas promovidas pelo público feminino.
Beth Cardoso, do CTA da Zona da Mata, explicou que o projeto será realizado nos próximos três anos e é fruto de um trabalho do GT ANA com o CTA e mais quatro redes de mulheres de regiões distintas no país. Acompanhará, segundo ela, todo o processo preparatório do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA). “É um passo grande para a agroecologia no Brasil, e com importância da parceria das mulheres”, destacou.
De acordo com Sara Pimenta, do GT Mulheres ANA, desde 2004 esse grupo se dedica ao trabalho de dar visibilidade às mulheres na agroecologia. Nesse sentido, complementou, o projeto vai possibilitar maior regularidade das atividades e um olhar para agroecologia com uma perspectiva do feminismo.
“E no momento atual assume maior importância, com o desafio de construir a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Temos em todos os seus eixos iniciativas realizadas pelas mulheres, então esse projeto vai fortalecer o desenvolvimento das mulheres e da agroecologia no Brasil. Abre um conjunto de possibilidades no nosso trabalho”, destacou.
Segundo Eduardo Soares, representante da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o governo está apoiando a realização das caravanas agroecológicas. Ele falou ainda que no próximo dia 07 de junho haverá uma reunião dos ministros para avaliar o documento final do Plano Nacional da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que contou com a participação da sociedade civil.
“A perspectiva do governo é lançar ainda em junho, no mais tardar início de julho, para dar mais visibilidade a essa questão antes do lançamento do Plano Safra. A política traz pontos fortes e reajustes de normas bancárias. O fundo da Conab/BNDES prevê R$ 25 milhões para projetos de agroecologia e produção orgânica, o Terra Forte R$ 30 milhões, o Ecoforte provavelmente abrirá uma janela para apoiar tecnologias sociais e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) coloca uma meta de executar R$ 150 milhões até 2015”, anunciou.
O gestor ponderou, no entanto, que o país tem um marco legal que dificulta o acesso às políticas públicas por parte da sociedade civil, daí a contribuição tão significativa da cooperação internacional. “Não conseguimos apoiar mais porque muitas coisas, devido ao marco, seriam consideradas ilegais”, concluiu.
(*) Leia também entrevista realizada pela Fase – Solidariedade e Educação.
Caravana Agroecológica em Minas Gerais rumo ao III ENA
Fotos: Rodrigo Carvalho/CTA.