O Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), sediado em Viçosa (MG), parceiros locais e organizações reunidas na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) de vários estados do país realizarão a Caravana Agroecológica e Cultural da Zona da Mata de Minas Gerais. Entre 21 a 25 de maio percorrerão diversos municípios da região. Cerca de 300 pessoas estarão diretamente envolvidas em sua realização, além da população dos municípios visitados.
De acordo com Eugênio Ferrari, do Núcleo Executivo da ANA e da equipe técnica do CTA-ZM, será a primeira caravana na região e a expectativa é envolver mais organizações e movimentos na dinâmica regional de construção da agroecologia já existente. Há mais de 20 anos, segundo ele, vem sendo desenvolvidas experiências agroecológicas na região. Elas se multiplicaram, complementa Ferrari, e foi percebida a necessidade de buscar mais articulação e intercâmbio entre elas.
“Esse trabalho resultou numa diversidade muito grande, que nós mesmos não temos conhecimento de todas as experiências. Estamos em contato com alguns grupos, e com essa caravana vamos juntar esse povo: pensar uma forma de ação mais conjunta, e dar visibilidade a isso na região. Haverá vários momentos de visibilização pública da agroecologia”, afirmou.
A caravana vai passar por experiências agroecológicas, ou situações de conflito que impedem a ampliação da agroecologia na região, como o uso intensivo de agrotóxicos e a mineração de bauxita, por exemplo. A participação de agricultores, técnicos e movimentos de outras regiões também será muito importante, pois vai ajudar às pessoas da zona da mata a refletir sobre suas próprias experiências. O intercâmbio cultural também é um dos propósitos da caravana. Será possível perceber como desde as pequenas propriedades são criadas importantes redes econômicas, que contribuem muito para o desenvolvimento local. A visita também permitirá avaliar o contexto da agricultura e do desenvolvimento rural no Brasil e a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, cujo decreto foi assinado pela Presidência da República em agosto de 2012.
Na visão do agricultor Sebastião Estevão, morador de Espera Feliz (MG), é esperado com a caravana que sejam abertas novas portas e o governo dê mais valor às experiências da região. As escolas, exemplificou, estão começando a colocar a agroecologia em aula e é muito importante ensinar às crianças essa relação harmônica com a natureza na prática e não só nos livros.
“Temos uma expectativa grande com a participação de técnicos da região, o evento será aberto, vamos buscar as pessoas, haverá também gestores públicos, além de um encerramento cultural. E a agroecologia me dá inspiração para esse cuidado com a natureza, essa relação saudável e harmônica com o que ela oferece e o nosso trabalho. Com a caravana esperarmos uma sensibilização maior das autoridades com as nossas iniciativas”, destacou.
Ele planta café, feijão e milho, além de hortaliças e a criação de pequenos animais, dentre outras produções, e participa ativamente no sindicato de trabalhadores rurais. Foi um dos protagonistas em Espera Feliz na luta contra o uso de agrotóxicos na década de 90, fazendo pressão no poder público e mobilizando os agricultores. A cada dois meses, explicou, ocorre um intercâmbio entre diversas comunidades da região, com uma produção extremamente diversificada.
Trajeto da Caravana
A Caravana, promovida pela ANA, partirá da sede do CTA para três roteiros distintos. Araponga, Divino e Muriaé serão algumas das cidades visitadas. O destino final será o município de Espera Feliz, onde haverá um ato público com exposição de organizações da ANA e do governo, e estarão reunidos representantes de organizações de agricultores e agricultoras, profissionais das áreas de educação e saúde, militantes da segurança alimentar e nutricional e de movimentos sociais urbanos. O encerramento da caravana será no dia 24, na sede do Parque Nacional do Caparaó.
Até o encerramento no Parque Nacional do Caparaó estão previstas apresentações culturais, como grupos de congadas e folia de reis, além de contadores e outros artistas, e conversas com as comunidades, visitas a propriedades agroecológicas e distribuição de material informativo. Rodas de capoeira, samba, debates, e visitas a parques ecológicos também estão na programação. Esta caravana é a primeira de uma série, em todo o país, realizada também como preparação ao III Encontro Nacional de Agroecologia, previsto para o primeiro semestre de 2014.
Encontro Nacional de Agroecologia
Após o I Encontro Nacional de Agroecologia, no Rio de Janeiro, em 2002, foi criada a ANA. O ENA é um momento de culminância do processo de mobilização dos agricultores e organizações que trabalham na promoção da agroecologia em todo o Brasil. Celebração, troca de experiências, apresentação para a sociedade e governos das inquietações e propostas do movimento agroecológico, são questões abordados nos encontros.
Se o primeiro encontro serviu para mapear as experiências que estavam dispersas Brasil afora, o II ENA, que ocorreu em 2006, em Recife, foi o momento de consolidação e apresentação das propostas que a ANA tem para que as políticas públicas incorporem o enfoque agroecológico. De acordo com Denis Monteiro, secretário executivo da ANA, o III ENA será um momento de apresentar a agroecologia como proposta para o desenvolvimento da agricultura no Brasil.
“Temos a clareza que para isso precisamos da parceria e aliança com outros setores da sociedade. Só assim vamos avançar na disputa política da agroecologia como uma contraposição ao modelo de desenvolvimento hegemônico para o campo, que é o agronegócio. Esse modelo está avançando no Brasil e tem inviabilizado a ampliação das experiências agroecológicas, porque são modelos opostos. Queremos evidenciar que a agroecologia é capaz de dar resposta ao desafio de produzir com fartura conservando os recursos da natureza, temos milhares de experiências que mostram isso. O III ENA será um momento de mostrar para a sociedade, evidenciar que a agroecologia é importante porque todo mundo precisa de alimentos saudáveis, água, florestas preservadas, valorização da agricultura familiar e trabalho digno no campo”, afirmou.
O objetivo dessas caravanas, segundo Monteiro, é dar visibilidade às experiências agroecológicas e mostrar sua importância naqueles territórios, além de evidenciar os bloqueios que impedem o avanço e consolidação dessas iniciativas. Por isso, serão visitadas, por exemplo, experiências de mobilizações de resistência a grandes projetos e obras que prejudicam a agricultura familiar ou geram impacto negativo no ambiente. Haverá também debates sobre como as políticas públicas favorecem ou dificultam o avanço da agroecologia.
“Mobilização para denunciar os problemas que são enfrentados, mas também para ampliar o alcance da agroecologia e envolver mais os agricultores e consolidar suas propostas nesses territórios. Vai acontecer essa caravana na zona da mata e em outros territórios, que estão sendo planejadas, como na Amazônia, no semiárido, e na região sul. As caravanas serão um momento de mobilização do campo agroecológico, e grande diálogo com a sociedade. A partir delas serão organizados alguns encontros locais, que vão culminar na realização do III ENA”, concluiu.
(*) Veja a programação e mais informações no Caderno do Participante da Caravana Agroecológica da Zona da Mata.