Por Verônica Pragana
Uma agricultora familiar do agreste pernambucano, um representante da Articulação no Semi-Árido (ASA) e a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Uma composição representativa para discutir uma questão essencial à sustentabilidade do Semiárido: a convivência do homem e da mulher com a região, com seu clima e bioma.
Na mesa que abriu a plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), na manhã desta quarta-feira (27), em Brasília-DF, os três falaram, a partir do lugar onde estão, sobre a convivência com o Semiárido e as principais preocupações com o atual período de seca, considerado pelo governo federal como o mais intenso dos últimos 50 anos.
Na fala do sociólogo e representante da ASA, Antônio Barbosa, uma constatação reveladora do atual momento social: apesar de severa, a seca não foi responsável por enviar pessoas famintas para saquear o comércio local, nem migrar para o Sudeste do país em busca do trabalho que não encontram perto de casa. “A situação é diferenciada. Os colapsos são outros”, assegura.
Aproveitando a leitura de Barbosa, a ministra Tereza Campello reforçou que os efeitos desta seca foram amenizados pela “rede de proteção” criada pelos programas governamentais de transferência de renda, como o bolsa família, as aposentadorias rurais e os benefícios destinados às pessoas idosas. “Se não fosse isso, a população rural do Semiárido estaria sofrendo muito mais do que hoje.”
Antes, a calamidade era pela fome e miséria que assolava a região em tempos de longa estiagem. Hoje, o lamento se faz, entre outras coisas, pela diminuição acentuada dos rebanhos de grandes e pequenos criadores, um dos problemas que mais se destacam nesta estiagem.
A agricultora Joelma Pereira, que aprendeu a cuidar do solo do Semiárido, a guardar água e alimento para usá-los quando a chuva cessar, demonstrou preocupação com o que acontecerá com as famílias agricultoras depois da seca. Por não terem ração armazenada para dar aos animais, muitas cabeças de bode, cabra e ovelha (animais de médio porte apropriados ao Semiárido pela sua resistência e pouco consumo hídrico) foram ou serão vendidos para não morrerem e vários deles não conseguem resistir à falta de água e comida.
Com isso, o patrimônio do homem do campo se desfaz. A riqueza que ele tinha antes, contabilizada em número de cabeça de animais, sofre grande perda. O que fazer para evitar esta situação bastante comum no Semiárido?
A partir da experiência prática das organizações da sociedade civil e das famílias agricultoras, Barbosa apresentou uma resposta à pergunta: investir no armazenamento de água, alimento, ração e sementes. Esse é o principal mandamento para quem mora no Semiárido.
Daí, a relevância das cisternas na região. Mesmo quando a água da chuva armazenada dentro dela acaba, elas servem para guardar o recurso que vem de outra fonte – carro-pipa, barreiros, açudes, poços, etc.
A ministra Tereza Campello reconhece este papel das cisternas e aponta o Programa Água para Todos como uma das ações estruturais mais importantes do governo Dilma para os agricultores familiares da região. Segundo a ministra esta ação fortalece as ações culturais locais e garante a aplicação do conceito de convivência.
Cisternas de plástico – Até 2014, a meta é implementar 750 mil cisternas, sendo 300 mil de plástico. “Adotamos as cisternas de plástico porque entendemos que o acesso à água é mais necessário do que a geração de emprego no Semiárido”, enfatiza a ministra justificando a opção do governo federal em adquirir cisternas duas vezes e meia mais caras do que as de placa, que não empregam pedreiros e cujo material impede a sua manutenção pelas famílias, caso aconteça alguma avaria na estrutura.
Na meta das 450 mil cisternas de placas, 33,4 mil serão construídas pela ASA até dezembro deste ano. No dia 6 deste mês, foi firmado um termo de parceria entre a Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) – Oscip que faz a gestão dos programas da ASA – e o MDS. Além desse convênio, foi assinado outro para implementação de 7.630 tecnologias de captação de água de chuva para produção de alimentos.
A assinatura dos novos convênios foi celebrada num ato público realizado no centro da cidade de São Caetano, no Agreste de Pernambuco. Na ocasião, a ministra Tereza Campello e a agricultora Joelma Pereira dividiram o mesmo palco para falar sobre a convivência com o Semiárido.
Depois da mesa de abertura da plenária do Consea, houve um debate e a aprovação de uma exposição de motivos do Conselho sobre o Semiárido.
(*) Reportagem reproduzida da Asa Brasil. Leia também a matéria publicada pela comunicação do Consea.