Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST,
A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) realizou na Cúpula dos Povos, durante os dias 15 e 16, o seminário “Agricultura familiar e Camponesa e Agroecologia como alternativa à crise do sistema agroalimentar industrial”.
A primeira palestra teve como tema Crise alimentar mundial e desafios à soberania alimentar. Participaram da mesa Aksel Naerstad, da Coalizão More and Better; Maria Emília Pacheco, da FASE/Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; Pat Mooney, Membro do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC, sigla em inglês). A mesa foi coordenada por Jean Marc Von der Weid, da Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA).
Aksel iniciou a palestra indagando sobre a crise alimentar que o mundo sofre atualmente. “A crise alimentar é permanente: em 1992, época da Rio92, havia 858 milhões de pessoas passando fome. Há muito alimento no mundo para alimentar o dobro da população mundial. Parte desse alimento se perde no armazenamento, parte é usada em alimentação de animais, além do desperdício nos restaurantes, que, se fosse evitado, poderia alimentar 1 bilhão de pessoas que passa fome.
Salientou ainda que a verdadeira crise está na concentração de poder em poucas grandes empresas multinacionais alimentícias, que acabam com a diversidade alimentar e poluem o meio ambiente por causa da enorme quantidade de agrotóxicos e fertilizantes utilizados.
A lógica que as grandes indústrias impõem foram apontadas por Aksel como um grande problema para o avanço da agricultura familiar. “O próprio sistema cria a crise. A Organização Mundial do Comércio (OMC) obriga a importação de alimentos, o que impossibilita o desenvolvimento agrário local. Na Noruega, por exemplo, comemos muitas batatas, mas não há batatas Norueguesas, pois a maioria vem de outros países europeus”, salienta.
Além de tudo, destacou o alto investimento feitos pelos governos ao modelo do agronegócio, ao afirmar que “há sim formas ideais de se produzir alimentos, como a agroecologia. É preciso que as políticas governamentais mudem para que esse novo modelo de produção possa florescer”.
Na mesma linha segue Maria Pacheco, ao dizer que as soluções apontadas pelo capital à crise econômica referem-se “aos saberes tradicionais dos povos indígenas e camponeses como algo que deve ser incorporado ao mercado para resolver a crise. Isso se dá porque esses novos conhecimentos de mercado querem privatizar inclusive o conhecimento natural”.
Segundo Maria, a crise alimentar é o elo mais dramático do conjunto de crises que vivemos hoje, pois o próprio valor da vida está em crise. Para ela, o aumento dos preços dos alimentos é causado pela especulação, ao transformar alimentos em mercadoria e “gerar um contexto mundial no qual uma a cada sete pessoas passa fome”.
Apropriação dos bens naturais
Pat Mooney iniciou sua exposição analisando a Rio+20: “a Cúpula oficial é um fiasco, os diplomatas lá presentes não tem a resposta para solucionar a crise. Vinte anos atrás, na Rio92, a discussão era como os países do norte poderiam controlar a biodiversidade do sul. Hoje, os países do norte querem pegar o que sobrou da natureza que pode ser explorado”.
Pat disse que não existe outra maneira de resolver a crise climática sem a agroecologia. “A cadeia industrial não tem flexibilidade para nos sustentar. Para cada caloria de comida produzida pela indústria gasta-se quatro calorias de energia, o que resulta em emissões de poluentes. Na cadeia campesina, a proporção é de uma caloria de alimento para uma de energia”.
Além disso, ele apontou que o sistema agroecológico trabalha com mais diversidade de espécies animais e vegetais, além de não patentear os produtos que cria como fazem os representantes do agronegócio.
A crítica à pesquisa realizada à agricultura tampouco ficou de lado. “Antes, era necessário um milhão de dólares para criar um organismo geneticamente modificado. Hoje, é necessário mais de 136 milhões de dólares para se criar um transgênico. É um investimento estúpido”. Pat acredita que “a minha geração é a primeira do planeta que perdeu mais conhecimento do que ganhou. Mas ainda temos muito e podemos reverter esta situação”, referindo-se às técnicas camponesas que foram sendo destruídas devido ao êxodo rural e imposições industriais.
Pet acredita que não iremos sobreviver a uma crise ambiental com o sistema agrário que temos, e pediu que os agricultores do mundo se unam, para trocar conhecimento e diversidade de espécies.
Dessa forma, Maria Pacheco descata a importância da luta dos movimentos sociais para que o sistema agroecológico seja implantado. “Os sistemas agroecológicos tem índice de produção maior e reduzem a pobreza rural. É com a agroecologia que os camponeses conseguem sua subsistência sem necessariamente ter de passar pelas regras do mercado”, e terminou salientando a importância da Reforma Agrária para se estabelecer a agroecologia. “A Reforma Agrária é essencial. Sem acesso à terra não há como assegurar o direito à vida. É fundamental que o movimento ecológico se uma na luta pela terra”.