IMG 3546Texto e fotos Eduardo Sá,

Lábrea (AM) – Toda a vida no entorno do Rio Purus, no Amazonas, é condicionada pela dinâmica das águas. A pescaria, algumas moradias, o transporte fluvial e, principalmente, a agricultura na beira do rio e o extrativismo são determinadas pelas épocas de cheia e vazante do rio. A roça da praia, como é chamada em Lábrea, cidade onde começa a rodovia Transamazônica, a agricultura na beira do Purus, ocorre nos meses em que as areias não estão alagadas. Os produtos são transportados de “rabetinha” (lancha pequena) e vendidos no mercado popular no centro da cidade ou para intermediários de Porto Velho (RO), capital mais próxima.

 

A agricultora e pescadora Maria Alves de Oliveira, que está há 10 anos no mercado popular de Lábrea (AM), vende pimenta, pimentão, limão, cenoura, maçã, cebola e tomate, dentre outras verduras. Planta tudo na roça da praia, no quintal de sua casa, sem o uso de qualquer substância química. Vende também outros produtos, como couve e gerimum, comprados de outros intermediários. Consegue lucrar em torno de R$ 500,00 por mês, e a porcentagem revendida não tem noção de quanto rende.

feira labrea“O espaço é da prefeitura, tem que pedir autorização mas não paga. Na época do inverno a água enche, quase todos os produtos nós que fazemos sem usar veneno tirando a farinha. Trabalhando direto por mês com meu filho juntando a pesca dá para tirar uns R$ 3 mil, mas o agricultor não consegue trabalhar todo dia. Farinha, banana e verdura vende mais”, disse.

IMG 3665A Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs) compra alguns alimentos, garantindo a venda do agricultor familiar. Pagam R$ 1,50 no feijão, por exemplo, e vendem a R$ 3,00. A região é caracterizada pelo plantio de abóbora e melancia, que estragam de tanta quantidade, e esta com um formato diferente do redondo convencional e quase branca ao invés de verde escuro. Embora muitos índios habitem os arredores, não comercializam nada no mercado da cidade. A produção local é considerada pelos agricultores mais diversificada que a de Porto Velho (RO).

pescador labreaA pescaria no rio Purus também é uma marca da economia e cultura locais. Os peixes são vendidos a atravessadores que revendem em Porto Velho, explicou Marivaldo Freire, filho da agricultora e pescador. Desde o dia 15 de janeiro entrou no período do defeso por 4 meses, época de desova dos peixes, e não pode pescar, complementou. Na região tem muitas qualidades de surubim, tambaqui e a sardinha.

“No peixe ganha menos, porque hoje tem muito jacaré e boto, e eles acabam com nossos materiais como as malhadeiras. Às vezes não conseguimos nem tirar o dinheiro do material. Tem caído muito mas ainda é muito farta, apesar de não dar muito lucro. Tiro uns R$ 400,00 por mês, tirando a gasolina e os materiais”, disse

IMG 3547O extrativismo é outra fonte de renda característica no Amazonas, principalmente o da castanha do Brasil. Para fortalecer o trabalho da agricultura familiar e do agroextrativismo, incluindo o de óleos vegetais, como a copaíba, andiroba e murumuru, foram organizadas associações e cooperativas, além de sindicatos locais. Essas organizações trabalham também com verdura, farinha de mandioca, feijão de praia e produção de ovos, e pretende desenvolver projetos com polpa de frutas, incluindo o típico açaí. A pesca de manejo para comercialização do Pirarucu também está no horizonte.

IMG 3654De acordo com Astrogildo Oliveira da Costa, presidente da Cooperativa Agroextrativisma Mista do Sardinha (Coopmas), são cerca de mil agricultores e extrativistas vendendo seus produtos à cooperativa em Lábrea. Só na borracha são mais de 500, somados aos 350 da castanha e 400 do feijão, além dos demais produtores de óleos, hortaliças e outros produtos. Alguns deles, de acordo com Astrogildo, fazem mais de uma atividade e tiram cerca de R$ 500,00 com essa parceria. Cada produto tem seu preço de mercado, e o governo federal tem um preço mínimo para complementar repassado pela associação.

IMG 3664“A castanha, por exemplo, a cooperativa coloca o preço mínimo com custos e margens de renda. A gente dá importância significativa ao município, antes não tinha nada desenvolvido na agricultura familiar. Procuramos o governo e os produtos foram valorizados, o feijão cresceu mais de 200% para o produtor e a castanha 1000%. O resto não cresceu tanto, mas a produção está em 200 toneladas. O principal objetivo era valorizar o produto da região, e a produção do município. A castanha a gente exporta 70% e isso gera renda para o estado e agrega valores. O trabalho ajuda a desenvolver a região, principalmente os povos da floresta e os ribeirinhos mantendo a dignidade de suas vidas”, afirmou o presidente da cooperativa.