Especial sobre agroecologia teve a presença de Maria Emília Pacheco em entrevista a Yasmine Saboya
Por Paula Vianna
Maria Emília Pacheco, ex-presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e integrante do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), conversou com Yasmine Saboya, sanitarista e apresentadora do Canal Saúde, da Fiocruz, sobre os desafios em debate no 12º Congresso de Agroecologia, realizado ano passado, no Rio de Janeiro. O programa Sala de Convidados debateu a agroecologia, as políticas públicas que a promovem e as transformações sociais que a agroecologia propõe para o Brasil.
Para a apresentadora Yasmine Saboya, um ponto que se sobressai neste debate é a importância das políticas públicas, o quanto são elementares para acabar com a fome, ao mesmo tempo em que fazem uma ponte entre o agricultor familiar, os centros urbanos e os espaços para a alimentação da população. “Precisamos debater as políticas públicas voltadas para a distribuição de alimentos e os impactos que têm na sociedade, na saúde e até na economia”, afirmou.
Segundo Maria Emília Pacheco, o lema do Congresso, Agroecologia na Boca do Povo, “fala sobre a comida na boca do povo, mas também que a agroecologia garante a comida de verdade, no contexto da fome e das várias crises que vivemos”.
Pacheco explicou que os eixos do CBA dizem respeito a um debate inovador e abrangente sobre as infâncias, o papel da juventude, direitos dos povos indígenas, comunidades, quilombolas, comunidades tradicionais, direitos das mulheres, do campesinato e as múltiplas dimensões da agroecologia, como a importância da conservação da biodiversidade, a gestão das cidades incluindo a agricultura urbana, a soberania alimentar e a construção do conhecimento em diálogo com saberes tradicionais. “Tudo isso nos mostra a centralidade dos direitos e a afirmação do objetivo da agroecologia de transformar os sistemas agroalimentares”, disse Pacheco.
“Quando debatemos a agroecologia, sempre fica muito clara sua construção por meio de políticas públicas, e como já existe um trajeto para a comida chegar à população”, comentou Saboya. “Precisamos trazer mais pessoas para essa conscientização porque existe uma frente muito intensa e agressiva no sentido contrário, no sentido de aprovar agrotóxicos, no sentido de naturalizar uma comida que adoece as pessoas, por isso é necessário fazer a informação chegar à população e mostrar como a agroecologia se constrói”, acrescentou.
Maria Emília Pacheco resgatou a emoção e o sentido político do Congresso, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, com a apresentação de aproximadamente 3 mil trabalhos científicos e relatos de experiências.
“Falamos da importância de relacionar a política de agroecologia com a política de segurança alimentar e nutricional, em um momento histórico de recondução da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica”, contou Pacheco.
O programa debateu também a proposta de uma Política Nacional de Abastecimento Alimentar com iniciativas descentralizadas de distribuição de alimentos, que chegue nas periferias e bairros populares das cidades, e a importância da adequação de políticas e programas para seu acesso por parte dos povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais. “Um exemplo é a proposta que dispensa a exigência do cadastro da agricultura familiar e a substitui pelo número de identificação social que está no Cadastro Único”, explicou Pacheco.
Outros temas abordados foram as desigualdades sociais provocadas por fatores estruturantes, como a concentração da terra, além do racismo estrutural, ambiental e patriarcal.
Para Saboya, o papel do Canal Saúde é observar as diretrizes e os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), levar informação sobre promoção e atenção à saúde, prevenção de doenças, mas também de produtos que possam ser nocivos para a saúde. Desta forma, a comunicação feita pelo Canal também abarca a agroecologia, uma vez que dá respostas para uma série de elementos de sua pauta central.