Estiveram na pauta de reivindicações o lançamento do Pronara, a regulamentação do Programa de Bioinsumos e o aumento do orçamento para o edital dos Núcleo de Estudos de Agroecologia nas Universidades e Institutos Federais (NEAs)  

As organizações, redes e movimentos sociais reunidas em Florianópolis para a Plenária Nacional da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) realizaram, no dia 04 de julho, um ato reivindicando o apoio do governo federal a demandas da agroecologia para o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), previsto para lançamento dia 16 de julho. O ato ocorreu durante o debate Agroecologia na Casa do Povo, realizado pela organização catarinense Cepagro e pela ANA, no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).

Debate "Agroecologia na Casa do Povo", realizado pela organização catarinense Cepagro e pela ANA, no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
Debate Agroecologia na Casa do Povo, realizado pela organização catarinense Cepagro e pela ANA, no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Foto: Clara Comandolli/Cepagro

Após o anúncio do aumento de recursos para o agronegócio, por meio do Plano Safra, e de crédito para a agricultura familiar, pelo Pronaf, as entidades que representam a agroecologia esperam que o próximo Planapo contemple pautas fundamentais para o fomento à transição agroecológica: o lançamento do Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara), a definição de regras para o Programa de Bioinsumos e mais recursos para os editais dos NEAs.

Embora o lançamento do Planapo tenha sido anunciado para ocorrer juntamente com o anúncio do Plano Safra e do Pronaf, a proposta para o Planapo ainda não está fechada. Segundo Paulo Petersen, integrante da executiva da ANA, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) não entrou em acordo com as demandas apresentadas na Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo) sobre duas medidas: o lançamento do Pronara e a regulação do Programa de Bioinsumos.  

Entidades pressionam pelo lançamento do Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara).
Entidades pressionam pelo lançamento do Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara).

O impasse em torno do Pronara começa pelo nome. Embora a Lei dos Agrotóxicos, conhecida como PL do Veneno, não tenha mudado a denominação “agrotóxicos”, o MAPA resiste ao uso dessa palavra. Para Petersen, o lançamento do Pronara é urgente, em razão da aprovação da lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos. “Trata-se de uma proposta coletiva envolvendo vários ministérios, inclusive o MAPA”, diz ele. No ano passado, durante o Congresso Brasileiro de Agroecologia, à medida em que ficava claro que a Lei dos Agrotóxicos seria aprovada no Congresso, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) anunciou o interesse do governo por essa política.

Já com relação aos bioinsumos, trata-se de uma antiga demanda ao Planalto, ligada à necessidade de fomentar pesquisas nessa área, que agora ganhou um novo sentido: regular a categoria para a liberação de produtos comerciais.  “Grandes corporações estão interessadas nesta agenda, como oportunidade de negócios. Querem se apropriar dos bioinsumos que os agricultores sempre produziram, e que podem ser desenvolvidos com tecnologia autônoma, para transformar numa mercadoria patenteada. Grandes corporações patenteiam microrganismos, levando a uma uma lógica de concentração corporativa que fatalmente acontecerá, como aconteceu com as sementes, se não regulamentarmos os bioinsumos”, explica Petersen. 

Atualmente, o conselho desse programa tem vagas para a sociedade civil, mas quem escolhe seus representantes é o Ministro da Agricultura. A reivindicação dos representantes da agroecologia para o Planapo é que outras pastas sejam integradas a este coletivo.

Já os Núcleos de Estudos sobre Agroecologia e Produção Orgânica (NEAs) são um dos instrumentos do Planapo apoiados pelo governo federal desde 2010, por meio de editais voltados ao financiamento de projetos de ensino, pesquisa e extensão universitária em Universidades e Institutos Federais. Mas há quatro anos seus editais não são publicados, e a falta de apoio tem impactado na formação em agroecologia de muitas/os estudantes e na restrição de recursos destinados à pesquisa e extensão agroecológicas. 

O orçamento dos NEAs virá de vários ministérios, mas a demanda atual é que o orçamento alocado seja compatível com a demanda acumulada nos quatro anos sem apoio efetivo. “Nossa expectativa é de um orçamento robusto para um primeiro edital, e depois, nos anos seguintes, abertura de novos editais. 

Agroecologia na Casa do Povo

A construção, implementação e controle social de políticas públicas ligadas à agroecologia, agricultura familiar e segurança alimentar e nutricional são fundamentais para o avanço de formas mais sustentáveis de produção e consumo de alimentos saudáveis no Brasil. Como prática agrícola, a agroecologia é uma alternativa às monoculturas focadas na produção de commodities, promovendo  sistemas que se pautam pela biodiversidade, que absorvem melhor o impacto das mudanças climáticas e regeneram solos degradados. Além disso, ao produzir alimentos de verdade, promove a saúde da população, atualmente ameaçada pelo crescimento do consumo de alimentos ultraprocessados e com resíduos de agrotóxicos. 

O evento “Agroecologia na Casa do Povo”, que contou com parceria do Mandato Agroecológico do Deputado Marquito, se mostrou uma oportunidade de ampliar o debate público sobre experiências exitosas de incidência política em agroecologia, desafios e demandas atuais. Estiveram presentes na mesa de debate representantes da agricultura familiar, de povos indígenas e comunidades quilombolas de Santa Catarina, de povos extrativistas da Amazônia e da agricultura urbana, além de parlamentares do campo agroecológico. O evento foi direcionado à sociedade civil, gestores/as públicos e lideranças de movimentos, coletivos e grupos de agroecologia. No encerramento, houve uma ação de solidariedade ao Rio Grande do Sul, com a entrega de sementes e livros para colaborar na recuperação das comunidades atingidas pelas enchentes de maio deste ano. 

A ANA reúne 23 redes estaduais e regionais, centenas de grupos, associações e organizações não governamentais em todo o País, além de 15 movimentos sociais de abrangência nacional, engajados em experiências concretas de promoção da agroecologia, de fortalecimento da produção familiar e construção de alternativas sustentáveis de desenvolvimento rural.