Por Eduardo Sá
O Vale do Jequitinhonha, na região norte mineira, é marcado pela forte manifestação cultural de seu povo e a Feira Livre de Minas Novas é um grande exemplo. Além de diversas atividades artísticas, é um pólo de referência para agricultura familiar comercializar seus produtos com o apoio da prefeitura. Esta é mais uma iniciativa identificada pela campanha Agroecologia nos Municípios, realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
As organizações locais estimam que, aos sábados, circulem pela feira cerca de 10 mil pessoas. A Prefeitura dá apoio, por meio das secretarias de Agricultura e Meio Ambiente, com investimentos que ficam entre R$80 mil e R$100 mil anuais oriundos do programa para feirantes. O transporte fornecido para o deslocamento dos produtos a serem comercializados acaba sendo utilizado também pela população local, devido à longa distância do meio rural até a cidade. São investidos também em torno de R$ 100 mil por ano via a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Quase 200 famílias expõem seus produtos em barracas dentro e fora do local. Mas, com a pandemia, a feira chegou a fechar e voltou a operar com menos da metade de sua capacidade e com controle de circulação de pessoas até que foi decretado lockdown no estado. Os produtos variam entre hortaliças, frutíferas, inclusive nativas como o pequi, processados como queijo, farinha de mandioca, rapadura e requeijão. Há uma área destinada à venda de carne, principalmente de porco. Após um processo de diálogo entre vários setores e a prefeitura, as bancas foram ordenadas e os chamados atravessadores, que revendem os produtos da agricultura familiar e do Ceasa, estão identificados separadamente no espaço. Um decreto recente (Decreto nº 04/2020), que regulamenta o funcionamento do Mercado Municipal de Minas Novas, criou uma Comissão Organizadora da Feira composta por diversos setores do governo e entidades da sociedade civil para monitorar e gerir o empreendimento.
O atual prefeito Aécio Guedes (Republicanos) está no segundo mandato e tem dado apoio à agricultura familiar na cidade. Investiu cerca de R$ 1 milhão para reformar o Mercado Municipal, onde ocorre a Feira Livre de Minas Novas, dobrando sua capacidade, melhorando os banheiros, criando um açougue e uma cozinha azulejada, além de quase triplicar as barracas para um total de 120 expositores. Segundo ele, foram comprados, recentemente, quatro tratores para assessorar as comunidades. O Projeto Feirante, que viabilizava o transporte das agricultoras e dos agricultores, está temporariamente interrompido por conta da pandemia, mas voltará assim que possível.
“Estamos sempre preocupados com as agricultoras e os agricultores (, porque são eles que movimentam o local. Cerca de 70% da população de Minas Novas é rural, então se o produtor tem apoio com a água, trator para arar sua terra, transporte, movimenta nossa cidade e o comércio local. Eles trazem seus produtos para vender e geram emprego. Tem que melhorar, peguei um momento de crise, mas avançamos bastante. Nosso mercado ficou bastante moderno e virou um ponto para a zona rural e também para a cidade”, destacou.
Além de a prefeitura atender a agricultura familiar com programas de apoio ao transporte, infraestrutura e produção, organizações como o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Niva (CAV) também dão suporte há anos aos agricultores (as) locais. O Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar Justino Obers, da Universidade Federal de Lavras, também já colaborou com muitos dados que deram subsídios à iniciativa da feira. Segundo Relatório Técnico UFLA/CAV/PMMN (2004), a feira, além de ser um importante centro gerador de renda, é um espaço de trocas entre os meios rural e urbano e uma das mais importantes referências culturais da população do município. Representa 100% da renda auferida por 40% das famílias de feirantes e cerca de metade da renda de todos os participantes, aponta outra pesquisa.
O CAV coordena um Programa de Apoio às Feiras Livres, que conduz ações em pesquisas, capacitações, fundo rotativo, extensão rural e valorização da produção feirante. Desde 2005, promove anualmente o “Seminário de Feiras Livres e Políticas Públicas do Vale do Jequitinhonha”, que conta com a participação de diversos setores da sociedade e fortalece a troca de experiências na região. De acordo com Sueli Gomes Fernandes, integrante do CAV, a instituição ajudou na organização da feira, na criação da Associação dos Agricultores Familiares Feirantes (AFeM) e hoje presta assessoria às agricultoras e aos agricultores na organização dos produtos, certificação, além da capacitação para o planejamento produtivo e comercial. Eles também intermedeiam a venda de produtos via mercados institucionais, como o Pnae e o PAA, que também contribuem para a geração de renda local.
“Nos últimos quatro anos houve mais apoio aos feirantes e sua organização. Fornecemos, por meio de um projeto financiado pela Vivamos Mejor, da Suíça, bancas para exposição dos produtos e equipamentos adequados para a área de carnes. A prefeitura viabilizou a reforma do mercado e ajudamos, desde a organização do espaço à seleção de agricultores. Os atravessadores foram identificados e revendem produtos comprados na Ceasa em espaços separados dos agricultores locais”, afirmou Sueli.
O preço dos produtos varia conforme o que corre no boca a boca na feira, mas vai ficando cada vez mais flexível a negociação no decorrer do dia. Muitos feirantes destacam a importância de garantir um ponto fixo para venda, devido à grande procura de outros agricultores (as) e a referência aos consumidores. Os alimentos variam de acordo com a sazonalidade e os feirantes têm uma média de quantidade a levar para evitar o desperdício.
A agricultora Maria Aparecida Lima Pinheiro, de 51 anos, presidente da (AFeM), lembra que um projeto de construção de barragens possibilitou água para o plantio. Esse projeto foi o início de tudo. Moradora de Inácio Félix, em Minas Novas, ela conta que passou a tomar gosto e foi estimulada ainda mais quando entrou no circuito de orgânicos. Antes, sua produção era mais voltada para doces e farinhas, mas agora o forte é a venda de hortaliças.
“Com os orgânicos mudou bastante, porque levo meus produtos e não trago mais nada para casa. O mercado não era reformado. Para organizarmos a reforma participamos de muitas reuniões. Decidimos por separar as bancas (da agricultura familiar) e os atravessadores. Como levávamos muita coisa, dava pra tirar uns R$ 400,00 por feira. Mas, com a pandemia do ano passado, ficamos até sem ir à feira, só estávamos entregando pedidos feitos por telefone”, explicou.
Com o isolamento social devido à Covid-19 e a forte chuva recentemente, a produção diminuiu e o fluxo de gente na feira reduziu consideravelmente. Mas, a expectativa é que com a vacina e o fim da doença a feira volte a ficar lotada e as vendas, que atualmente estão no patamar de R$ 300, voltem ao normal com o tempo.
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