Pátio de compostagem da Sé. Foto: AMLURB.

Por Eduardo Sá / Mídia Ninja

A capital paulista é uma das cidades mais poluídas do mundo, mas algumas iniciativas estão buscando reverter ou amenizar esta situação com ações na perspectiva da sustentabilidade. A compostagem de resíduos orgânicos das feiras livres é uma delas, que com o apoio do poder público  aproveita de forma inteligente parte do lixo da cidade. Esta é mais uma iniciativa identificada pela campanha Agroecologia nos Municípios, realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

O programa Feira e Jardins Sustentáveis foi iniciado pela prefeitura de São Paulo, por meio da Autoridade Municipal de Resíduos Urbanos (AMLURB), em dezembro de 2015, visando reutilizar os resíduos das feiras e podas das plantas e árvores urbanas. Desde o início até dezembro de 2020, segundo a autarquia, deixaram de ser depositadas nos  aterros sanitários cerca de 20,1 mil toneladas de resíduos orgânicos que deram origem a, aproximadamente, 4 mil toneladas de composto orgânico de qualidade. Ao todo, são coletados resíduos de 180 feiras livres envolvidas no projeto, cerca de 17% do total do município, oferecendo um tratamento ambientalmente adequado aos restos de comidas nesses espaços.

Tudo começou nas feiras com atuação das equipes de educação ambiental das empresas de varrição, a partir de um processo pedagógico de separação do lixo em sacos da prefeitura. Após o recolhimento, esses materiais são dispostos em canteiros nos cinco pátios, onde, em aproximadamente 120 dias, os compostos ficam prontos.Os pátios têm capacidade de receber até 3 mil toneladas de resíduos por ano e processam até 600 toneladas nesse mesmo período. No ano passado, receberam 10,5 mil toneladas e produziram cerca de 2,1 mil toneladas de composto orgânico. Os resíduos são misturados com a poda de árvore picada da cidade e com palha do transporte das frutas, que são reabastecidos semanalmente nos canteiros. Após o processo de descanso, o material é peneirado antes de ser distribuído.

“Gera ganhos econômicos e ambientais significativos para o município, além de evitar o despejo de mais volume em aterros sanitários, diminuindo, assim, o deslocamento de caminhões e emissões de dióxido de carbono no meio ambiente.  O projeto também possui benefícios sociais devido ao amplo uso do composto produzido, que é distribuído gratuitamente a agricultores familiares e projetos sociais desenvolvidos por ONG´s”, informou a AMLURB, por meio da sua assessoria.  Parte do adubo orgânico  também é distribuído à população gratuitamente, cada morador pode retirar até 100 litros do composto para usar em sua casa. Outra parte é utilizada em jardins e praças públicas.   

Segundo a AMLURB, desde junho de 2019, seis consórcios, vencedores da última licitação realizada, são responsáveis pela limpeza da cidade, que consiste em varrição, limpeza de bueiro, instalação de papeleiras, entre outros serviços, incluindo a compostagem nos pátios. Cada consórcio é responsável por uma área da cidade. Em janeiro deste ano, foram pagos cerca de R$ 79.2 milhões para os seis consórcios de limpeza urbana da cidade.

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE), mais da metade dos resíduos gerados no Brasil são orgânicos, que são facilmente tratáveis, inclusive em casa, mas não chega a 1% os municípios que têm alguma política pública ou ação de compostagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/10, em conjunto com o Plano Nacional, organiza a forma com que o País lida com o lixo e traz em uma de suas diretrizes que os resíduos passíveis de reaproveitamento e reciclagem não devem mais ir para os aterros sanitários. Os resíduos orgânicos causam grandes problemas como vazamento de chorumes,  emissão de gases estufa, atração de vetores com doenças, dentre outros malefícios. No Brasil, às vezes, o lixo nem chega ao aterro, ou é destinado incorretamente nos lixões.

BOTUCATU – A organização  Ciclo Limpo, em Botucatu, no interior de São Paulo, é outro exemplo de destinação correta e sustentável de resíduos que antes iam parar nos aterros. Segundo Julio Ruffin Pinhel, consultor em resíduos sólidos e sócio-fundador da organização, a compostagem devolve a saúde ao solo, fechando um ciclo. E sua grande vantagem, acrescentou o especialista, é que não exige tecnologias caras ou maquinários para o desenvolvimento de adubo de qualidade. 

“A maioria dos municípios não tem regulamentação e metas de curto ou médio prazo para compostagem. A gente devolve parte dos compostos para os clientes, mas o excedente vendemos aos produtores locais. É um produto de altíssima qualidade com um valor altamente viável numa relação direta com os produtores, que confiam na fonte daquele produto que estão adquirindo. A agricultura urbana tem o poder de ressignificar o resíduo, e é uma educação ambiental e empoderamento da população sobre algo que precisa ser revisto e ressignificado”, destacou Pinhel.  

Edição: Viviane Brochardt

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