Por Camila Paula
Na tarde desta sexta-feira (01), ocorreu o Seminário Temático Águas e Agroecologia: o papel da agroecologia na defesa das águas como bem comum dizendo que no IV ENA “Somos terra, somos vida, somos água”, canção de João Bosco, artista popular cearense.
O seminário coordenado por Rejane Medeiros, do Centro Feminista 8 de Março e Marcha Mundial das Mulheres, trouxe discussões acerca dos conflitos do hidro e agronegócio nos territórios e a experiência de convivência com o Semiárido e de tecnologias sociais como forma fortalecer as resistências e criar alternativas em defesa das águas.
Em sua fala, Raquel Rigotto, da Associação Brasileira de Agroecologia (Abrasco), do Grupo TRAMAS e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, denunciou o Fórum Mundial das Águas, que ocorreu em março deste ano em Brasília (DF), que atuou na privatização da água e venda do aquífero Guarani para grandes empresas como Coca Cola e Nestlé.
Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), explicou: “a água com valor econômico e água com gestão compartilhada de Estado e sociedade civil é uma forma que o Estado servil do capital usa para controlar os conselhos de água, prato feito pro hidronegócio. As coisas são feitas na formalidade mas passando por cima da soberania do povo fazendo dos comitês um grande balcão de negócios”.
Cleidiane, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) fala do conflito em Correntina, na Bahia, que desde os anos 70 vem se tornando menina dos olhos do hidro e agronegócio pela grande quantidade de águas que possui no território: “mas a história é também de resistência. A entrega das nossas riquezas ao capital internacional tem se aprofundado com o golpe e assim os conflitos se intensificaram, mas quando defendemos nossos rios, estamos defendendo nosso povo e a democracia”.
Teca, do Movimento pelas serras e águas de Minas, trouxe a preocupação com a Serra da Gandarela numa luta de dez anos contra a mineração e o projeto Polo Minas da Vale. “A Serra da Gandarela é a última serra intacta do quadrilátero ferrífero que estamos chamando de quadrilátero aquífero porque de onde sai minério sai água.” A vale chama esse território de segunda Carajás e pretende “amputar nossas águas em favor da mineração”, conclui Teca.
Itacíria Medeiros, agricultora do Assentamento Monte Alegre, Upanema/RN, fala da experiência de auto organização de mulheres e de reúso de água. Ela conta que: “lá onde eu vivo água era salobra. Veio o Programa Um Milhão de cisternas (P1MC) e a gente começou a juntar água da chuva pras coisas da casa. Isso muda nossas vidas porque somos nós que vamos buscar a água. Hoje, além da cisterna pra casa eu tenho a cisterna calçadão pra poder plantar no quintal e mais uma tecnologia que nós mesmas, as mulheres, que construímos: o água viva, reúso de água.
Em 2013, o sistema que consiste na reutilização da água cinza foi construído pelo Centro Feminista 8 de Março a partir das demandas das mulheres por mais água para a produção: “A gente viu que poderíamos ter outras tecnologias sociais. As mulheres já costumam reutilizar a água, mas a partir da nossa organização, pensamos numa nova tecnologia para aproveitar melhor a água que a gente usa em casa. E por que não ser construído pelas mulheres? Construímos os tanques de reúso aproveitando o mesmo esquema das cisternas de placas. Em um grande multirão constituímos nós mesmas a nossa tecnologia”.
Com diversos apontamentos para contribuição na carta final do IV ENA, o seminário águas e agroecologia une território e defesa das águas e a capacidade de tecnologias e políticas públicas em que: “Águas para vida e não para morte!”
Edição: Catarina de Angola