Promover a educação ambiental e nutricional é o principal objetivo do Programa Cultivando saberes e sabores na alimentação escolar. A apresentação do projeto ocorreu numa das primeiras oficinas do IX Encontro Ampliado da Rede Ecovida, que foi realizado entre os dias 20 e 22 de abril em Marechal Cândido Rondon, no Paraná. O projeto faz parte do Programa Água Boa, da empresa Itaipu Binacional, e oferece oficinas de capacitação às merendeiras e nutricionistas envolvidas na merenda escolar de escolas municipais que trabalham com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na região.
Desde 2014 aproximadamente 29 municípios, com a participação de 120 mulheres, desenvolvem o projeto. Na ocasião, foi apresentado um vídeo institucional da empresa e produzidas três receitas desenvolvidas durante o curso. Cerca de 70 pessoas, em sua maioria merendeiras e nutricionistas, acompanharam a atividade. Toda a preparação é adaptada à cultura local com os alimentos e saberes da região, de modo a fortalecer a permanência das famílias no meio rural. O Programa Cultivando Água Boa acabou de receber um prêmio internacional da ONU devido ao seu cuidado com a água no mundo
A oficina contou com a participação de Maria Emília Pacheco, presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Segundo ela, graças aos elos estabelecidos entre os agricultores, escolas, nutricionistas, movimentos, técnicos e gestores é possível fortalecer a agroecologia na região. A compra de produtos orgânicos para a merenda escolar no município já atingiu mais de 44%, além do que é estabelecido pela lei (30%), o que é muito significativo na opinião de Pacheco.
“Essa conquista é uma grande novidade no país, o governo sempre concedeu facilidades de crédito para grande agricultura e é a primeira vez na história que temos programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e PNAE em que o estado assume o compromisso de comprar do agricultor. É dessa alimentação de qualidade e saudável que estamos precisando. Mas há ainda a necessidade de mudanças nas regras sanitárias para atender as características do alimento artesanal das pequenas famílias, como exemplo o suco dos frutos nativos. Precisamos pensar o direito à alimentação saudável junto ao direito ao meio ambiente e também a questão cultural”, afirmou.
De acordo com Jaciara Nogueira, presidente da Associação de Nutricionistas do Oeste do Paraná (ANUOP), hoje a lista de alimentos no município já conta com 57 produtos da agricultura familiar. Para conquistar esses avanços, ressaltou a educadora, é fundamental não ficar alheio ao processo e ser parte da construção junto às merendeiras e agricultores. “Temos que entender que essa luta é de todos nós, não começa só na lei e sim na nossa casa. Eram 29 municípios envolvidos nesse programa, tudo da agricultura familiar agroecológica e orgânica da região. São aproximadamente 120 mulheres participando do processo de formação”, disse Nogueira.
Para Rafael Heinrich, vice presidente da Associação, a alimentação é algo pensado e planejado e a autonomia e processo de consciência das crianças é fundamental. Isso deixa o trabalho da cozinheira muito mais nobre com um prato muito mais saboroso e saudável resgatando os alimentos tradicionais, acrescentou. “Vai muito além do prato colorido, mostra a importância dos alimentos orgânicos e agroecológicos. Está na moda agora a dieta dietox, com produtos com agrotóxicos, então precisamos avançar a cada dia e cada vez mais próximo aos alimentos totalmente e não parcialmente saudáveis”, afirmou.
O Programa Cultivando Água Boa, segundo João Breinack, coordenador da Itaipu, é dividido em 20 subprogramas envolvendo várias ações, inclusive a formação de cozinheiras e nutricionistas para sensibilizá-las e oferecer uma alimentação saudável às crianças e beneficiar os agricultores locais. “É uma garantia de renda para família se estabilizar no meio rural, temos que unir o campo e a cidade, que precisa entender qual o papel do agricultor. Precisamos de produtos melhores com custo menor, produtos sem agrotóxicos e com outra visão econômica e ambiental. O maior restaurante são as escolas, são mais de mil refeições servidas por dia, e a educação ambiental e nutricional criando outra mentalidade”, disse.
As merendeiras, muitas delas também agricultores, e nutricionistas foram reunidas em grupos para falar sobre suas experiências nas escolas com o PNAE. Os relatos variam desde a dificuldade do acesso às políticas públicas, ao melhor sabor do alimento para as crianças. O cardápio de acordo com a produção local, a variação diária dos pratos, as críticas aos alimentos enlatados ainda oferecidos nas merendas a nível estadual, o prazer em fazer alimentos saudáveis e da época de seus ancestrais, além da troca de experiências a partir dessa rede que vai se consolidando, foram depoimentos apresentados durante a oficina.
“A comida é significativa, porque falamos da memória, lembrança, afeto, aquilo que a gente compartilha em nossa sociabilidade, sobretudo nesse momento de tantas mudanças dos hábitos alimentares. E vale destacar a importância da escola nessa troca e compartilhamento dos sabores, saberes e cheiros. A oficina foi especial porque vimos o preparo de alimentos saudáveis com atenção aos produtos regionais, como a moranga e o inhame, e também para ver que nem todos podem consumir o mesmo alimento e é preciso levar isso em conta. E mostrar ainda o quanto é importante a participação social nessas atividades”, concluiu Maria Emília, que também é do núcleo executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Só uma dúvida. Esse trecho da matéria: “A compra de produtos orgânicos para a merenda escolar no município já atingiu mais de 44% (…)”, se refere à Marechal Cândido Rondon? Obrigado.