Lábrea (AM) – Os povos indígenas Apurinã se encontram no médio Purus, no Amazonas,região marcada pela exploração de madeira e a pecuária. Assim que o desenvolvimento foi se aproximando de seus territórios, muito da sua cultura foi se perdendo. Quem conta essa história é Marcelino Apurinã, cacique da aldeia Novo Paraíso, próxima a Lábrea (AM) e liderança na região. Durante o mutirão agroflorestal e a troca de sementes realizados pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) em seu território no início de novembro percebeu, através do contato com os Ashaninka, indígenas do Acre, a necessidade de resgatar as raízes de seu povo para prosperidade da comunidade.
Na entrevista à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) ele fala sobre a importância da pajelança para os povos indígenas, o significado e relevância das divindades das florestas, as interferências das religiões do homem branco na sua cultura, a forma de plantar das comunidades tradicionais, e as principais reivindicações dos índios na região. Para ele, é preciso valorizar os conhecimentos milenares de seus ancestrais e os governos precisam pensar políticas públicas que atendam as características dos povos envolvidos. O respeito à natureza, considerada sagrada para eles, é a principal preocupação expressa pelo cacique.
Por que vocês perderam suas culturas originais, e qual a razão dessa preocupação de resgatá-las?
Porque a cultura tradicional é nossa raiz há milhões de anos, e de repente com o encontro do desenvolvimento que não conhecíamos foi um choque muito grande para nós. A gente conhecia o bem estar na natureza, a nossa origem de convívio, e de repente o contato com certas pessoas fez com que nós esquecesse muitas das coisas que era de origem do nosso costume e trabalho. Isso tem hoje um grande prejudicamento, nós tinha um médico, aquela pessoa que olhava o nosso caminho e o redor de nós. O que tinha de bom e de ruim, e o ruim o próprio pajé afastava de nós. Dominava essa natureza da selva, dos bichos, isso era muito importante. Mas com a convivência com o homem branco e principalmente suas religiões que entraram em nossas casas, veio uma imposição na nossa vivência que nós estávamos vivendo errado e teria que encontrar Deus. Mas para mim nós viemos com Deus, ele está em nós, é a natureza, Deus é tudo ao redor de nós. Deus tava satisfeito, via nós feliz, não via nós destruindo a natureza. Deus deixava o serviço da natureza conforme as nossas necessidades, e hoje o homem não indígena explora milhares de hectares destruindo plantas e relíquias que tinham ali e serviam para curar o próprio homem. Tem coisas que já perdemos e Deus tinha deixado há milhões de épocas, cada planta dessa tem um sentido e um espírito. Nós pode receber o dom desse espírito e dominar o universo. Então, o pajé era aquela pessoa pura que buscava o que era melhor pro povo dele. Estamos tentando fazer esse resgate dessas curas. Nos últimos cinco dias pude observar na prática dos Ashaninka a importância disso, pude enxergar nas matas até uma planta maravilhosa, isso é o paraíso. O branco diz que Deus criou o mundo e o homem, então quis que o homem convivesse com a natureza. Esse é o espírito de sabedoria e de Deus, porque a planta é pura, não tem maldade, está lá só para multiplicar e fazer o bem.
E o resgate de sementes crioulas e novas formas de cultivar a terra, que vocês realizaram nesses dias?
Nós tínhamos o nosso costume na agricultura, anteontem mesmo colocamos no quadro os quatro estados da lua para produção. A gente produzia da lua nova a cheia, e para colher na lua nova e minguante porque nós conhece a ciência do estado de Deus. Porque se eu tirar a palha para cobrir a casa numa época não rende nada, e se tirar noutra vai até quatro anos. E a natureza das plantas a mesma coisa, então tudo a gente ia acompanhando a natureza. Eu ainda tenho todo esse conhecimento e faço, mas é difícil porque o povo quer levar o sistema de desenvolvimento. Tínhamos nossas próprias ciências, eu mesmo acredito que devíamos plantar aqui o que temos na nossa região. Colocar as frutas mais perto de casa para trazer as caças, temos que plantar nossa região para demonstrar ao mundo nossa riqueza. Tem a castanha de cutia, o caimbuda, cajurana, taguarí, estamos pensando em fazer viveiros para cuidar de peixes mas sem ração. Preparar um local e plantar as frutas que os peixes comem também,como a cajurana, a taguarí e a castanha do Matrinxã. Então eu espero que de agora em diante nós nos unamos para ver o que queremos na comunidade, não queremos sementes do sul não. Nós quer plantar as sementes que temos aqui.
Vocês pararam de usar a coivara (sistema de queimada) para plantar?
A história do Apurinã está mudando. Minha tia contava a história da nossa agricultura, era difícil porque a gente não tinha o machado, o teçado (facão), mas era bom. Metia fogo naquele cumaru, ele caia e ia queimando e era suficiente para uma família indígena fazer o plantio dela. Plantar o cará, a banana, a batata, taioba, abacaxi, a própria mandioca e assim por diante. Acredito que no passado a tribo Apurinã tinha pé de roça da mandioca, fazia biju, que contribuía como o mari, que é uma fruta muito rica para nós. O mari e o buriti são as plantas mais sagradas para os Apurinãs, então era assim o nosso plantio. Não era essa coisa de 10 mil hectares, e íamos pegar outras coisas noutras regiões, como o patauá. A gente fazia aqui os encontros com outros parentes indígenas, era essa maneira que a gente vivia da agricultura.Muito mais convivendo e colhendo a fruta da natureza, por isso que nós vivia mais de cem anos e não tinha doença.
Quais as principais necessidades dos Apurinã?
Na saúde não só o povo Apurinã, no Amazonas inteiro é muito difícil a questão da malária. O que está faltando é a pessoa que faz esse trabalho conviver com nós dentro da nossa comunidade para fazer o combate, porque o combate lá da rua é diferente daqui. Não dá certo, ele tem que estudar estratégias da convivência local. A saúde para nós era uma maravilha, porque o pajé era o terror com suas curas, tratava e conversava com a gente e os demônios, etc. Por isso precisamos resgatar nosso pajé, assim vai melhorar toda a vida dos Apurinã do médio Purus. Muitos pajés da região não se movem mais por causa das missas religiosas, mas a nossa cultura tem mais peso e força. A nossa cultura é a nossa igreja, Deus é a natureza, então meu povo tem que respeitar a natureza.
Além da saúde o que mais falta?
O transporte é algo que melhoraria, os ramais (vias) estão cheios de terra e lama. Essa também é uma necessidade dos outros parentes da região. A saúde do povo Deni, por exemplo, é tudo desnutrido os pequenininho e não desenvolve estatura. E os Zuruwaha não é tradição suicidar: tem uma história que eles se chamam o povo do veneno, quando houve uma certa raiva perdeu a guerra então o chefe morreu e todos quiseram se envenenar. Então isso é um trabalho para o pajé, eles têm alguns encostos ao redor da aldeia deles muito fortes que precisa ser trabalhado. E as religiões que estão lá perto deles dizem que é assim mesmo, mas se matar não é a tradição deles. Tradição é esperar a morte velhinho, não se matar com 30 ou 40 anos. Nós Apurinã também tivemos vários confrontos também, os mais velhos contavam, então temos muito a trabalhar. Se eu resgatar aqui a terra indígena Catitu vou abranger todas essas terras das populações indígenas do médio Purus.
O governo da Dilma foi bom para vocês aqui na região? O que vocês esperam dela com a reeleição?
Dilma não foi bom para nós, o governo. Porque eu acompanhei desde a década de 80 quando a gente discutia o estatuto indígena que foi jogado lá no Congresso, esse é o empate maior que temos com o governo. O nosso estatuto está dizendo o que nós quer, a nossa realidade e como devemos viver no nosso território. O governo tem que ter essa sensibilidade de respeitar a nossa cultura, nossos costumes que nem povo. Porque antes de existir Brasil já existia Apurinã, que é nascido aqui tem milhões de centenas de anos. Todos os povos do Brasil devem ser respeitados, cada caso na sua terra. Porque quando chegou o invasor dizendo que tinha descobrido o Brasil ele tinha é descobrido uma terra sagrada indígena.
A gente espera que ela olhe mais um pouco para realidade indígena, e busque fazer algo mais em desenvolvimento que venha trabalhar em cima do problema que está acontecendo com a demarcação de terras, a saúde indígena que deve ter um tratamento dentro da própria terra indígena e hoje não está tendo. Quando nós criamos esse trabalho de saúde para o médico, enfermeiro e outras necessidades vir para dentro da aldeia. Isso que é diferenciado, uma saúde diferenciada, porque quando nós saímos daqui entramos para linha do SUS (Sistema Único de Saúde) e você vê como está péssimo o atendimento de saúde Brasil afora.
(*) Mantivemos a linguagem doindígena na edição da entrevista.
Interessanteessa matéria sobra a nossa Cultura Raíz, eu defendo o Sertanejo Regionlista,onde cultivo nossos causo, e tento resgatar nossa História,defender as coisas do Sertâo, a Natureza, as rodas de Cantadô em volta de uma fogueira anoite nos campo da nossa Terra. o Som da Sanfona e do Violâo, nossas origens e Raízes,dastronomiado Sertâo