mistica assentamentoApodi (RN) – “Lutar, lutar e resistir pela Chapada do Apodi!” Esse foi o principal grito no ato de encerramento da Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi, que ocorreu na manhã do último sábado (26), no centro de Apodi (RN). Os participantes percorreram as ruas da cidade denunciando as arbitrariedades do projeto de irrigação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), que desapropriará mais de mais de 13 mil hectares de terras, onde vivem e produzem 600 famílias.

Os participantes foram em marcha até o mercado no centro da cidade, divulgando boletins informativos, spots de rádio, cantando e dialogando com a sociedade. Foi o encerramento do evento que percorreu durante quatro dias diversos municípios da região do Ceará e Rio Grande do Norte promovendo o intercâmbio da agricultura familiar de base agroecológica.

Ao microfone, Conceição Dantas, da Marcha Mundial de Mulheres, destacou que os movimentos realizaram a caravana para campesinar ainda mais a cidade e dar exemplo para outras regiões do Brasil. Segundo ela, o principal objetivo foi denunciar o que este projeto está fazendo nas comunidades. “Esse projeto vai trazer um tipo de desenvolvimento que expulsará os camponeses. Queremos uma Chapada do Apodi a serviço da humanidade e da vida. A agroecologia tem que nortear o modelo de desenvolvimento, e não deixar que essas empresas acabem com nossas vidas e nossos sonhos”, disse.

ato apodi

Representando a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Alexandre Henrique Pires, do Centro Sabiá, reforçou que o povo da região está sofrendo com a mesma lógica de desenvolvimento das hidroelétricas que expulsa os indígenas. “Viemos do Brasil inteiro em solidariedade, e esse projeto impacta não só as pessoas do campo. Envenena nossas terras e nossas águas devastando nossa cultura e o movimento agroecológico. É preciso pensar o que é a cidade viver sem alimentos”, alertou.

“Vocês perceberam a alegria e vida em cima da Chapada, que tempos atrás pertencia a grandes fazendeiros. A luta do sindicato transformou em propriedades da agricultura familiar. A reforma agrária e a agricultura familiar e camponesa com base agroecológica são o  modelo de desenvolvimento adequado”, afirmou Júnior, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Apodi.

No fundo trata-se de uma luta nacional, porque de um lado está a agricultura familiar que produz alimentos sadios e é exemplo para todo Brasil e do outro um projeto que despeja centenas de famílias sem saber se tem água suficiente para sua proposta. Essa é a avaliação de João Pedro Stédile, do MST, que defendeu a prisão para políticos corruptos.

“A região é produtora de mel, e a abelha é um termômetro para a natureza em termos ambientais. E a cada ano 400 mil brasileiros são acometidos pelo câncer produzido pelos agrotóxicos. Além disso, tem um monte de político que mama na teta do governo, parasitas que não produzem nada, só com interesse em pegar a comissão das obras desse projeto. Mas ainda dá tempo da Dilma voltar atrás, as famílias têm que ser teimosas e resistir mesmo com todas as dificuldades”, defendeu.  

Ato no maior acampamento sem terra no Brasil

mesa acampamento apodiAs cinco rotas da Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi se encontraram na tarde da última sexta-feira (25) para um ato no acampamento Edivan Pinto, em Apodi (RN), o maior do Brasil. Os trabalhadores rurais sem teto terra ocuparam o terreno em protesto às desapropriações do projeto de irrigação que está expropriando as famílias da região. Uma mística com integrantes de todos os estados do Nordeste abriu a atividade com o plantio de uma muda no centro do acampamento. Estavam presentes agricultores e agricultoras de comunidades vizinhas e movimentos sociais de diversos estados.

Na mesa de debate que deu sequência ao ato, Denis Monteiro, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), reafirmou que os movimentos do campo agroecológicos estão solidários à luta das famílias da Chapada do Apodi. São milhares de experiências em todo o país demonstrando o modelo de desenvolvimento que queremos, complementou, ressaltando a importância do apoio do estado para essas iniciativas.

“A agroecologia é uma proposta para salvar a vida, a natureza está junta com todas as lutas de emancipação da classe trabalhadora. Se faz também com enfrentamento ao agronegócio, pois é incompatível com ele. O agronegócio chega expulsando as populações, destruindo a diversidade, gerando riqueza para muito poucos e pobreza para a maioria. Se tivéssemos o apoio do Estado que o agronegócio tem, haveria mais feira, mais compras com o PAA, etc. Não queremos e nem merecemos esse título de maior consumidor de agrotóxico do mundo”, concluiu.

De acordo com João Pedro Stédile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a luta travada pelo povo naquela região é muito importante, pois mostra a força da classe trabalhadora para enfrentar o agrohidronegócio. O fato de ser o maior acampamento do Brasil, disse Stédile, pode ser um ponto decisivo para a resistência local.

“A luta da reforma agrária é a origem da força do povo. O governo quer impor sua vontade, e sua força está no exército e na polícia, como fez ao entregar o petróleo a quatro multinacionais. A força dos ricos como Henrique Alves [presidente da Câmara, da oligarquia do RN] está no dinheiro para comprar a polícia, o cartório, etc. Nós que não temos exército e dinheiro, usamos a organização, a união e nossa força está no número. Quanto mais gente mais força, e mais força mais rápido conseguimos”, explicou.

Ainda segundo Stédile, nenhuma ocupação do MST com teimosia e resistência perdeu a terra. Apesar de a Dilma não ter a coragem nem força para cancelar o projeto para a Chapada, parte do governo PSD tirou o Ministério da Integração da oligarquia do Nordeste o que pode contribuir para a luta, complementou.
“A Dilma está devendo a reforma agrária que está parada. O governo está em dívida com nós. A conjuntura começou a mudar, isso tem que nos dar ânimo para acelerar o passo aqui no Apodi. Tem mais de cem mil lotes no DNOCS não usados, falta pressão. Temos que pensar uma ação em Brasília na Secretaria da Irrigação, e lutar aqui nas obras”, propôs.

A Caravana é Agroecológica é também um momento de preparação para o III Encontro Nacional de Agroecologia, previsto para maio de 2014 em Juazeiro (BA). Mais cinco caravanas vão ocorrer no mês de novembro para fortalecer a construção desse momento e fortalecer as organizações em suas regiões.