IMG 2559Indígenas matogrossenses da etnia Negarotê/Nambiquara fizeram uma oração para dar início à Caravana Agroecológica e Cultural do Mato Grosso, em Cáceres, evento que ocorrerá até a próxima sexta-feira (01).  Cerca de cem participantes percorrerão duas rotas com o objetivo de promover intercâmbios com ênfase nas experiências agroecológicas do sudoeste e da baixada cuiabana e os olhares de outras regiões do Brasil. Agricultores familiares, agroextrativistas, lideranças de movimentos sociais do campo e organizações da sociedade integram a atividade.

 

De acordo com Lucineia Freitas, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde 2009 o Brasil assumiu o ranking mundial do consumo de agrotóxicos e o estado do Mato Grosso o ranking nacional. Ela destacou a importância do lançamento da Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, após um seminário realizado em Cuiabá (MT) com a participação de várias organizações e sindicatos.

“A média nacional de consumo de agrotóxicos é de 5,2 litros e no Mato Grosso 31 litros. Em 2012 realizamos seminários em todo o estado, e hoje a Campanha tem diversas entidades. Neste ano houve um seminário importante para constituir um comitê local na região de Colider e Alta Floresta. Fizemos uma nota técnica para apresentar ao Ministério Público para aumentar a pulverização terrestre para 300 metros de distância, e em março o governador assinou um decreto para reduzir para 90 metros. Denúncias nos mostram que além daquilo que chamam de acidente, está havendo o uso proposital de agrotóxico em conflito pela terra com a utilização da pulverização”, disse.

IMG 2560Na semana passada ocorreu o Encontro Internacional de Ecologia e Saberes, no Ceará, e foi dado o ponta pé inicial para a constituição de um dossiê latino-americano sobre os impactos dos agrotóxicos. Segundo Fran Paula, da ONG Fase- Educação e Solidariedade, que participou da atividade, o evento se uniu à Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi e visitou Limoeiro do Norte (CE), município altamente prejudicado pelos venenos.

“Nessa cidade José Maria Tomé, liderança local que denunciava o uso indiscriminado de agrotóxicos na região foi assassinado. Começaremos a caravana do Mato Grosso vendo um filme que retrata essa realidade, para fazer uma reflexão, se questionar e nos prepararmos para esses desafios e conflitos no estado. E o filme Uma nuvem de veneno, lançado em agosto, produzido pela Fiocruz junto com o Instituto de Saúde da UFMT, fala sobre o uso de agrotóxicos no Mato Grosso”, afirmou.

IMG 2562O vídeo Uma nuvem de veneno mostra as contradições do agronegócio na região. Nos 141 municípios no Mato Grosso, de acordo com o médico Wanderley Pignati, existem muitos técnicos para vigilância da saúde da soja e do boi enquanto o trabalhador e o ambiente têm uma estrutura ínfima no estado. O Mato Grosso é o maior produtor de soja, gado e consumidor dos agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes). Em sua maioria para a exportação, deixando os insumos químicos no território. Há muitas imagens de pulverização aérea na filmagem, e relatos dos agricultores e técnicos: quebra de uma cadeia da natureza que tinha equilíbrio, plantação de milho na Chapada dos Guimarães que é ponto turístico, poços artesianos contaminados em comunidades e diversos relatos de intoxicação com agrotóxicos.

Ao fim da exibição dos vídeos os participantes debateram o tema. Muitas pessoas relataram as dificuldades enfrentadas em seus territórios, como o caso de suicídios de agricultores na fumicultura no sul do país. Os indígenas relataram que até pouco tempo seus familiares viviam cento e poucos anos, enquanto hoje chegam no máximo aos 80 devido aos impactos ambientais e a falta de alimentos sadios. Uma agricultora da região sul defendeu o uso de insumos orgânicos para o combate de pragas de forma natural, destacando suas experiências bem sucedidas. A reflexão sobre o uso intensivo de agrotóxicos no estado do Mato Grosso foi mais uma vez alvo de análise dos participantes no término da abertura.