CHAPADA DO APODI, MORTE E VIDA from AGROECOLOGIA on Vimeo.
O documentário Chapada do Apodi, Morte e Vida dá continuidade ao projeto Curta Agroecologia, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), para dar visibilidade às experiências em curso no Brasil. Com um caráter de denúncia, o vídeo mostra como a Chapada do Apodi, que fica entre Ceará e o Rio Grande do Norte, foi prejudicada pelo projeto de irrigação implementado pelo Departamento Nacional de obras Contra as Secas (DNOCS) no lado cearense. A área foi ocupada por grandes empresas de fruticultura, desarticulando a produção de milhares de pequenos agricultores, e hoje um projeto semelhante ameaça 6 mil famílias no lado potiguar. A obra mostra também o lado positivo desenvolvido pela agroecologia local.
De acordo com Tiago Carvalho, diretor do documentário, apesar das adversidades a equipe ficou feliz em encontrar, tanto no Ceará quanto no Rio Grande do Norte, trabalhadores, movimentos sociais e a comunidade científica organizados para propor alternativas e resistir à implementação do perímetro irrigado nos termos que o DNOCS apresentou.
“É preciso retratar a realidade da Chapada do Apodi porque o embate de modelos de desenvolvimento que está acontecendo ali é uma questão de vida ou morte. Se nos perímetros irrigados vimos condições degradantes de trabalho, contaminação e violência, no lado da Chapada que fica no RN vimos trabalho digno, uso responsável dos recursos naturais, além de produção num volume surpreendente, se pensarmos que em 2013 houve a pior seca dos últimos 50 anos. Curioso: a estiagem não tira o sono dos agricultores familiares, que estão preparados pra conviver com ela. Mas o projeto de irrigação do DNOCS, sim”, afirmou o diretor.
Entre os dias 23 e 26 de outubro será realizada a Caravana Agrocoecológica e Cultural da Chapada do Apodi, etapa preparatória ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA). O evento vai envolver cerca de 300 pessoas do nordeste e outras regiões do país, além das populações locais, e passará por vários municípios. Seu encerramento será no acampamento Edivan Pinto, em Apodi, onde estão acampadas mais de mil famílias resistindo ao Perímetro Irrigado da Chapada. Além de um grande ato político, será um momento de mobilização das organizações locais e muitas atividades culturais.
Chapada do Apodi
A Chapada do Apodi fica entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. No fim dos anos 80 o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) implementou um projeto de irrigação no lado cearense. A área irrigada foi ocupada por cinco grandes empresas de fruticultura, desestruturando a produção de milhares de pequenos agricultores. O uso em larga escala de agrotóxicos – inclusive com pulverização aérea – contaminou os canais de irrigação que servem às lavouras e às comunidades.
Em Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas – cidades cearenses por onde se estende o perímetro irrigado – a incidência de câncer é 38% maior do que em cidades com população semelhante, mas que não estão expostas a tanto veneno. Um terço dos trabalhadores das empresas fruticultoras já sofreu intoxicação. O líder comunitário Zé Maria do Tomé, que denunciava o envenenamento da água, foi assassinado há três anos. O gerente de uma das empresas fruticultoras é acusado de ser o mandante do crime.
Em 2013 o mesmo DNOCS deu início a um projeto bastante semelhante no lado potiguar da chapada, onde vivem cerca de 6 mil agricultores familiares cuja produção orgânica de frutas, hortaliças, cereais, mel e carne caprina é uma referência nacional. O projeto do DNOCS prevê o cultivo de cacau e uva no sertão potiguar e foi elaborado sem qualquer participação das comunidades afetadas. Os agricultores familiares agroecológicos da Chapada do Apodi, contudo, estão organizados para resistir e adaptar o projeto às reais necessidades de quem vive e já produz – e muito – no semiárido brasileiro.