semi arido

 

Por Nathália D’Emery, com colaboração de Sara Brito (Centro Sabiá)

Em mais um episódio da Série Seca, o Canto do Sabiá conversou com Paulo Petersen, que é pesquisador em Agroecologia e coordenador executivo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA). Ele nos fala sobre os benefícios da agroecologia, sobre a visão acadêmica do assunto e sobre os caminhos que a agricultura familiar pode abrir no combate à fome.

Centro Sabiá – Combate à seca ou convivência com o Semiárido?

Paulo Petersen –Sem dúvida a ideia de combate à seca é uma ideia que vem servindo a determinados interesses da chamada indústria da seca. Primeiro com uma ilusão de que é possível combater a seca, de ir ao encontro de um processo natural. É um equívoco ecológico que beneficia uma minoria de grandes fazendeiros e mais recentemente as empresas. O que a agroecologia propõe é conviver com os ecossistemas; entender como a natureza funciona e harmonizar a atividade econômica aos ciclos naturais.

Centro Sabiá – Paulo, como fica a relação da agroecologia com o período de seca?

Paulo Petersen – Uma das virtudes da agroecologia é a capacidade de promover sistemas mais resilientes, ou seja, sistemas que nos momentos de chuva, sejam capazes de acumular recursos para atravessar os períodos difíceis, como água, forragem para os animais, alimentação para a família e sementes. O benefício de uma propriedade que é diversificada é o mecanismo anti-risco: nos tempos de seca, algumas atividades econômicas podem se tornar inviáveis, enquanto outras não. E uma terceira característica que é muito trabalhada pelas organizações agroecológicas é o fortalecimento de organizações sociais. É difícil você pensar o desenvolvimento da agroecologia sem organizações fortes da agricultura familiar.

Centro Sabiá – Como está a visão da academia sobre esse tema?

Paulo Petersen – Existe a crescente compreensão sobre esse conjunto de questões que estou levantando, mas infelizmente o que ainda prevalece é uma visão da agroecologia simplesmente como uma nova técnica de produção, que prescinde do uso de agrotóxicos. Essa é uma parte da questão, mas muitas vezes não se incorporam outros princípios importantes da agroecologia. Mas já se percebe um avanço significativo, inclusive com a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), que tem conseguido provocar essa discussão no sentido positivo. Não é simplesmente uma mudança do padrão técnico de produção, mas é repensar o próprio estilo do desenvolvimento rural.

Centro Sabiá – Você concorda com a afirmação de que proteger a agricultura familiar é algo fundamental para combater a fome no país?

Paulo Petersen – Sem dúvida. Inclusive eu vou até adiante, eu acho que a agroecologia em sua plenitude depende de uma base social, que é a agricultura familiar. A natureza da agricultura familiar é produzir diversificado, ela produz tanto para o mercado quanto para o consumo da família. Exatamente por produzir diversidade consegue-se, num determinado espaço de terra, produzir muito mais alimentos, com qualidade e em quantidade do que uma monocultura, que vai ter que necessariamente ser exportada daquele território para outro lugar e vão ter que importar alimentos para abastecer aquela população. Fortalecer a agricultura familiar é uma condição estrutural para resolver o problema da fome no planeta.

(*) Entrevista realizada pelo Centro Sabiá. Foto: Catarina de Angola/Acervo Centro Sabiá. Paulo Petersen é também membro da ANA.

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