A líder e promotora da proteção às sementes, Vandana Shiva, fez uma chamada em defesa da vida, liberdade das sementes e para que se forje a universidade das avós, no intuito de revalorizar a sabedoria das mulheres rurais.
A reportagem é da Associação Nacional de Produtores Ecológicos – Peru, publicada no sítio Rebelión, 07-08-2012. A tradução é do Cepat.
Num auditório cheio, na Universidade Nacional Agrária La Molina (UNALM), Vandana Shiva destacou “A Universidade das Avós” de seu país como uma estratégia para registrar os conhecimentos tradicionais e a biodiversidade comunitária. A mulher rural sabe quais são as colheitas que realmente alimentam, expressou Vandana, no marco do Encontro Nacional “Fortalecendo e empoderando lideranças da mulher rural” organizado pela Associação Nacional de Produtores Ecológicos (ANPE – Peru).
“Em todo o mundo, o desaparecimento de nossa biodiversidade e da soberania das sementes está causando uma grande crise para a agricultura e segurança alimentar. Devemos atuar antes que seja muito tarde”, expressou. As sementes deixam de ser um bem comum para se tornar matéria-prima das empresas privadas de sementes, e comercializadas no livre mercado.
Vandana questionou os indicadores atuais de desenvolvimento, e disse que dois indicadores que hoje deveriam ser levados em conta são a saúde dos ecossistemas e o bem-estar do planeta e das pessoas. “Devemos contrapor a vida frente à utilidade”, apontou.
Movimento pela liberdade das sementes
As sementes são a chave para a recuperação da agricultura. A proteção das sementes é vital para salvaguardar a vida das futuras gerações. A liberdade dos camponeses(as) para intercambiar e conservar as sementes é um dever ecológico e ético. Ela explicou a relação entre o controle das sementes e o controle da sociedade.
Neste ano, Shiva estimula o Movimento pela Liberdade das Sementes sobre a base de que as sementes são fonte da liberdade e do alimento das culturas. A campanha global pretende informar os cidadãos governos de todo o mundo sobre a atual precariedade no fornecimento de sementes e a consequente precariedade na segurança alimentar.
Dura crítica aos monocultivos e transgênicos
Os transgênicos ocasionam um grande impacto ambiental, sobretudo socioeconômico. Atualmente, existem imensas extensões de campos de soja transgênica na Argentina, Brasil e na própria Índia.
Apesar das lutas contra cinco corporações mundiais que vendem produtos transgênicos, disse se sentir envergonhada de que em seu país – a Índia – exista uma alta taxa de suicídios de agricultores de algodão, agonizados por dívidas. “95% do algodão da Índia é algodão modificado”, precisou.
Vandana destacou a contraposição que existe entre a visão ocidental com a real, a dos camponeses(as), e fez referência à clássica demanda judicial da empresa transnacional Monsanto contra os camponeses(as) que guardavam suas sementes.
Os monocultivos são possíveis pela monocultura da mente. Falou de suas lutas contra a biopirataria, contra o roubo dos conhecimentos ancestrais das pessoas e citou um caso vitorioso no México em relação ao milho.
Finalmente, Vandana Shiva chamou à solidariedade global para fazer uma mudança profunda na sociedade, onde tenhamos uma economia que seja baseada nos séculos de aprendizado do ser humano. “Não queremos produzir mais para alimentar os animais porque seus estômagos são apropriados para o capim”, apontou.
Com nossas escolhas, nós consumidores podemos modificar a indústria, o comércio, a economia. Para isto devemos reconhecer e valorizar os conhecimentos tradicionais e revalorizar a biodiversidade.
Carolina Trivelli, ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social (Midis) reconheceu que graças a Associação Nacional de Produtores Ecológicos há uma maior visibilidade das mulheres campesinas. Informou que no ano de 2013 será implementado um programa de alimentação nas escolas, baseado em insumos e preparações locais, com a finalidade de revalorizar o patrimônio alimentar regional.
Manuel Pulgar Vidal, ministro do Meio Ambiente, enfatizou a necessidade de reconhecer os ingredientes que tornam possível a gastronomia peruana, vendo para além dos pratos. Destacou que é necessário registrar os conhecimentos tradicionais e difundir essa informação. Também disse que do Ministério continuará promovendo áreas de agrobiodiversidade, sendo protegidos os cultivos nativos e os conhecimentos tradicionais.
A luta de Vandana Shiva
É oportuno recordar que Vandana, junto a outros ativistas indianos, há 25 anos fundou a “Navdanya” para proteger a diversidade das sementes, assim como os direitos dos camponeses(as) para conservar, cultivar e intercambiar livremente as sementes.
Isso é ainda mais meritório se considerarmos o novo contexto de ameaças que os acordos do “Tratado dos Direitos de Propriedade Intelectual Referente ao Comércio” (TRIPS no acrônimo inglês), criados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), supõem. Estes acordos abriram as portas para o comércio de Organismos Modificados Geneticamente (OMG), para as patentes de sementes e arrecadação de direitos à propriedade (royalties).
Buscando superar a oposição dos conservadores de sementes, as corporações introduziram as patentes e direitos de propriedade intelectual sobre as sementes, pretendendo fazer com que a conservação e a manutenção das sementes com os camponeses fossem ilegais. Assim, as sementes têm deixado de ser um bem comum para se tornar matéria-prima das empresas privadas de sementes, e comercializadas no livre mercado.
Segundo Vandana Shiva, hoje em dia a ameaça é ainda maior se levarmos em conta que, nos últimos 20 anos, há uma rápida corrosão na diversidade das sementes, assim como em sua soberania. Rapidamente, o controle sobre as sementes se concentra num número reduzido de grandes companhias.
Além disso, existe um aumento espetacular da superfície cultivada de Organismos Modificados Geneticamente (OMG) como o milho, a soja, o algodão ou a colza. As sementes patenteadas de OMG substituem e destroem a diversidade, causam um grande dano à soberania das sementes, e aos direitos dos agricultores(as) em cultivar suas sementes, conservá-las e intercambiá-las.
Em todo o mundo, o desaparecimento de nossa biodiversidade e da soberania das sementes está causando uma grande crise para a agricultura e segurança alimentar. Devemos atuar antes que seja muito tarde. As sementes são o primeiro enlace na cadeia alimentar e as depositárias da evolução da vida no futuro. E, portanto, é nosso dever e responsabilidade protegê-las para passá-las para as gerações futuras. A multiplicação de sementes e o livre intercâmbio entre campesinos(as) é a base da manutenção da biodiversidade e da segurança alimentar.