Da página do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC),

Em Sergipe, 200 militantes dos movimentos sociais do campo estão reunidos desde o dia 8 de agosto, na I Conferência Camponesa do Estado de Sergipe, no assentamento Moacir Wanderley, Nossa senhora do Socorro. O encontro, que vai até o dia 10 de agosto, reúne militantes do Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra (MST), da Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Sergipe (FETASE), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR), do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), dos Quilombolas, de associações de Pescadores e da Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida. Os participantes estão debatendo os temas da terra, do trabalho e da organização social do campesinato, preparando assim a sua participação unitária no Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas que reunirá, 50 anos depois do primeiro Congresso Camponês Nacional, os movimentos sociais do campo de todo o país. Presente na Conferência Camponesa Sergipana, João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, fez uma análise do contexto do Encontro Unitário, que acontecerá em Brasília do dia 20 ao dia 22 de agosto. Segundo Stedile, o forte avanço do agronegócio torna indispensável uma luta unida dos movimentos sociais no campo. Confira a entrevista:

Qual foi a importância histórica do I Congresso Camponês Nacional em 1961?

João Pedro Stedile – O I Congresso Camponês foi um encontro histórico. Neste período, a luta de classe estava muito intensa no Brasil e a economia estava em crise. Diante dessa crise se recolocava a necessidade de uma reforma agrária como parte de um novo projeto pelo país. Imediatamente após a posse do governo de João Goulart, todas as forças que atuavam no meio rural brasileiro, que representavam naquela época quase 70% da população brasileira, organizaram o I Congresso Camponês. O Congresso reuniu setores organizados pelo Partido Comunista, sindicatos de trabalhadores rurais, o Movimento de Agricultores Sem Terra (MASTER), organizado por Brizola e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no Sul do país, e as Ligas Camponesas no Nordeste. Aglutinou todas essas forças, inclusive setores da Igreja, que na época tinha muita influência. Deste Congresso saiu uma Carta pela reforma agrária, cuja essência era: ou o governo faz uma Lei de Reforma Agrária, ou nós faremos a reforma agrária na base da luta das massas. Daí surgiu a palavra de ordem: “A reforma agrária, na lei ou na marra”. Depois deste Congresso não houve um evento nacional que juntasse de novo todas as forças populares atuando no meio rural brasileiro.

Por que demorou 50 anos para realizar um novo Encontro reunindo os movimentos camponeses?

Vários fatores históricos tiveram influência. Primeiro, houve um golpe de Estado em 1964, que destruiu as organizações camponesas. O movimento camponês ficou quase 20 anos destruído, até 1984. Passamos os 20 anos seguidos reconstruindo as organizações do campo e o movimento sindical. Hoje, as forças do capital se unificaram entorno do agronegócio. Esse novo contexto histórico exige que a população camponesa brasileira reconstrua um processo de unidade, como forma de resistir e repautar um projeto camponês pela agricultura brasileira.

Qual é a importância do Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas que acontecerá em Brasília?

Este encontro reveste um valor histórico impressionante. Não só porque levamos 50 anos para realizá-lo, mas, sobretudo, porque se dá em uma conjuntura que exige a unidade de todas as organizações do campo. Isto não significa superar as diferenças, mas juntar a diversidade das organizações em um só programa. O nosso grande objetivo histórico é aglutinar ideias que nos permitam construir um programa alternativo pela agricultura brasileira. Um programa baseado na soberania alimentar; na necessidade da reforma agrária; na agroecologia com uma nova matriz produtiva; na recuperação da soberania do povo brasileiro sobre os recursos naturais; na necessidade de levar a educação ao campo; na necessidade de recuperar a cooperação agrícola com cooperativas e agroindústrias para aumentar a renda e criar alternativas concretas de trabalho e renda para a juventude. Eu acho que os vários movimentos que atuam no campo têm hoje a maturidade necessária para construir esse programa de forma comum. Vamos deixar de lado aquilo que nos separa, para construir uma plataforma que represente a vontade da imensa maioria do nosso povo.

Setor de Comunicação do MST-SE, 9 de agosto de 2012