A experiência da Comissão Norte Mineira de Agrobiodiversidade na articulação dos guardiões de sementes e resgate da agrobiodiversidade como estratégia de garantia da soberania alimentar e minimização dos efeitos das mudanças climáticas foi apresentada na manhã do dia 16, na Cúpula dos Povos. Com o tema “ Boas Práticas de Agricultura e o Relatório Internacional Agrário” a Conferência Internacional apresentou experiências dos países de Zimbawe, Nigéria e Brasil.
Kanni Abdoulaye da Nigéria apresentou preocupações quanto a garantia da segurança alimentar no mundo. Segundo ele, o número de famintos passou de 4 milhões para 1 bilhão de pessoas. “ A recessão econômica fez com que o preço dos alimentos aumentassem muito. De uma forma global a garantia da segurança alimentar possui limitações em todo o mundo, em função do mercado”, afirma. Abdoulaye denunciou a entrada dos transgênicos e pesticidas de empresas multinacionais em seu país, levadas pelo governo americano.
O guardião de sementes Geraldo Gomes da comunidade Barra Do Touro, município de Serranópolis de Minas, apresentou a sua experiência de resgate, uso e conservação de sementes crioulas. Geraldo conserva em sua casa sementes que foram usadas por seus antepassados. São 75 variedades de feijão, 16 variedades de milho, 20 variedades de sementes de abobora, além de adubação verde e melancia. “Estamos fazendo o trabalho de resgate das sementes crioulas, preocupados com a nossa alimentação e com a conservação delas, que estão ameaçadas com a chegada dos transgênicos no Norte de Minas. Nosso trabalho busca valorizar a agrobiodiversidade. Queremos mostrar para o mundo que podemos produzir alimento de qualidade para a humanidade”, relata Geraldo.
“A agrobiodiversidade preservada é fundamental neste contexto de mudanças climáticas, é a nossa forma de resistência frente ao avanço destes desastres. A preservação dos patrimônios ambientais aliada as práticas tradicionais de manejo da agricultura de forma ecológica, como fazem as comunidades tradicionais é uma forma eficaz de colaborar para minimizar os impactos das mudanças climáticas” relata Carlos Dayrell, pesquisador do CAA-NM (Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas). A organização apresentou no debate de boas práticas a experiência de 27 anos de trabalho junto aos agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais, no desenvolvimento de propostas de garantia da soberania e segurança alimentar. O CAA-NM e a Comissão Norte Mineira de Agrobiodiversidade formada proposta no âmbito da FAO (Organização das Nações Unidades para a Alimentação) para implantação do TIRFA (Tratado Internacional de Recursos para Alimentação e Agricultura) no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. O TIRFA foi retificado pelo Brasil em 2008 e prevê , pela primeira vez, a obrigatoriedade dos governos garantirem os direitos dos agricultores na conservação, resgate e comercialização de sementes.
Acesso a mercados sustentáveis – Outra experiência do Norte de Minas apresentada neste debate foi a de comercialização de produtos extrativistas e agroecológicos da Cooperativa Grande Sertão. Aparecido Alves de Souza , diretor presidente da Cooperativa expôs os avanços na comercialização de produtos agroecológicos com as políticas públicas de abastecimento como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). A Grande Sertão já comercializou cerca de 500 toneladas de polpas de frutas do Cerrado e da Caatinga para o mercado institucional, distribuídas em creches, hospitais, escolas e organizações sociais, beneficiando um leque de mais de 100 mil pessoas. “O PAA trás possibilidades de viabilizar a comercialização, circular os produtos no mercado local e trabalhar os produtos regionais nas escolas. Avançamos no acesso aos mercados, porém as políticas públicas precisam colaborar na logística de produção e preparo dos produtos para acessar também outros mercados”, afirma Aparecido.
A cúpula dos Povos encerra as atividades no dia 23 de junho. As recomendações tiradas de cada espaço, serão levadas para um espaço de convergência, onde as idéias serão sistematizadas e levadas para uma Plenária Geral. Um documento final será levado para a Conferência Oficial da Rio + 20, como proposta dos povos do planeta para um desenvolvimento sustentável.
(*) Matéria reproduzida da página do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA).