A agenda ambiental e a agenda indígena não são estratégicas no governo Dilma Rousseff não se inserem no projeto de Nação. A agenda governamental é reativa e subordinada aos setores conservadores como se vê no debate do Código Florestal.

 

 

Às vésperas da Rio+20, o descaso com que o governo está tratando a agenda socioambiental é prova contundente de que o país se coloca de costas para a problemática e caminha na contramão do debate mundial. Aos poucos vai se sedimentando a percepção de que o governo brasileiro, apesar da retórica quando fala dos temas do meio ambiente, não percebe, ou não quer perceber, que é um dos poucos países que poderia oferecer uma alternativa à crise civilizacional ancorada, sobretudo, na crise climática.

 

O debate nesses dias em torno da votação final das alterações no Código Florestal coloca a nu a subordinação da agenda socioambiental à agenda econômica e política. Por um lado, vê-se o modelo neodesenvolvimentista atropelando os cuidados mínimos que o país deveria ter para com a questão ambiental e, por outro, o pragmatismo a qualquer custo que, para manter o governo de coalizão, faz com que o governo ceda até mesmo no essencial.

 

No debate ambiental o governo não peca por omissão. É ainda mais grave. É conivente, negligente e leniente com o retalhamento dos temas que envolvem a agenda ambiental. O governo trata o tema como um aborrecimento que lhe cria problemas e divide a sua base de apoio político.

 

O mesmo pode-se dizer da questão indígena, especialmente do tratamento dado aos Kaiowá-Guarani, no Mato Grosso do Sul. Os indígenas encontram-se abandonados à própria sorte. A inércia do governo é estarrecedora. Não se vê nenhuma iniciativa incisiva do Executivo, e no campo do Judiciário, os indígenas sempre perdem. Assiste-se a um clima generalizado de demora, passividade, apatia e omissão quando se trata de enfrentar os fortes interesses do agronegócio na região. O deslocamento do “Estado Brasileiro” à região ocorre apenas quando acontecem mortes, e as reiteradas promessas redundam apenas em promessas.

 

Na agenda do governo, os temas prioritários são os econômicos e sociais. Os problemas ambientais e indígenas são laterais, secundários. Estorvos que vira e mexe voltam à tona e que precisam ser administrados para evitarem maiores danos à base política. Eventuais recuos do governo em relação ao atropelamento da agenda ambiental e indígena apenas se dão quando há forte pressão do movimento social e ambientalista ou devido ao mal-estar junto à comunidade internacional.

 

A agenda ambiental e a agenda indígena não são estratégicas no governo Dilma Rousseff não se inserem no projeto de Nação. Não se vê por parte do governo iniciativas ousadas nessas áreas, pelo contrário, a agenda governamental é reativa e subordinada aos setores conservadores como se vê no debate do Código Florestal que tomou conta do debate político no país nesses dias.

(*) Cesar Sanson é professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Matéria reproduzida do site da Radioagência NP.