Uma terra de propriedade particular em Mirassol D’Oeste (MT) se tornou um grande acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chamado Roseli Nunes, nome que resgata a vida de uma liderança camponesa, com mais de trezentas famílias. Além de seu belo trabalho com a produção agrícola, algumas das iniciativas com apoio do governo federal via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), tem uma experiência pioneira com o a escola estadual Madre Cristina. Dezenas de crianças recebem uma educação diferenciada, de acordo com a realidade local, com uma estrutura avançada de salas, quadras de futebol, laboratório de informática, etc.
De acordo com Miraci Pereira Silva, secretaria da Associação Regional de Produtores Agroecológicos (ARPA) e da coordenação do assentamento, onde havia uma terra concentrada na mão de uma pessoa e relatos de trabalho escravo hoje habitam trezentos e trinta e uma famílias em lotes de aproximadamente vinte cinco hectares.
“Um dos pontos mais importantes é a nossa organização para nossa produção. O espaço para vender nossos produtos e na cidade. São alimentos saudáveis, criamos a associação para a comercialização regional. Desde a época de acampamento fomos pensando na produção om zelo ao meio ambiente. Nunca tivemos a prática de usar agrotóxicos, essa preocupação está no estatuto para produzirmos alimentos saudáveis para nós e os consumidores”, disse.
O PAA começou com seis famílias, muitos desafios, e foi aumentando cada vez mais. Desenvolvem um trabalho agroecológico cercados pelo minério, o plantio da cana, a soja e a teka. O sonho das pessoas que tocam o projeto é aumentar para mais pessoas e ter um ponto fixo na cidade para vender os produtos todo o ano. Graças à associação e a escola resistem no locam e garantem a auto organização política dos agricultores.
“Criamos alternativas para não ficarmos só no PAA e PNAE para escoarmos nosso produto. Desafio de produzir com agroecologia. Nosso alimento é um remédio, traz proteínas da natureza, é um produto saudável e sem agrotóxico. Tudo é fruto de um trabalho coletivo, todos ajudaram a construir doando materiais e participando das obras. Primeiro a gente produz para subsistência e depois vende”, observou um assentado.
A ARPA tem sócios em três municípios, atende ao todo cerca de 6.700 alunos na região pelo PNAE, PAA, beneficiários do bolsa família, nove escolas estaduais e seis municipais. O caminhão da organização sai três vezes por semana lotado de alimentos. Tudo isso numa terra altamente degradada por conta da pastagem dos fazendeiros.
Segundo Maria José, diretora da escola estadual, é muito importante discutir agroecologia na expectativa da vida em meio a uma política da morte instalada. A escola foi criada com muita luta, complementou.
“Fomos bastante perseguidos, porque a educação hoje reforça muito o plano de morte, com uso de agrotóxicos, etc. Somos um contrapondo aos conteúdos, temos esse propósito, somos consumidores da alimentação agroecológica. Ousamos trabalhar a agroecologia com as crianças e os alunos, pois são eles que levam isso para a família em casa. Nossa escola foi a primeira a receber os produtos agroecológicos com o PNAE, deu certo e agora mais escolas compram”, contextualizou.
A proposta pedagógica é diferencial pois, de acordo com as pessoas envolvidas, educação vai muito além do que ler e escrever: é uma questão de consciência. Apesar das dificuldades de manter os jovens no campo e na escola, até porque o colégio só vai até o segundo ano, alguns jovens conseguiram ingressar em faculdades.
“É importante e louvável essa educação do campo e a permanência do jovem no campo. Buscamos a diversidade, o resgate das sementes crioulas, dentre outras tradições. Dialogamos com coordenadores de sala, debatemos a questão de gênero mais outros temas, e os alunos nos fazem propostas”, relatou uma professora.
Lucas Eduardo Gonçalves, sete anos, segundo ano, falou que os alunos gostam das aulas de arte para pintar e brincar com bola. “a gente faz cópia de livros, textos no computador, tem aula de matemática”, disse.
Até pouco tempo os moradores e estudantes do assentamento tinham uma rádio comunitária para atender a população local, que participava pedindo músicas, mandando cartas, etc. A ideia era realizada pelos próprios agricultores, seguindo a linguagem local. Mas queimou o transmissor e eles encerram as atividades. Tentaram regularizar com a Anatel, mas não conseguiram.