Por Renata Garcia,
O Relatório de Violência contra os Povos Indígenas, apresentado na noite de ontem, 04, na Câmara dos Vereadores de Ji-Paraná, apontou que no ano de 2012, ocorreram 60 assassinatos de indígenas no Brasil. Somente em Rondônia foram registrados cerca de cinco mil vítimas de violência contra a pessoa e o patrimônio, um suicídio e duas ameaças de morte. Na região do município de Extrema um indígena da etnia kaxarari foi assassinado.
Os dados foram apresentados por integrantes do Conselho Indigenista Missionário de RO (CIMI) e a Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná e são coletados junto a órgãos públicos que prestam assistência às comunidades indígenas, no Ministério Público, relatórios e boletins policiais e através dos relatos e denúncias dos povos e das organizações Indígenas e dos missionários e missionárias do Cimi.
A coordenadora do CIMI de Rondônia, Irmã Laura Vicuña, alerta para o fato de que estes dados representam menos de 30% do que realmente ocorre com estes povos. “A cada ano gostaria de apresentar neste relatório apenas conquistas de direitos, mas infelizmente os índices de violência e descaso com os povos indígenas apenas aumentam”, lamentou.
A pesquisa inclui ainda dados sobre conflitos de terra, violências praticadas contra o patrimônio e povos em situação de isolamento, violências por omissão do Poder Público e violências praticadas por particulares ou agentes públicos.
“A melhor forma de brigar contra a violência é denunciando. E a melhor forma de falar sobre a violência é dando nome a quem a pratica. E no Brasil, eles se chamam latifundiários. São eles que impedem o avanço e a garantia de direitos. Povos indígenas, negros e sem terra são irmãos na caminhada e na luta por justiça”, enfatizou a integrante da coordenação nacional do MST, Matilde Araújo.
Descaso Público
As violências praticadas contra os povos indígenas têm, segundo o Relatório, suas causas vinculadas, entre outras, “às disputas fundiárias, incrementadas pela omissão, morosidade do poder público frente aos conflitos e à sua postura em não demarcar as terras, não cumprindo a Constituição Federal (Art. 231)”.
Em sua fala, o cacique Helinton Gavião, lamentou o descaso do poder público junto ás demandas dos povos indígenas e ressaltou a ausência de vereadores naquele ato. “Em nossa cultura costumamos ficar em casa quando vamos receber visitas”.
A luta de um povo por sua identidade
Durante o evento, Maura Guarassunguê narrou a luta de sua família para provar que são os últimos integrantes da etnia Guarassunguê. Segundo ela, durante o processo de colonização do Território Federal de Rondônia, nos anos 70, todo o seu povo teve que fugir para a Bolívia ou se esconder nas matas. Tiveram que omitir a língua para não serem perseguidos. Hoje, com poucos sobreviventes, lutam para garantir o direito à existência e para aprender a língua que ficou apenas no conhecimento de seu pai, um idoso de mais de 80 anos. No início do século XX, havia cerca de 80 mil indígenas vivendo em Rondônia,agora restam menos de 13 mil.
(*) Fonte: Rede de Agroecologia Terra Sem Males.Foto: Francisco.