Além dos agricultores, lideranças de movimentos, técnicos, acadêmicos, dentre outros representantes da sociedade civil, os próximos organizadores das Caravanas Agroecológicas rumo ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) também participaram das atividades na zona da mata. A ideia é multiplicar esse método de mobilização e conscientização por todo o país, de modo à visibilizar a agroecologia e ampliar o debate com a sociedade.
Para a avaliação das atividades e apresentação das perspectivas em sua região, conversamos com Agnaldo Fernandes, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi, do Rio Grande do Norte. Nos próximos meses está prevista uma caravana no município, que passa por um momento difícil com a possibilidade da instalação de um mega projeto de irrigação que está ameaçando as organizações e cultivos agroecológicos locais.
Como você viu a forma de organizar a caravana na zona da mata?
Agnaldo – Faço uma avaliação extremamente positiva do evento, porque a gente conheceu várias experiências que reafirmam que a agroecologia e a agricultura familiar são um viés para o Brasil na geração e distribuição de renda. Por pessoas simples e humildes, mas que respeitam a natureza. Elas sabem muito bem produzir e respeitar o meio ambiente, diferentemente do agronegócio. Essa caravana serve para afirmar isso: a agroecologia é viável, apesar de muitos falarem o contrário tentando legitimar o agronegócio. É muito positivo vermos aqui dentro das práticas, que os agricultores através das organizações conseguem essa autonomia de gestão dos territórios gerando renda e economia solidária. Isso nos deixa maravilhado com o evento.
Como você vê o ponto de vista operacional da caravana, já na perspectiva da sua realização no Apodi?
Agnaldo – A metodologia é bastante interessante, em todas as comunidades e cidades que passamos, pensamos repetir isso que é positivo. Vamos rever algumas coisas da questão do alojamento do pessoal, mas a dinâmica da troca de saberes é válida e importante para a gente tirar como positivo e aplicar em qualquer região e território que vá sediar um encontro regional das caravanas.
Vocês já estão se reunindo e pensando nas rotas?
Agnaldo – A gente teve uma primeira reunião no mês passado, e afirmamos que a gente tem o interesse de sediar o encontro lá. A data e número de pessoas ainda não trabalhamos, e as rotas vamos também tentar mostrar a organização dos grupos que produzem agroecológicamente respeitando o manejo da caatinga: a apicultura que é um potencial muito forte, a produção de polpa de fruta, grupos artesanais, grupos de mulheres, etc. No município de Apodi tem mais de 70 associações comunitárias, então é mais para a gente estar visitando esse histórico da organização. E também confrontar com um projeto de irrigação que está sendo proposto para ser instalado lá nos modelos do agronegócio, que coloca em ameaça toda essa produção agroecológica e a autonomia dos grupos. É uma questão de modelo, de confrontar também essas idéias e mostrar que aquilo tudo está em ameaça.
Teremos algumas dificuldades para realizar a caravana lá, porque as cidades são um pouco mais distantes, como Apodi, Mossoró, Caraúbas, Governador, Felipe Guerra, que têm experiências agroecológicas bastante interessantes. Pretendemos explorar o sertão do Apodi, são locais com uma dinâmica mais complicada e vamos ver como faremos essas rotas, depende também dos recursos e apoio.