por Alan Tygel
Nos dias 7 e 8 de novembro, o Institituto Nacional do Câncer – INCA, realizou o seminário Agrotóxicos e Câncer. Estiveram presentes representantes dos Ministérios da Saúde, Desenvolvimento Agrário e Meio-Ambiente, além de instituições como a Fiocruz, Anvisa, Abrasco, CONSEA e Ministério Público. A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida também esteve presente, trazendo a contribuição da sociedade civil acerca do tema. O Ministério da Agricultura foi convidado, mas não compareceu.
Durantes os dois dias de evento, 5 mesas debateram diversos temas, buscando afirmar de forma inquestionável a relação do uso de venenos na agricultura com o aumento de casos de câncer no meio rural. Estudos epidemiológicos apresentados pelas pesquisadoras Ubirani Otero (INCA) e Neice Faria (UFPel) mostraram que as chances de um agricultor exposto aos agrotóxicos desenvolver diversos tipos de câncer é mais alta do que o normal.
Também foram apresentados estudos toxicológicos detalhando os mecanismos pelos quais as moléculas de agrotóxicos podem provocar o câncer. Segundo Ubirani Otero, agrotóxicos podem atuar como inciadores, promotores e aceleradores de mutações, e a maioria das moléculas atua das três formas. Há ainda os disruptores endócrinos, para os quais uma dose muito pequena já pode causar grandes danos à saúde.
Cláudio Noronha, coordenador-geral do INCA, disse que hoje já se sabe que 90% dos casos de câncer são relacionados ao ambiente. “Grande parte é relacionada ao tabagismo, mas outros agentes já são reconhecidos como cancerígenos.” Noronha declarou a participação do INCA na Campanha Contra os Agrotóxicos, e se comprometeu a fortalecer as pesquisas sobre o assunto. Segundo Karen Friedrich, da Fiocruz, “os agrotóxicos não são um risco, mas uma realidade. A política de desenvolvimento traz a tecnologia e também seus impactos. Há muitos interesses por trás.”
Interesses esses que ficaram claros logo na abertura do evento. O gerente-geral de toxicologia da ANVISA, Luiz Cláudio Meirelles, não compareceu à mesa de abertura para a qual estava programado. Segundo informações, o servidor denunciou um esquema de corrupção na liberação de agrotóxicos, e por isso estaria com o cargo ameaçado. Os participantes aprovaram uma nota de apoio ao gerente-geral, ressaltando sua lisura e compromisso com a saúde pública, exigindo imediata investigação do caso denunciado e sua manutenção no cargo.
A agroecologia também foi discutida
A agroecologia como modelo de produção de alimentos livre de agrotóxicos também foi abordada. Christianne Belinzoni, do MDA, ressaltou o problema da assistência técnica em agroecologia “não temos técnicos capacitados em agroecologia. É mais fácil e cômodo mandar aplicar o veneno”. Denis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia, ressaltou que a rede está há mais de 20 anos provando que é possível produzir alimentos sem agrotóxicos.
A última mesa do evento contou com a participação de entidades da sociedade civil. Cheila Bedor, da UFVSF, ressaltou que nenhuma pesquisa é neutra. “Não podemos nos basear nos resultados das pesquisas financiadas por empresas, que infelizmente são muitas.” Cheila destacou o papel da universidade em produzir conhecimento que tenha por finalidade a saúde coletiva e não o lucro das empresas.
Para Pedro Serafim, do Fórum Nacional de Combate aos Efeitos do Agrotóxicos, a participação do Ministério Público nesta campanha é fundamental. Ele citou avanços na área judicial, como o processo de propaganda enganosa movido contra a Monsanto: “Não existe uso seguro, e a culpa não é do trabalhador.”
Dr. Serafim lembrou a propaganda da Basf, indústria de agrotóxicos que vai patrocinar um enredo sobre agricultura da escola de samba Vila Isabel. Ele criticou a utilização de elementos da agricutura familiar para ressaltar o agronegócio, e finalizou: “Quem vai levar para a avenida o enredo de Paulínia?” (em referência à fábrica de agrotóxicos da Basf nesta cidade, que causou danos de saúde e meio-ambiente a mais de 1000 trabalhadores, e que custou uma multa de R$1,2 bilhão para a empresa).
Ao final do seminário, INCA, Fiocruz, Abrasco, ANA e Consea reafirmaram seu compromisso com Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos na luta por um país livre de agrotóxicos e pela agroecologia como caminho para transformação social.
(*) Matéria reproduzida da página da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.