Muitos agricultores do agreste da Paraíba se orientam pelos princípios da agroecologia e mostram a sua eficiência mesmo em condições de seca acentuada. O inverno, como os nordestinos chamam a época de chuva, está com dois meses de atraso e mesmo assim os sítios das famílias seguem produzindo alimentos com fartura, graças às tecnologias de convivência com o semi-árido. Os sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais nesta região são muito ativos, e tem prestado assessoria técnica junto com outras organizações que atuam no local. As estratégias vão desde a estocagem familiar e coletiva de sementes e de forragem para os animais, passando pelo armazenamento de água da chuva em cisternas, tanques de pedra e barragens subterrâneas.
Em Massaranduba, região de Campina Grande, o clima é seco. Lá se encontram alguns açudes, apesar da maioria destes estarem em propriedades privadas, grandes fazendas. A região vive um processo de reforma agrária, com distribuição de lotes de 3 hectares para moradia e 10 hectares para plantio. A maioria dos agricultores pratica a agricultura convencional, mas os sindicatos e organizações locais, sobretudo a AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia) e a Articulação no Seminárido paraibano, assim como o Polo Sindical do Borborema, têm dado orientações no sentido de uma produção mais sadia e sustentável.
Seu Louro, como é chamado José Lourival Domingos, agricultor de Massaranduba, trabalha junto com a família, tem um forno de farinha em sua casa e planta diversas espécies em seu quintal, desde plantas medicinais até frutos e legumes para alimentação. Apesar da seca que atingiu a região este ano, sua farinha é suficiente para alimentação da família e para a venda, e agora está desenvolvendo também o plantio de laranjas. Para ele, é como se tivesse nascido de novo com a agroecologia.
“Hoje a agroecologia para mim é tudo, porque você vê na minha propriedade de tudo um pouco, e eu acredito que falta a gente conseguir trazer mais agricultor para esse modelo. Porque é o caminho, só que tem uns cabeças duras que só acham vantagem em derrubar; plantar não. A agroecologia tem que ficar sempre replantando. Eu estou com umas árvores aqui que são muito produtivas. Tem que saber e respeitar a natureza de cada uma delas. Eliminar tudo não é agroecologia, aí está acabando com a natureza”, afirmou.
O agricultor vende bolo, tapioca, farinha, dentre outros derivados da mandioca. Ele agora está investindo na produção de frutas e hortaliças, usando a água da cisterna calçadão, e quer ampliar a participação no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Em três meses entregou 60 caixas de laranja para a merenda escolar, garantindo alimentação saudável para as crianças.
A medicina popular também é valorizada por ele, que manuseia suas plantas curandeiras de forma agroecológica. Seu Louro diz que essa diversidade, não só de plantas cultivadas mas também de variedades de uma mesma espécie, pode lhe ser útil de várias maneiras: seja na cura com as ervas medicinais, ou na alimentação sadia com o feijão macassa, do qual ele tem umas cinco variedades em sua propriedade. Segundo Seu Louro, as plantações vão sendo experimentadas até definir quais são as mais adequadas para a região.
“A gente procura a que mais se dá, vamos experimentando. Depois que eu fiz experiências com o adubo verde as coisas mudaram. Aonde eu plantar dá aqui, agora.
Para fertilizar a terra ele também explora a natureza de cada planta, utilizando a sombra e folhagem das árvores que lhe rendem mais na produção. Algumas são utilizadas para alimentação de alguns animais, que, por sua vez, também fornecem adubo, como é o caso do esterco das galinhas. As folhagens dos adubos verdes são um excelente fertilizante orgânico. Chega a ficar com 10 cm de “estrume de folha seca”, diz.
Todo esse conhecimento foi adquirido em diversas atividades de intercâmbio de conhecimentos entre os agricultores. Seu Louro destaca um seminário do qual teve oportunidade de participar em Serra Redonda, cidade vizinha. Seu Antonio Roberto, agricultor antigo, que está hoje idoso em São Paulo com a família, incentivou alguns moradores de Massaranduba a utilizar a produção de base agroecológica. A partir daí o sindicato começou a fazer mutirão todo ano, cerca de treze agricultores revezavam nos territórios para aprenderem juntos e multiplicarem as técnicas. Hoje tem mais gente fazendo agroecologia, e o sindicato continua apoiando. Por isso, Seu Louro faz questão de repassar essa história e conhecimento para as novas gerações, sobretudo da sua família.
“Eu estou vendo a coisa dando certo, todos os sindicatos devem ter a preocupação que o de Massaranduba tem. Só as cercas vivas que a gente tem feito cresceram muito, antes ninguém fazia. Hoje estou querendo ampliar minha propriedade de 3 hectares.
Seu Louro foi criado na produção artesanal de farinha, sempre com um forno em sua casa, com máquinas muito antigas. Seu pai levava em costa de burro a farinha da tapioca e outros produtos, por quilômetros, até Campina Grande. Nessa época Massaranduba era só um povoado. Até que foi implantada uma feirinha que acontece aos sábados, e é lá que ele escoa até hoje sua produção agroecológica. Crítico feroz da utilização de venenos, ele lembra que até a produção animal não escapou do modelo agroquímico.
“No tempo de meu pai o animal, a galinha, o porco, o bode, tomava um medicamento dos pés de árvore, era uma tal de cabacinha, tem na feirinha de Campina. E a tal da babata de purga, até dava para o porco também, que é bom para matar verme. Você só não podia se perder na dose, mas isso a gente tinha noção da medida certa. A gente se criava saudável e os nossos animais também”, afirmou.
Veja o vídeo com o Seu Louro, produzido pela ANA.
Transição: Experiências agroecológicas na Paraíba from AGROECOLOGIA on Vimeo.