Foto: Comunicação Social/PF

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) se solidariza com o povo Ava-Guarani do Paraná em relação ao cruel assassinato do indígena Everton Rodrigues, de 21 anos, encontrado decapitado no dia 12 de julho em meio a um milharal no município de Guairá, oeste do estado, próximo à fronteira com o Paraguai.

Em março deste ano, outro assassinato chocou a comunidade. No dia 22 foi encontrado o corpo de Marcelo Ortiz, de 33 anos, também decapitado. Esses não são casos isolados. Desde 2024 os Ava-Guarani da Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá denunciam que vêm sendo alvo de violência e xenofobia.

A TI Guasu Guavirá se estende por dois municípios, Guaíra e Terra Roxa, e abarca um território de 24 mil hectares no qual estão sobrepostas 165 fazendas. A identificação e delimitação do território foram feitas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em 2018. A demarcação, entretanto, está parada por causa de ações movidas pelas prefeituras de Guaíra e Terra Roxa e aceitas pela Justiça Federal em primeira instância. O julgamento do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é fundamental para o andamento do processo.

Os Ava-Guarani sempre habitaram essas terras, muito antes que as fronteiras do Brasil fossem traçadas. Seus cantos, seus caminhos e sua história estão gravados nos rios, na terra e nas matas desta região, que para eles é o Tekoha, “o lugar onde se é”. A violência que hoje os atinge não é apenas uma agressão contra pessoas, mas um ataque à memória viva de um povo que resiste há séculos ao despojo. 

A demarcação de suas terras não é uma concessão do Estado, é o reconhecimento tardio de um direito ancestral. Os Avá-Guarani são guardiões de saberes milenares, cultivadores da biodiversidade e tecelões de uma resistência que atravessa gerações. Sua luta não é apenas pela terra, mas pela perpetuação de um modo de vida em harmonia com a natureza, onde cada planta, cada animal e cada espírito tem seu lugar sagrado.

A violência que enfrentam hoje é mais um capítulo em uma história marcada por invasões e opressão, resultantes do descaso e omissão do Estado brasileiro na demarcação da terra indígena, reivindicada há décadas pelos Avá-Guarani. De acordo com Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), 19 lideranças desse povo indígena estão sob proteção, integrando o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH).

A vulnerabilidade dos povos indígenas é comprovada pelo Mapa da Violência 2025, divulgado no começo deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo o estudo, que traz dados da série histórica 2013-2023, os homicídios de indígenas subiram 10,7% em 2023 comparados com o ano anterior, o equivalente a 227 assassinatos. Entre as principais causas estão disputa territorial e feminicídio.

Também em relação ao suicídio, a taxa entre os indígenas é maior que a nacional. As causas, de acordo com o Mapa da Violência, podem estar relacionadas às tensões territoriais por falta de demarcação, desigualdade social, discriminação, acesso precário à saúde e à violência.

Está claro, portanto, que os assassinatos bárbaros e as agressões enfrentadas pelo povo Avá-Guarani no oeste do Paraná fazem parte de um cenário de enorme vulnerabilidade, descaso e violências diversas a que estão expostos os indígenas brasileiros.

A ANA repudia veementemente tamanha crueldade e cobra das autoridades competentes a apuração dos assassinatos e das ameaças que vêm sofrendo os Avá-Guarani e a devida punição legal dos criminosos.

Julho de 2025

Articulação Nacional de Agroecologia