
Entre os dias 3 e 5 de maio de 2025, Brasília-DF foi sede de um encontro estratégico para o futuro da agricultura familiar no contexto da crise climática: a Pré-COP30 da Agricultura Familiar, convocada pelo Fórum Rural Mundial (FRM), com o apoio do programa Forest and Farm Facility. A conferência reuniu representantes de organizações da agricultura familiar de diversos países, formuladores de políticas públicas, especialistas técnicos, membros da sociedade civil, jovens e mulheres rurais. O objetivo foi preparar propostas e mensagens-chave que serão levadas à 30ª Conferência das Partes da UNFCCC (COP30), que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
A agricultura familiar está entre os setores mais impactados pelas mudanças climáticas, mas também é essencial para a construção de soluções sustentáveis. “Se de fato queremos falar em transição energética justa, temos que levar muito mais a sério a agricultura familiar, pelo seu potencial de conjugar produção de alimentos em quantidade, qualidade, diversidade e de evitar emissões de gases de efeito estufa”, disse Paulo Petersen, integrante do núcleo executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e indicado pelo governo brasileiro como enviado especial da Agricultura Familiar para a COP 30. ( LEIA AQUI O PRONUNCIAMENTO DE PAULO PETERSEN NA ÍNTEGRA)
“Mas esse tipo de economia só tem possibilidade de se multiplicar e se consolidar no nível micro se estiver integrado territorialmente em sistemas de distribuição e abastecimento alimentar, aproximando a produção do consumo”, acrescentou.
Segundo Petersen, “o contexto de realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil é uma excepcional oportunidade para posicionar a agricultura familiar na agenda política internacional como ator determinante na reestruturação dos sistemas agroalimentares, responsáveis por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa e por aproximadamente dois terços das emissões no Brasil.” Para ele, posicionar a agricultura familiar na agenda internacional significa dar visibilidade e tirar partido de suas peculiaridades e vocações econômicas somente desenvolvidas na escala micro, o que implica a necessidade de descentralização e democratização dos sistemas de governança sobre os sistemas agroalimentares. “Em termos concretos, significa incorporar estratégias agroecológicas para o fortalecimento da agricultura familiar visando à territorialização dos sistemas agroalimentares nos Planos Nacionais de Adaptação e de Mitigação, bem como nas metas estabelecidas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”, concluiu.
Paulo Petersen é mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Universidad Internacional de Andaluzia e doutor em Estudos Ambientais pela Universidad Pablo de Olavide, ambas na Espanha. Com mais de 30 anos de atuação no movimento agroecológico, atualmente é coordenador-executivo da ONG AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia; membro do Núcleo Executivo e do Grupo de Trabalho sobre Justiça Climática, ambos da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA); associado da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia); e editor da revista Agriculturas: experiências em agroecologia.
A Pré-COP30 destacou o papel estratégico do setor na promoção da segurança alimentar, da resiliência dos territórios rurais e da transição ecológica justa. Os principais objetivos da conferência, segundo a organização do evento, foram: elaborar propostas de políticas públicas para influenciar as negociações da COP30 e articular com a Agenda de Ação Brasileira; ampliar a inclusão da agricultura familiar nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e em outras políticas climáticas; construir caminhos concretos para garantir acesso a financiamento climático por parte dos agricultores familiares; estimular parcerias estratégicas com governos, instituições de pesquisa e cooperação internacional; e promover o intercâmbio de experiências sobre práticas agrícolas resilientes ao clima.
O evento reforçou a importância de colocar a agricultura familiar no centro das decisões políticas e ambientais, em consonância com a Década da Agricultura Familiar da ONU (2019-2028). As vozes dos territórios rurais foram ouvidas, e a expectativa é que os encaminhamentos da Pré-COP 30 tenham impacto direto nas negociações internacionais sobre clima e no fortalecimento da agricultura como parte da solução.
Paralelo à COP 30, está sendo organizada a Cúpula dos Povos, um evento internacional construído por mais de 400 movimentos sociais populares e organizações da sociedade civil. O processo de construção desta edição da Cúpula dos Povos começou durante a 28ª Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP), nos Emirados Árabes, em Dubai. Na oportunidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu da delegação brasileira a Carta da construção da Cúpula dos Povos rumo à COP30.
LEIA AQUI O PRONUNCIAMENTO DE PAULO PETERSEN NA ÍNTEGRA:


