Após três dias de debates, a Plenária Anual da Articulação Nacional de Agroecologia deu os primeiros passos para a realização do 5º Encontro Nacional de Agroecologia, que será realizado no primeiro semestre de 2026, na cidade de Foz do Iguaçu, Paraná.
A preparação do ENA será um processo de mobilização, formação e construção de conhecimento, com a intenção de fortalecer a agroecologia, pautada pela ancestralidade e projetada para o futuro. Começa agora uma etapa de criação e organização, com o desafio de confrontar as barreiras que se impõem à superação do sistema alimentar vigente. Afinal, como disse Paulo Petersen, integrante do Núcleo Executivo, no encerramento da Plenária, “para transformar, é preciso encantar”.
A ANA tem uma história de realização de grandes encontros desde 2002 e muitas lições para ajudar nessa jornada. O último ENA foi realizado em Belo Horizonte, há sete anos e o desafio de renovar estratégias de construção e comunicação é grande.
A Rede Ecovida, que articula organizações e mais de 5 mil agricultoras/es certificadas/os Rio Grande do Sul e sul de São Paulo, receberá o ENA na cidade de Foz do Iguaçu, contando com o apoio de comissões nacionais, que serão formadas a partir de agora. “Foz do Iguaçu reúne uma particularidade interessante nas relações territoriais. Temos uma relação muito positiva com o MAELA (Movimento Agroecológico da América Latina e Caribe)”, afirmou Jhony Alex Luchmann, integrante da Fundação Luterana de Diaconia.

A Plenária Nacional da ANA, realizada de 25 a 28 de março na cidade do Rio de Janeiro/RJ, contou com a participação de aproximadamente 100 representantes de redes, movimentos e organizações agroecológicas de todo o Brasil que se reuniram para planejar as ações da ANA para os próximos dois anos e, em especial, para construir o V Encontro Nacional de Agroecologia (ENA).
A programação teve vários momentos dedicados ao resgate de lembranças, grandes momentos políticos e memórias coletivas, mas também reafirmou o caráter da organização e do próximo ENA. “É papel do movimento agroecológico reafirmar nossa atuação no plano político, que se afirma feminista e antirracista, e potencializar o diálogo com os jovens”, disse Luisa Carolina, integrante do GT Mulheres.
Uma lembrança fundamental da trajetória construída ao longo dos ENAs, ressaltada por Maria Emília Pacheco, do Núcleo Executivo da ANA, foi o crescimento da pauta da agroecologia, desde o primeiro ENA, em 2002. A luta contra agrotóxicos e transgênicos evoluiu também para a luta dos povos indígenas e comunidades tradicionais, das mulheres, das juventudes, e pela defesa da biodiversidade, da justiça climática e da comida de verdade. “Entre o segundo e o terceiro ENA nós vimos a importância de articular a perspectiva política de promoção da agroecologia com saúde, justiça ambiental, soberania alimentar, economia solidária e feminismo, que vão reconstruindo a própria concepção de agroecologia”, recordou Maria Emília Pacheco.
Segundo Pacheco, “de todos os temas, o tema direito à terra e território se expandiu com o debate da água e da agricultura urbana, no III ENA. Assim como o tema das mudanças climáticas, que também foi incluído na pauta do encontro Diálogos e Convergências, e seguiu sendo aprofundado na quarta edição do ENA.”
Não à toa, o debate das mudanças climáticas atravessou toda a programação da Plenária. Todos os Grupos de Trabalho (GT) da ANA (Coletiva de Comunicação e Cultura, Coletivo Nacional de Agricultura Urbana, Juventudes, Povos Indígenas, Construção de Conhecimento, Mulheres e Justiça Climática) apresentaram análises dos impactos das mudanças climáticas em suas áreas, assim como os desafios que encontram nos territórios e estratégias para lidar com as adversidades.
Além da percepção de que, de maneira geral, as violências contra os grupos sociais que praticam agroecologia têm aumentado e se diferenciado, como identificou o GT Mulheres, há outro tema apontado pela maioria dos grupos: as falsas soluções apresentadas pelo capitalismo.
Desde a criação das COPs, na Eco 92, as falsas soluções avançaram com força nos territórios. Para Letícia Tura, integrante da ONG Fase e do GT Justiça Climática da ANA, esse é o principal resultado das COPs até agora. “Com diferentes práticas, como mercados de carbono, títulos verdes da dívida, abordagens diversas de compensação e novas tecnologias, houve o fortalecimento do setor empresarial, que se transformou em sujeito das soluções, seguindo a lógica de mudar para que nada mude”, explica.
Na COP-30 que se aproxima, após 10 anos do Acordo de Paris e vigência do Protocolo do Kyoto, os desafios dos países integrantes será renovar suas metas, com compromissos mais ambiciosos. Já para o campo agroecológico, que estará presente no evento, principalmente na Cúpula dos Povos, “os principais desafios serão enfrentar e construir resistência às falsas soluções. As negociações climáticas têm que reconhecer o papel da agroecologia”, afirma Fábio Pacheco, integrante da Associação Agroecológica Tijupá e da ANA Amazônia.