Representantes de cinco instituições do Sertão do Araripe, em Pernambuco, participaram da oficina de Educomunicação, realizada entre os dias 13 e 15 de fevereiro, no espaço de formações do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas – Caatinga no município Ouricuri-PE. O encontro foi o último de quatro módulos que, além de educomunicação, debateram o clima e água no Semiárido, geração de renda e saneamento rural.
O debate realizado durante a última oficina teve como base o direito humano à comunicação e a disseminação de conhecimentos apropriados à nossa realidade. “A gente aqui aprende o que a gente não aprende nas escolas, que não oferecem uma educação contextualizada”, compara Gildevan do Nascimento, um dos representantes do Fórum de juventude do Araripe. Segundo o jovem participante, a escola e os meios de comunicação geralmente ensinam que não é viável viver no Semiárido. Na visão de Gildevan, os espaços de formação populares estão do lado oposto e provam que é possível viver bem na região.
Um dos objetivos da oficina é de proporcionar ao grupo um leque de ferramentas que podem auxiliar no compartilhamento de informações sobre os temas discutidos nos quatro módulos. Gildevan diz que é “de extrema importância participar desses momentos de formação, para que possa compartilhar o conhecimento com outras juventudes”.
Para Gisele Ramos, colaboradora do Irpaa e uma das facilitadoras da oficina de educomunicação, a formação foi um “espaço para debater o direito à comunicação”, que precisa ser entendido como um direito fundamental, assim como o acesso à terra, a água e a educação contextualizada. “E não é só de receber informação de qualidade, mas produzir conteúdo que valorize o conhecimento, o saber, a cultura local”, complementa.
Gisele avalia que há pouco espaço para a Convivência com o Semiárido na mídia. Por isso é importante investir na construção de novas narrativas e canais, onde a prioridade seja o conhecimento popular, algo que as/os participantes parecem ter entendido bem. “Um momento muito importante e rico da nossa formação foi escutar dos participantes como eles estão fazendo esse processo de multiplicação do conhecimento, como estão colocando a pauta da Convivência com o Semiárido nos espaços que ocupam”, destaca Gisele. Segundo a oficineira, uma das intenções com esse processo formativo é justamente “sensibilizar, despertar novas pessoas para olhar e defender a Convivência com o Semiárido”.
Para alcançar mais pessoas uma das estratégia adotadas foi a educomunicação, “pensar como usar essas linguagens da comunicação nas ações de multiplicação do conhecimento”, detalha Gisele. Ela revela ter percebido que “durante os debates e com as atividades práticas, as/os participantes já expressavam como desenvolver ações educomunicativas nas comunidades”.
Antônia Araújo é um exemplo que ilustra a percepção de Gisele. Moradora do Povoado Jacaré, em Ouricuri, Antônia conta que pretende fazer um cinema popular na comunidade para “mostrar num vídeo como o veneno está na nossa mesa, para que possam refletir”. De acordo com a participante, em sua comunidade o uso de veneno é altíssimo. Essa pauta foi evidenciada pela agricultora durante o programa de rádio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ouricuri, durante a visita de campo, uma das atividades da formação.
Unidas/os pela Convivência com o Semiárido
A ação conjunta na defesa da Convivência com o Semiárido, envolvendo Ogns, Sindicatos, coletivos de mulheres e de jovens, é vista com bons olhos por Sebastião Rodrigues, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ouricuri. Segundo o representante sindical, a Convivência com o Semiárido, que está no Plano de Desenvolvimento da instituição, ganhará mais destaque a partir desse ciclo de formações.
Sebastião revela que para fazer o conhecimento chegar a mais pessoas, já está em planejamento a realização de “um grande seminário com diretores, delegados sindicais, presidentes de associações e a sociedade em geral”. Segundo o dirigente sindical, o evento deverá contar com a parceria de instituições como o Caatinga e o Irpaa. Outros participantes apontaram, dentre outras atividades, dias de campo, rodas de diálogos e palestras, que já estão acontecendo ou estão em fase de planejamento.
As formações realizadas em Pernambuco também estão acontecendo na Bahia, Alagoas, Sergipe e Piauí e fazem parte das ações do projeto executado pelo Irpaa, com apoio da Cáritas Alemã, que trabalha a proposta da Convivência com o Semiárido e Adaptação às Mudanças Climáticas.
Texto e fotos: Comunicação Irpaa