Dia de luta com mais de 7 mil pessoas em oito cidades do estado marcou um mês do crime de Brumadinho (MG)

Milhares de pessoas se solidarizam com as vítimas de Brumadinho e denunciam o risco de contaminação do rio São Francisco - Créditos: Fotos: Brigada Popular em defesa do São Francisco

Milhares de pessoas se solidarizam com as vítimas de Brumadinho e denunciam o risco de contaminação do rio São Francisco / Fotos: Brigada Popular em defesa do São Francisco

Atos em solidariedade às vítimas do crime de Brumadinho (MG) aconteceram em oito cidades da Bahia nesta segunda-feira (25) e marcaram um mês do rompimento da Barragem da Mina do Córrego do Feijão. Segundo dados oficiais, já são 179 vítimas fatais identificadas e 131 pessoas sem contato ou desaparecidas, entre trabalhadores e moradores da região.

:: Acompanhe as repercussões do crime socioambiental em Brumadinho (MG) ::

Organizados pela Via Campesina, Frente Brasil Popular, pastorais sociais, sindicatos, organizações ecumênicas e inter-religiosas, os atos levaram mais de 7 mil pessoas às ruas em todo o estado. As mobilizações também tiveram como mote a defesa do rio São Francisco, diante da iminente contaminação de suas águas do pelos metais pesados contidos nos rejeitos da barragem.

Em Bom Jesus da Lapa, 2,5 mil pessoas se concentraram desde as sete da manhã e marcharam da Barrinha até a gruta do Bom Jesus. Em Juazeiro, os 3 mil manifestantes saíram da Praça Dedé Caxias até o Vaporzinho. Já em Paulo Afonso, 500 pessoas saíram da Praça das Mangueiras até a Tribuna Livre. Ainda aconteceram atos parados em Barra, Jacobina, Guanambi e durante a noite ocorrerá em Catetité, na Câmara de Vereadores.

Em Salvador, um ato inter-religioso com cerca de 150 pessoas foi realizado durante a manhã, no Campo da Pólvora, em frente ao Fórum Ruy Barbosa, e contou com a presença da família de uma das vítimas.

Segundo Moisés Borges, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), o impacto do crime é grande não só pelo grande número de vítimas fatais, 300, e pelo impacto social e ambiental no curso do rio Paraopeba, mas também pela extensão das consequências no São Francisco e nas populações que dependem dele. “No caso de rompimento de barragens, esse é o segundo maior assassinato que tivemos no mundo, só perde para um acontecido em 1960 na Bulgária. Além disso, todo o rio Paraopeba está morto. Esse rejeito vai chegar até o rio São Francisco em alguns dias, cheio de metais pesados. O São Francisco está em risco diante desses metais tóxicos e a gente cobra do Estado pra que ele cuide e se anteceda à esse procedimento”, ressalta.

Moisés chama atenção ainda para o sofrimento as famílias dos trabalhadores atingidos pelo rompimento da barragem. “Para se ter uma ideia, os familiares baianos que moram aqui em Salvador não são reconhecidos pela Vale como atingidos. Eles só estão reconhecendo como atingidos quem vive lá em Brumadinho, o que é um grande absurdo. Porque há uma dependência financeira de alguns familiares dos que lá viviam. Nós temos no estado da Bahia no mínimo 7 vítimas fatais, e hoje vamos nos solidarizar com os familiares e denúncia do que pode acontecer ao rio São Francisco”, conclui.

Graziela Coutinho, irmã de Tiago Coutinho, soteropolitano e uma das vítimas fatais do crime, afirma que o impacto em sua família foi muito grande. Para ela, é importante mobilizar e denunciar o que aconteceu. “Nós temos que nos unir contra os gananciosos, porque eles querem ganhar, ganhar e tirar a vida daqueles que estão ali para ganhar o pão de cada dia, como meu irmão. Ele estava ali para poder ajudar a família dele, foi para construir uma vida melhor lá e acabou que perdeu a vida com a ganância da Vale”, comenta Graziela.

“Se nós não fizermos nada parece que nós estamos acomodados e tranquilos que nada aconteceu. E nós sabemos a gravidade do que aconteceu. É um crime que deve ser investigado profundamente, que deve ser levado à juízo, e os culpados devem ser condenados para que se possa fazer justiça”, ressalta o Padre José Carlos Santos Silva, membro da Ação Social Arquidiocesana.

Para ele, a população tem que tomar consciência de que as ruas, as praças são espaços de protesto, de reivindicações, de luta pela garantia dos direitos e principalmente do direito à vida. “Todos nós temos o dever de lutar para que a justiça se estabeleça. Para que todos possam ser realmente tratados igualmente perante a lei e não somente o jovem da periferia que deve ficar sob a bota da justiça ou da polícia. Mas também os grandes empresários que realmente não sofrem nada”, finaliza.

Edição: Daniel Giovanaz