Um povo que não se esconde, que sabe qual é o seu lugar na busca por um pedaço de chão pra plantar.
Ao longo de 35 anos muito se fez, trabalhou, resistiu e conquistou. Assim foi escrita a história do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Milhares de pessoas, juntas, caminhando em uma só direção, lutando pela Reforma Agrária e por justiça social. Um povo que não se esconde, que sabe qual é o seu lugar na busca por um pedaço de chão pra plantar.
Assim é a história de Isaías Vedovatto que tinha 22 anos quando cortou a cerca da Fazenda Annoni, em Sarandi (RS), na madrugada de 29 de outubro de 1985. Ele foi o primeiro dos 7,5 mil camponeses, de mais de 30 cidades gaúchas, a pisar naquela terra. O tempo passou e hoje, ele e uma dezena de outros assentados do Rio Grande do Sul, viram o MST se tornar o maior produtor de arroz orgânico da América Latina.
“Desde que vim para cá nunca botei veneno ou adubo químico na lavoura. Hoje os meus filhos também trabalham com orgânicos e produzem arroz. Esta é a maior alegria que eu tenho, porque estamos protegendo a nossa saúde e cuidando do meio ambiente”, conta Adão Pietroski, 66 anos, que atualmente cultiva 10 hectares de arroz em seu lote.
Pietroski também faz parte das 501 famílias do MST que produzem arroz orgânico em 21 assentamentos e em 16 municípios gaúchos. A estimativa para a safra 2017-2018 é colher cerca de 24 mil toneladas. O grão é produzido em 5.513 hectares, sendo 1600 no Assentamento Filhos de Sepé, onde mais da metade das 376 famílias que lá vivem produzem o alimento. Os assentados ainda cultivam parte de suas próprias sementes de arroz, em 40 hectares nos municípios de Viamão, Eldorado do Sul e Guaíba.
Para o camponês Osmar Moura, 39 anos, também assentado em Viamão, a organização das famílias que produzem tanto a semente quando o grão se dá por meio do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, uma iniciativa do MST para potencializar a produção de forma saudável e sustentável.
“Fazer parte dessa organização coletiva é muito importante. Quando nós fomos acampar, tínhamos o objetivo de conquistar um pedaço de terra para produzir. Mas nunca imaginamos que chegaríamos a esta altura, de produzir um arroz orgânico de tanta qualidade”, relata Moura, que produz o alimento em seu lote desde o início dos anos 2000.
Além da produção, a educação é mais uma bandeira levantada pelo MST. O esforço e a batalha pela escolas no campo já dão seus frutos. É o caso da Julia Kaiane Prates da Silva, de 18 anos, assentada do MST que chegou à final da 10ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB).
Nascida e criada no assentamento de São Virgílio, na cidade de Herval (RS), onde sua família vive há 12 anos produzindo milho, soja e feijão, Julia conta que cursou todo o Ensino Fundamental em uma escola rural instalada dentro do assentamento.
Outros exemplos de como o acesso à educação no campo é fundamental para o avanço da formação em nossos espaços vêm do Piauí. São as escolas Amadeus Carvalho, que fica no assentamento Marrecas, em São João do Piauí, e a escola Sabino Bernardo, localizada no assentamento Palmares, município de Luzilândia. Ambas obtiveram em 2018 nota máxima no Índice de Desenvolvimento na Educação Básica (IDEB).
O IDEB foi criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Segundo informações do portal do Ministério da Educação (MEC), o mesmo funciona como um indicador nacional que possibilita o monitoramento da qualidade da educação pela população, por meio de dados concretos, com o qual a sociedade pode se mobilizar em busca de melhorias.
Ele é calculado a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo INEP. Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente. Logo, as metas estabelecidas pelo IDEB são diferenciadas para cada escola e rede de ensino.
Depois de mais de três décadas, muitas foram as vidas transformadas. Histórias que vão muito além da ocupação, como as de seu Sebastião Lopes, conhecido como ‘Sabá’, camponês de 62 anos, morador do assentamento João Batista em Castanhal, nordeste do Pará. Seu Sabá, que é do setor de produção do MST, criou junto com a família criou o SAPO (Sistema Agroecológico de Produção Orgânica) que é uma experiência valorosa de trabalho coletivo.
Hoje o SAPO é exemplo de experiência e vivência agroecológica na região amazônica. Uma alternativa frente ao modelo imposto para o campo, o SAPO faz parte dos coletivos de resistência camponesa da regional cabana do MST.
Mas, nem só de bons momentos é feita é uma história de luta e resistência. Algumas vezes choramos nossos mortos, noutras recolhemos o pouco e seguimos. A ameaça pode ser constante, a incerteza vem rasteira, mas a esperança resiste, e ela é personificada em pessoas como a Dona Ana, moradora do acampamento Pátria Livre, ela é uma das atingidas pelo rompimento da mineradora da Vale, em Brumadinho.
A Dona Ana, que logo entendeu que seu papel no Movimento era cuidar do outro, tem aproximadamente 50 espécies plantadas no quintal de casa. “O meu objetivo aqui é cuidar das plantas medicinais, para ajudar o pessoal no tratamento, aliviar o bolso e a dor de cada um”, conta uma preocupada e doce senhora que teme pela sua plantação já que o rio Paraopeba está morto, contaminado por rejeitos de minério.
São tantas as coisas que você precisa saber sobre o MST que fica difícil de contar. Muitos são os mitos e mentiras espalhadas não nos cabe aperrear. De nossa parte prometemos, seguiremos com força e garra nossa história e nossa luta que é diária.