Fotos: Eduardo Rodrigues/SASOP

Reconhecer e valorizar boas práticas de sistemas agrícolas tradicionais que promovem a conservação da agrobiodiversidade e dos bens naturais e culturais foi o objetivo do Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais. A iniciativa do BNDES conta com a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/MAPA), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MinC) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). Os primeiros cinco colocados receberão o valor bruto de R$ 70 mil e os demais R$ 50 mil. Foram inscritas 58 instituições da sociedade civil, localizadas em diversas regiões brasileiras.

A cerimônia de premiação aconteceu no dia 18 de junho, com a participação das 15 experiências vencedoras, entre elas a experiência da União das Associações de Fundo de Pasto do município de Casa Nova/BA (UNASFP). A União, que hoje possui cerca de mil famílias associadas, foi fundada em 1999 pela necessidade de organizar as comunidades e suas associações de fundos de pasto na luta por direitos e por seus territórios.

Para Rosangela Ferreira dos Santos, da coordenação da UNASFP, o prêmio é importante para porque agrega várias comunidades e outras instituições que vivem esse sistema agrícola tradicional e mostra a luta em defesa do território não é em vão. “Para a nossa entidade é uma honra receber um prêmio que vai fortalecer mais ainda a nossa organização. Para a nossa comunidade, mostra a importância das nossas lutas na permanência em nosso território, a união das pessoas e a permanência dos jovens. Esse prêmio vai ajudar bastante as comunidades que a UNASFP acompanha”, comemora Rosângela, que também faz parte da  Associação de Fundo de Pasto de Riacho Grande, comunidade que integra o território de Fundo de Pasto de Areia Grande.

Nas comunidades de fundo de pasto existem duas dinâmicas quanto ao uso da terra. A primeira está relacionada ao espaço individual das famílias e a segunda diz respeito às áreas coletivas, chamadas de fundos e fechos de pastos. São extensas áreas, que apresentam grande diversidade de espécies da caatinga e são utilizadas para pastoreios de caprinos, ovinos, equinos, bovinos e suínos, além de também serem base de sustentação para abelhas nativas e exóticas na produção de mel.

As famílias das comunidades de fundo de pasto possuem sólidas relações sociais entre si, tendo em vista a origem comum dos povos que primeiro habitaram a região. São marcantes as relações de parentesco e compadril dentro das comunidades, fato que durante as últimas décadas possibilitou a defesa das terras e do território, que tem sido ameaçado, nas últimas décadas, por empresas que tentam deslegitimar o direito de posse das comunidades e que representam os interesses de conglomerados econômicos no ramo da geração de energia (barragem de sobradinho, parques eólicos e linhas de transmissão) e da agropecuária (monocultivos de mandioca, fruticultura irrigada e pecuaristas).

Segundo Eduardo Rodrigues, da equipe técnica do SASOP, o  momento atual vem impulsionando um processo de reconhecimento dos sistemas agrícolas de povos e comunidades tradicionais, como as de fundos de pasto. “Entendemos que este prêmio é um movimento na perspectiva da defesa dos territórios, dos modos de vida dessas comunidades. É uma forma de dar visibilidade a defesa política dessas comunidades que são territórios em disputa. Ter um prêmio num território em disputa é mais uma forma de luta. Não pelo prêmio em si, mas pelo reconhecimento de um povo, que tem seus valores, seus conhecimentos, seus saberes ancestrais e que precisam ser mantidos e valorizados. Essa é região de Areia Grande é ocupada desde o início do século XX. Estão ali manejando e defendendo essa área de caatinga secularmente”, explica.

O evento de entrega do Prêmio seguiu no segundo dia com trocas de experiências e instalações pedagógicas das experiências vencedoras.

Texto originalmente publicado no site do Sasop