2 img_capa_METODO ANALISE AGROECO

O “Método de Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas” se fundou na necessidade de dar visibilidade a relações econômicas, ecológicas e políticas que singularizam os modos de produção e de vida da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais e que têm sido historicamente ocultadas ou descaracterizadas pela teoria econômica convencional.

Em que pese o crescente reconhecimento social e político-institucional da agricultura familiar e da Agroecologia, manifesta-se ainda uma carência de ferramentas de análise que permitam dar conta das racionalidades econômicas e ecológicas que subentendem a superioridade dos agroecossistemas de gestão familiar sobre as lógicas empresariais que fundamentam o capitalismo agrário.

Como contribuição para a superação dessa lacuna, a AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia vem se empenhando desde o início dos anos 1990 no desenvolvimento de referenciais de análise sobre as estratégias de produção e reprodução econômica e ecológica da agricultura familiar e a sua tradução em instrumentos metodológicos que permitam o estabelecimento de ambientes de construção compartilhada de conhecimento com as famílias agricultoras e com organizações parceiras com as quais trabalha. Os conteúdos e a configuração deste documento expressam o nível atual de sedimentação desses referenciais e instrumentos.

A formalização do método neste documento é resultado de compromisso assumido pela AS-PTA com a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) no sentido de atender crescente demanda de organizações do campo agroecológico, não governamentais e governamentais, por uma apresentação sistematizada dos referenciais teórico-conceituais e metodológicos que dão coerência ao método. Essa demanda foi reforçada no bojo do processo de realização do III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), cujos desdobramentos suscitaram estudos orientados à produção de evidências da superioridade da Agroecologia como enfoque técnico-econômico para a gestão de agroecossistemas na agricultura familiar em todas as suas formas de expressão nas diferentes regiões do Brasil.

Em síntese, tratou-se de responder à pergunta geradora do III ENA: Por que interessa à sociedade apoiar a Agroecologia?

Por meio do projeto Agroecologia em Rede, esse esforço coletivo contou com o apoio da Fundação Banco do Brasil (FBB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), financiadores de uma das iniciativas mais inovadoras e promissoras da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) – o Programa Ecoforte para apoio a redes territoriais de Agroecologia. O caráter inovador desse programa vem do entendimento de que a Agroecologia é uma construção social movida pelas convergências e disputas entre agentes econômicos e sociopolíticos em espaços territoriais definidos.

Ao situar os agroecossistemas como unidades de gestão econômica-ecológica contextualizadas em territórios, o método aqui apresentado procura lançar luzes sobre relações sociais e de poder que condicionam os processos de trabalho na apropriação, transformação, circulação e distribuição das riquezas socialmente produzidas na agricultura familiar. Para tanto, ele dialoga com teorias críticas elaboradas exatamente para revelar dimensões da vida social e do trabalho ocultadas pela teoria econômica hegemônica. São elas:

  • A Economia Ecológica, como o estudo dos processos cíclicos entre os bens ecológicos e os bens econômicos e como fundamento da análise da sustentabilidade desde a escala local até a escala global.
  • A Economia Política, como o estudo das relações de poder implicadas nas esferas de produção, transformação e circulação de valores bem como a distribuição social da riqueza gerada pelo trabalho.
  • A Economia Feminista que, a partir da crítica aos fundamentos da economia convencional, propõe novos conceitos e instrumentos analíticos para reconhecer e dar visibilidade ao trabalho das mulheres, bem como a sua participação na geração e na apropriação da riqueza social. Para tanto, expressa um ponto de vista crítico à divisão sexual do trabalho e ao patriarcalismo, elementos culturais e ideológicos que estruturam as relações econômicas dominantes nas esferas doméstica e pública.

Como todo conhecimento, o método apresentado nesse documento tem como uma de suas principais vocações ser continuamente desenvolvido a partir de sua confrontação com a realidade e com outras experiências motivadas pelos mesmos propósitos. Sua atual configuração expressa o resultado de uma construção coletiva, moldada aos poucos, que contou com críticas e sugestões de técnicos e técnicas da AS-PTA e de organizações parceiras que exercitaram o método em diferentes regiões do país. A AS-PTA permanecerá empenhada em aprimorar o método e espera continuar contando com contribuições de todas as pessoas e instituições comprometidas com um projeto de democratização e sustentabilidade para o mundo rural e os sistemas agroalimentares.