Durante os dias 15 e 16 de outubro, a praça dos Migrantes de Rolim de Moura sediará a II edição da Feira de Agroecologia e Sociobiodiversidade-FAS do estado de Rondônia. Será o momento em que agricultores e agricultoras, povos e comunidades tradicionais, estudantes, professores, pesquisadores, sociedade civil organizada e a comunidade em geral poderão conhecer e debater sobre a agroecologia desenvolvida nos diversos territórios do estado.
O evento é uma realização da Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Campus Rolim de Moura, em parceria com o Instituto Padre Ezequiel Ramin- IPER, Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia-FETAGRO, Ação Ecológica Guaporé- ECOPORÉ e Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento e Regularização Fundiária.
Esta Feira tem o propósito de promover um espaço que reflita a cultura dos povos do campo, da floresta e das águas através de oficinas e cirandas de saberes, apresentações culturais, exposições de arte e troca de sementes e mudas crioulas.
Segundo os professores do departamento de Engenharia Florestal da UNIR-Rolim de Moura, idealizadores e coordenadores da FAS, Anna Frida Hatsue Modro e Emanuel Fernando Maia de Souza, este evento é, sobretudo, “a busca pela construção de caminhos alternativos de desenvolvimento sustentável rural e agrícola aos padrões impostos pelo agronegócio.”
Alternativa sustentável
Desde o início de sua ocupação, o estado de Rondônia adotou um modelo de produção de destruição, tanto dos bens naturais quanto culturais, sociais e humanos existentes.
Rondônia tem um dos mais elevados índices de desmatamento da Amazônia Legal: são quase 9 milhões de hectares. Isso representa 44% da área originalmente coberta por florestas. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) mostram que, em 2013, foram desmatados 933 quilômetros quadrados em todo o estado.
A continuidade da reprodução destes padrões convencionais de gestão dos bens naturais caracterizados pela exploração predatória de madeira, a pecuária extensiva e a concentração fundiária, refletem diretamente no crescimento desordenado das cidades, no aumento da violência e no encarecimento e dificuldade de acesso a alimentos diversificados e saudáveis pelas classes sociais menos favorecidas.
Para o engenheiro agrônomo do Instituto Padre Ezequiel Ramin-IPER, Valdeir Souza, “a agroecologia e o respeito e a valorização da sociobiodiversidade, que serão amplamente debatidos durante a Feira, são uma forma de revalorização dos saberes e tradições populares que foram negligenciados ao longo do tempo, mas que são na verdade, a única alternativa sustentável possível para a produção de alimentos limpos, sem o uso de agrotóxicos, e de base familiar na Amazônia e em outros biomas nacionais”.
Oficinas e Cirandas de Saberes
“O Uso da Homeopatia na Produção Agroecológica” será um dos temas debatidos nas oficinas e cirandas de saberes. Esta oficina será coordenada pelo Instituto Padre Ezequiel Ramin-IPER, que possui uma prática de 28 anos de aplicação da homeopatia como ferramenta na produção de alimentos sustentáveis, no cuidado e tratamento de solo, água, plantas e animais.
Através de pesquisas científicas já se constatou que a homeopatia contribui para o aumento da biodiversidade da Unidade Produtiva, a melhoria de atributos físico-químicos e biológicos do solo e da água, ajuda na eliminação dos resíduos de agrotóxicos e a melhoria da saúde das plantas e animais.
Para o técnico do IPER, Francisco de Assis, “a homeopatia pode ser considerada uma tecnologia social pois as famílias agroecológicas que a adotam fazem o uso de recursos locais, dando a elas a autonomia e flexibilidade na gestão de sua Unidade Produtiva, o que minimiza os gastos com a compra de produtos externos e consequentemente, têm um aumento na renda familiar”.
A Agricultura Urbana e a Permacultura aparecem pela primeira vez como tema de oficinas na FAS. O professor Emanuel Fernando Maia de Souza explica que a agricultura urbana e periurbana estão crescendo muito nos últimos anos no estado de Rondônia, contrapondo o atual modelo de desenvolvimento das cidades e se colocando como alternativa de geração de renda e segurança alimentar.
O arquiteto Bruno Thiago Paz xxx, um dos pioneiros do estado a trabalhar com bioconstrução e permacultura que são uma forma de se criar ambientes que sejam sustentáveis, harmoniosos e em equilíbrio com a natureza e todo o seu entorno. Como faziam os indígenas e as comunidades tradicionais
Sementes de resistências
Um dos pontos altos da Feira de Agroecologia e Sociobiodiversidade será a troca de sementes e mudas crioulas que acontecerá no final da tarde de sábado, 15 de outubro.As sementes e mudas crioulas são consideradas patrimônio cultural, social e econômico do povo camponês pois foram selecionadas, guardadas e retransmitidas de geração em geração.
Toda essa riqueza e diversidade vem sendo ameaçada pela inserção na agricultura de sementes híbridas e transgênicas. As grandes corporações multinacionais enxergaram neste patrimônio genético uma enorme potencialidade de geração de lucro.
Somente três empresas controlam mais da metade (53%) do mercado mundial de sementes: a Monsanto (26%), a DuPont Pioneer (18,2%) e a Syngenta (9,2%), somadas a outras 7 transnacionais, estas 10 empresas dominam 75% do mercado mundial de sementes que movimenta, anualmente, trilhões de dólares.
A preservação das sementes crioulas garante a relação de pertencimento dos agricultores e agricultoras com sua comunidade, faz com que permaneçam como protagonistas de sua própria história e os tornam independentes de quaisquer interesses financeiros das multinacionais .