Por Josy Basso, da Cooperafloresta
O Projeto Agroflorestar, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental,
é fruto da articulação entre a Cooperafloresta e 33 organizações não governamentais, órgãos ambientais, instituições de pesquisa, universidades e escolas públicas. Tem como objetivos a recuperação e conservação dos recursos naturais, com foco na fixação de carbono e emissões evitadas, através do aprimoramento e ampliação da prática agroflorestal junto à agricultura camponesa e comunidades quilombolas, gerando referenciais técnicos e metodológicos, socializando e multiplicando conhecimentos e experiências. Para tal, atua junto às comunidades quilombolas do Vale do Ribeira e assentamentos de reforma agrária nos estados do Paraná e São Paulo.
Um livro escrito a muitas mãos
Um dos objetivos do Projeto Agroflorestar é oportunizar a prática, sistematização e socialização do processo coletivo de construção do conhecimento agroflorestal. Assim, o livro AGROFLORESTANDO O MUNDO DE FACÃO AO TRATOR reúne a experiência de mais de 20 anos de muita gente engajada com uma agricultura regeneradora que promove a soberania alimentar. Também foi de grande importância os amplos processos socioambientais narrados terem encontrado ressonância com a determinação do agricultor Ernst Götsch em desenvolver técnicas e estratégias visando que os princípios agroflorestais pudessem ser aplicados em processos mecanizados. Ernst tem trabalhado intensamente nesta direção e as técnicas e ideias desenvolvidas tem, direta e indiretamente, orientado de maneira fundamental grande parcela do trabalho realizado no âmbito do Projeto Agroflorestar.
Ao mesmo tempo, este livro retrata ações, resultados e impactos que foram protagonizados por 400 famílias campesinas, quilombolas e suas organizações, incluindo Escolas de Agroecologia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Entre as organizações que tiveram participação decisiva no Projeto Agroflorestar e no desenvolvimento do que é relatado neste livro, destaca-se a Cooperafloresta, a Escola Latino Americana de Agroecologia (ELLA) e Cooperativa Terra Livre no Assentamento Contestado (Lapa/PR), o Centro de Formação Sócio-Agrícola Dom Hélder Câmara no Assentamento Mário Lago (Ribeirão Peto/SP). Para que tudo fosse possível, foi fundamental um trabalho realizado em grande sinergia com o Projeto Flora, gestado e coordenado pelo Instituto Contestado de Agroecologia – ICA, também patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental.
O coordenador do projeto Agroflorestar e um dos autores deste livro, o agrônomo Nelson Eduardo Correa Netto, destaca que “neste livro, ao procurarmos descrever os fundamentos e a técnica agroflorestal, o fizemos conscientemente, de forma referenciada no caminho que vem sendo apaixonadamente trilhado na práxis de mais de mil famílias campesinas e suas organizações, entre quilombolas e assentadas. Ele tem muitos outros elementos, como uma visão participativa e horizontal da educação, passando pela construção de relações de cooperação, solidariedade, organicidade e amor dos seres humanos entre si e com a natureza. Nossos compromissos e esperanças estão ligados com este caminho. Este caminho também se conecta organicamente a mais de meio milhão de outras famílias, que também se ligam através de laços e teias de solidariedade e pela proposta de construção de uma sociedade pautada pelo amor e pela consciência de que pertencemos a um mesmo e sagrado organismo. Por isto sua opção por um projeto para o bem de toda a sociedade, por uma reforma agrária inclusiva e popular, que tem na agroecologia um de seus pilares e compromissos fundamentais.”
Sobre o livro AGROFLORESTANDO O MUNDO DE FACÃO AO TRATOR
O livro busca sintetizar conhecimentos que já foram tema de diversas publicações elaboradas pelo Projeto Agroflorestar e disponíveis no seu sítio eletrônico www.agroflorestar.com. Aborda os desastres causados pela agropecuária artificial e como vem se construindo uma nova forma de ver o mundo através da agroecologia e da prática agroflorestal. Traz alguns fundamentos da vida do organismo Planeta Terra, abordando a importância do solo e da sucessão natural para a sustentabilidade da prática agrícola. Também descreve a construção da práxis agroflorestal em assentamentos de reforma agrária, aportando referências consistentes para usos de plantas em SAFs.
O livro também socializa os resultados de pesquisas que analisam como os SAFs contribuem para a fertilidade do solo, para a retirada do carbono da atmosfera e para a dinâmica da natureza. “Desde a primeira edição do Projeto Agroflorestar, ações de pesquisa vêm procurando caracterizar diferentes aspectos das agroflorestas agroecológicas. Os resultados vêm comprovando a evolução de fertilidade, biodiversidade e estrutura dos solos, a significativa quantidade de carbono que as agroflorestas retiram anualmente da atmosfera, a grande diversidade e densidade de plantas e a elevada produtividade dos sistemas agroflorestais, entre vários outros aspectos registrados no livro. Entretanto, a cada novo manejo, a vontade é pesquisar seus efeitos no solo, na vegetação, na produtividade e nas características sociais e econômicas dos agricultores. Temos um caminho imenso ainda pela frente. Apesar de tudo que fizemos até agora, a pesquisa agroflorestal está apenas começando”, comenta Walter Steenbock, pesquisador e ana lista ambiental do ICMBio, parceiro do projeto.