ato valadaresLuana Almeida e Natália Souza, no Brasil de Fato

“Águas para a vida, não para a morte!” foi o grito que ecoou pelas ruas de Governador Valadares, região nordeste de Minas Gerais, na tarde do último sábado (16). Com cartazes, cantigas, performances e palavras de ordem, cerca de 150 pessoas participaram de um ato que denunciou o descaso com as comunidades impactadas pelo crime cometido pela Samarco em novembro de 2015, no município de Mariana. A caminhada fez parte da programação da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce.

“O povo tá na rua, ô Vale, a culpa é sua!”

Moradora da periferia de Governador Valadares, Gilsa Santos relembra os dias após o rompimento da barragem, quando seu bairro ficou sem água e as brigas que passaram a ser travadas entre os próprios vizinhos. A dificuldade de ter acesso à água potável mobiliza Gilsa a se unir aos movimentos para conquistar seus direitos. “Esse rio não está morto, ele vive em mim”, sintetiza, expressando sua esperança de que o Rio Doce volte a viver.

“Queremos progresso de vida, não de morte”, reivindica o guarani Wera Kwaray. Ele critica o modelo desenvolvimentista que, segundo ele, afeta o modo de vida dos povos originários mesmo antes do rompimento da barragem. “Queremos que o poder público mostre seu papel, mas não como autoridade comprada pelo dinheiro, pela ganância”, afirma. “O que a gente vê é que a autoridade que se diz defensora do meio ambiente está sendo cúmplice da matança dos seres humanos, dos animais e dos peixes que vivem no Rio Doce”, complementa.

Descaso e cooptação

O pescador José de Fátima Lemos conta que a Samarco, que é propriedade da Vale e da BHP Billinton, tem se esforçado para cooptar lideranças locais dos movimentos. “Se estão achando que vão nos calar com esses salários, não vão”, exclama José.

Para o professor Reinaldo Queiroz da Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares, somente o combate à impunidade trará de volta a vida do Rio Doce. “Temos que transformar luto em luta”, diz.

Caravana

Entre os dias 11 e 14 de abril, os participantes da Caravana, divididos em quatro grupos, percorreram as margens do Alto, Médio e Baixo Rio Doce, visitando comunidades e áreas impactadas pela lama proveniente da barragem que estourou em Mariana. Todos os grupos se encontraram em Governador Valadares na sexta (15) para socializar histórias, estratégias de resistência e as injustiças sofridas do povo atingido.

“Vimos trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar e a juventude organizados, comunidades produzindo remédios homeopáticos. Ou seja, não é só destruição, também se mostrou pulsante a força do povo. Juntos somos mais que a Vale”, ressalta a participante Eliza Chaves.

A atuação das mulheres nas comunidades foi o ponto mais interessante, na opinião da pesquisadora Marianna Brito que também participou de uma das rotas. “São elas que movem a agricultura familiar nas regiões que passamos”, conta. “A lição que tiramos é que precisamos fortalecer a auto-organização das mulheres, para que outro modelo de desenvolvimento seja possível e para que elas ocupem cada vez mais espaços de formulação de políticas”, complementa.

A Caravana foi articulada por mais de 40 entidades da sociedade civil, movimentos populares, universidades e organizações locais