Por Joseneidy de Oliveira e Billyshelby Fequis (assessores técnicos da CPI/AC)
Com o intuito de apoiar e fortalecer as ações de gestão territorial e ambiental, e a segurança e soberania alimentar dos Huni Kuῖ da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Humaitá, foi realizada entre os meses de março e abril pelo projeto Gestão Indígena no Acre, assessoria aos Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs). Nessa assessoria também foram realizadas em todas as aldeias da TI, mini-oficinas de mapeamento participativo para discutir a situação de uso, manejo e conservação dos recursos naturais. Além disso, a viagem de assessoria proporcionou a participação de dois AAFIs da Terra Indígena Kaxinawá do Igarapé do Caucho nas atividades de intercâmbio.
A TI Kaxinawá do Rio Humaitá está localizada no município de Feijó e possui cinco aldeias e é uma das 7 terras indígenas beneficiadas pelo projeto “Gestão Indígena no Acre” realizado pela Comissão Pró-Índio do Acre e patrocinado pela Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental.
As assessorias e intercâmbios, juntamente com os cursos e oficinas, fazem parte da formação dos AAFIs, que incluem o conhecimento técnico sobre o uso, manejo e conservação dos recursos naturais, e também valores éticos, étnicos e fundamentos interculturais e políticos que buscam facilitar a atuação destes como orientadores na tomada de decisões em suas comunidades.
Assessoria aos AAFIs da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Humaitá
Além dos AAFIs, participaram das atividades as lideranças, professores, agentes de saúde, estudantes, artesãs entre outros membros da comunidade. Todos participaram ativamente durante as práticas de produção de mudas em viveiro e manejo, diagnóstico, implantação e enriquecimento de pouco mais de 9 ha de áreas de SAFs e quintais agroflorestais. Para essas atividades o projeto disponibilizou sementes de açaí touceira, cacau e cupuaçu e 2.340 mudas de 12 espécies diferentes, entre frutíferas e florestais, tais como: açaí touceira, acerola, araçá boi, biribá, buriti, cacau, caju, castanha, cupuaçu, graviola, ingá de metro e pupunha. Houve grande participação também nas discussões e reflexões sobre o trabalho realizado com temas relacionados à gestão da terra indígena, segurança e soberania alimentar, a regionalização da merenda escolar e conservação da agrobiodiversidade.
“Eu quero falar um pouco do trabalho que eu participei. Nós revisamos o mapa da aldeia, destacando o que temos perto. Quero agradecer as pessoas que contribuíram no trabalho de plantio e à CPI-AC que trouxe as mudas e as sementes. Eu quero dizer que foi muito importante, estou feliz por estar participando” (Professor Valdeusmar – Aldeia Novo Futuro).
Foi interessante observar o interesse das mulheres e jovens pela implantação dos SAFs e Quintais Agroflorestais, participando das atividades e expressando a importância em realizar os plantios das frutíferas perto das casas das aldeias.
“Boa tarde. Eu quero falar um pouco. Estou alegre pelas mudas que foram plantadas, que servem para o futuro, para os nossos filhos, para os nossos netos. É uma riqueza para nós” (Artesã Sebastiana – Aldeia Novo Futuro).
“Boa tarde aos da nossa comunidade e de outras aldeias. Quero agradecer à equipe e as outras aldeias que chegaram até aqui. Estou muito grato de estar recebendo mais plantas aqui na nossa aldeia que serve para fortalecer também com alguns frutos que não temos, por isso é importante tá recebendo essas mudas” (Estudante Jaime – Aldeia Novo Futuro).
Os professores indígenas destacaram a importância desse trabalho para a escola:
“Quero agradecer a assessoria da CPI-AC. É fundamental a gente trabalhar com parceria. Eu, como educador dos Huni Kuĩ, acredito na parceria para fortalecer a educação, para que as futuras gerações possam aprender mais sobre como se planta, como se colhe e que isso é importante para a alimentação da comunidade. As crianças têm que se adaptar tanto em temas teóricos como em práticos. Essas atividades são um incentivo e trazem um conhecimento prático que pode ser trabalhado com os alunos e isso é importante para a escola, que os alunos entendam o que é um SAF, um quintal, a importância da produção de mudas e realizar plantios. É importante para a formação dos alunos. Ontem foi aula prática e agora estamos aqui revisando os mapas” (Professor e Liderança Jocenir Sabóia – Aldeia São Vicente).
Mini-oficina de mapeamento participativo
Juntamente com assessoria aos Agentes Agroflorestais Indígenas, também foi realizada uma mini-oficina de mapeamento por aldeia, onde os assessores do projeto, Billy Fequis e Joseneidy de Oliveira, moderaram os trabalhos de mapeamento nas aldeias Novo Futuro, São Vicente, Boa Vista, Boa Sorte e Vigilante. A atividade teve como objetivo realizar o mapeamento participativo do uso da terra e dos recursos naturais com o intuito de servir como ferramenta para o fortalecimento das ações das comunidades para o planejamento territorial e a para gestão de seus recursos naturais.
O mapeamento participativo é realizado por meio da apresentação da carta-imagem (Escala 1: 4.000), onde os participantes trabalharam tendo como referência os cursos dos rios e igarapés, áreas de uso e manejo dos recursos naturais e agroflorestais, moradias e além de áreas de clareira que geralmente são os roçados, as capoeiras e as pastagens.
Todas as informações inseridas têm como base o conhecimento espacial que cada um possui de suas aldeias e das áreas que utilizam. Juntamente com essa atividade foi realizada uma capacitação dos AAFIs no manuseio do aparelho GPS, principalmente nas funções de registro de coordenadas geográficas, que é a marcação dos pontos e mensuração das áreas de quintais e sistemas agroflorestais.
A atividade contou o envolvimento de toda comunidade, homens, mulheres, além dos diferentes atores sociais como os agentes agroflorestais, professores, lideranças, agentes indígenas de saúde, artesãs, pajés. Isso permitiu a combinação de ações, como os sistemas agroflorestais e quintais agroflorestais, o manejo dos recursos da floresta e agroflorestais, a vigilância e fiscalização da Terra Indígena, e as diferentes formas de uso e ocupação do território.
“Reconhecer a importância desse trabalho começa quando os alunos vêem sua própria aldeia, sua própria terra indígena de outra forma, visto de cima. Vão começar a trabalhar fazendo desenhos, saber um pouco de matemática como quilometragem das coisas, hectares dos roçados, metragem dos plantios. Porque isso é uma avaliação das escolas pelo aluno e vice versa. Este trabalho que vocês vêm fazer de assessoria é ligado à educação ambiental, porque a escola é aberta e os alunos estão sendo formados com esse tipo de trabalho. E o mapa é uma ferramenta importante para a escola como material didático e também a importância de como é a forma de aprender a geografia, a matemática, dentro do mapa ensina quantos metros tem nossos safs, bananal ou quintal, a distância dos piques de caças, onde estão as caças. Sem a escola as coisas não funcionam, temos que ter esse conhecimento ocidental também. Tudo isso para ser usado para o enriquecimento da nossa biodiversidade. Para gente que faz fiscalização e vigilância é muito importante usar os mapas e os próprios alunos que nos acompanham em saber por onde estamos andando dentro da terra indígena” (Professor e Liderança Jocenir Sabóia – Aldeia São Vicente).