O VI Encontro Nacional dos Grupos de Agroecologia do Brasil (VI ENGA) realizado na Ecovila Tiba, no município de São Carlos (SP), entre os dias 12 e 16 de Novembro, marca um momento histórico para a articulação e engajamento dos Grupos de Agroecologia, Coletivos Autônomos, Projetos de Permacultura e demais organizações integrantes da Rede no cenário geral do Movimento Agroecológico Nacional.
O tema deste ano foi “Se-Mentes Livres, Re-Existência!”, valorizando os saberes e práticas de todos os seres que estão envolvidos no debate conceitual e na luta diária pela construção de uma nova realidade social agroecológica. Neste encontro avaliamos que conseguimos manter coerência entre discurso e a nossa prática, através de metodologias alternativas para a sua construção, reuniões preparatórias, vivências e mutirões no local e em outras regiões do Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O encontro: pondo o discurso em prática
Foram 5 dias de intensa vivência e trabalho entre as mulheres, homens, jovens e adultos, mestres de todas as idades, além de crianças e animais num clima, ousamos dizer, mágico! Trocamos muitas experiências, conhecimentos, intensificamos nossos laços de fraternidade e solidariedade e agora voltamos para nossos territórios cheios de inspiração e confiança de que, em primeiro lugar: não estamos sozinhas/os e não somos tão poucos assim. Segundo, é possível fazer política e articular coletividades em torno de um projeto de sociedade com métodos autogestionários, horizontais, não hierárquicos e radicalmente democráticos. Em terceiro, o mais importante: o sonho não acabou, as utopias são possíveis e enquanto houver uma semente de esperança e braços dispostos, todo sonho pode vicejar em realidade no momento presente.
Durante o encontro, que chegou a contar com 700 pessoas, entre agricultores e moradores do município que vieram visitar, contamos com 100% de banheiros secos para atender os encontristas, um ponto importante de nossa proposta para o planeta. A água do encontro veio em sua maior parte da chuva que foi captada numa cisterna construída nos encontros regionais que antecederam o evento, além da água do poço da propriedade e, em menor parte, tivemos auxílio de um caminhão pipa. Todos os produtos de higiene: sabonetes e shampoos artesanais, cremes e pós dentais naturais, foram especialmente produzidos pela Comissão Organizadora. Usamos o mínimo de energia elétrica, apenas para microfones, computadores, equipamentos de som e para alimentar a programação da Rádio livre que rolou durante todo o evento. O financiamento veio das inscrições, de doações feitas pelos Núcleos de Agroecologia e de estratégias de financiamento colaborativo entre integrantes da REGA-Brasil.
A alimentação do encontro foi em parte plantada na própria Ecovila Tibá além de contribuições trazidas de diferentes regiões pelos participantes, a maior parte foi adquirida da agricultura familiar regional e contamos com alimentos orgânicos e agroecológicos. Os agricultores presentes no encontro trouxeram sua produção como forma de troca já que sua inscrição foi gratuita e o alimento foi preparado coletivamente através de equipes formadas pelos próprios participantes que se revezaram também na manutenção dos banheiros, organização dos espaços e preparação das dinâmicas.
Aproximação com ANA e ABA: fortalecendo os elos dessa união
O aprofundamento das pautas nas plenárias levou à proposta de articular cada vez mais os elos dos grupos que compõem a REGA-Brasil, principalmente na temática da demarcação das terras dos povos indígenas e tradicionais, incluindo quilombolas e caiçaras. Através da proposta de um Seminário Nacional sobre Agroecologia e Povos Indígenas/Tradicionais, a Rede vai se dedicar a ampliar o diálogo que já vem sendo construído com os movimentos que compõe a ANA e a ABA, no sentido de valorizar o reconhecimento de que os territórios tradicionais também são territórios agroecológicos. Nossa campanha nacional, o “Maio Agroecológico”, foi levantada como uma das principais estratégias para dar visibilidade às nossas experiências e pautas, assim concentramos no mês de Maio nossos esforços para construir diversas atividades e iniciativas disseminadas pelos grupos nos territórios do país.
Políticas públicas, estratégias de comunicação com a sociedade e pautas para o próximo período
Sobre o debate crítico às Políticas Públicas, caminhamos no sentido de propor uma rede de experiências de base, em que a descentralização dos recursos da PNAPO (Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica) seja possível através de Pontos de Agroecologia, no qual organismos de base possam ser protagonistas da organização e gestão de seus projetos e recursos. Também dialogamos sobre o impacto das políticas do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), entendemos que há necessidade de desburocratização desses importantes programas de acordo com as práticas e necessidades dos movimentos de agricultores e organizações parceiras que as realizam não perdendo de vista o patente avanço que essas políticas representam no campo da Agroeocologia no Brasil.
No caminho de construção de uma sociedade justa, sustentável e viável, vemos a Reforma Agrária como um ponto central, a Educação Popular Emancipatória e a gestão dos recursos hídricos fazem parte dessa luta. Construímos espaços para o debate e construção da igualdade nas relações de gênero, avançamos no tema da descriminalização da Cannabis, que não deve ficar fora dos resumos, e reafirmamos nosso apoio aos movimentos de ocupação rural e urbana, pelos direitos dos animais, democratização dos meios de comunicação, desmilitarização da polícia, parto humanizado e da luta LGBTQI. Nos posicionamos contrariamente aos projetos de lei e investidas das empresas e conglomerados multinacionais do ramo sementeiro e biotecnológico contra os direitos das/os agricultoras/es ao acesso à agrobiodiversidade e contra quaisquer iniciativas que minem a autonomia e soberania dessas/es sobre as suas sementes livres.
Para nós da REGA, a Agroecologia, é um movimento que engloba todas essas lutas que estiveram tão presentes nos debates do Encontro. Vemos a Agroecologia como um projeto para toda a sociedade, seja urbana ou rural, incluindo as formas de viver dos indivíduos em um processo que se dá no tempo e no espaço e implica comprometer-se com o Todo – A Sociedade; e com a parte – Cada Ser.
E sabem de uma coisa? É POSSÍVEL!
REGA-Brasil
Primavera de 2014