Por Verônica Pragana – Asacom
No auge de seus 15 anos, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) apresenta sinais de vitalidade e vigor. Um deles vem das pessoas envolvidas com as ações de comunicação da rede. De terça a quinta-feira da semana passada (9 a 11), cerca de 180 pessoas, entre comunicadores e comunicadoras populares, coordenadoresas das ASAs estaduais, assessoresas técnicos e pedagógicos e agricultoresas, estiveram reunidas, em Gravatá (PE), discutindo a sua prática de comunicar um Semiárido cheio de possibilidades de vida.
Nestes dias, foi feito um convite explícito para quem está no dia a dia das organizações e nas ASAs estaduais perceber o quanto ela pode ser transformadora se tiver intenção de facilitar o acesso das comunidades rurais ao direito de comunicar. O marco deste Encontro foi justamente o reconhecimento, por parte dosas participantes, de que se faz necessário fortalecer a comunicação protagonizada pelos povos do Semiárido.
Na leitura de Amanda Sampaio, comunicadora popular do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido, o encontro “se consolida como parte essencial da comemoração da trajetória de luta dos 15 anos da ASA pela convivência com o Semiárido. Afinal, para comemorar tal trajetória é preciso também ampliar nossos horizontes de luta. Entender a comunicação como estratégia, e discutir um projeto político onde a comunicação popular também é elemento central, só fortalece a nossa luta por um Semiárido rico em vida”.
Fernanda Cruz, coordenadora da Assessoria de Comunicação da ASA (Asacom) desde 2011, destaca que esse movimento que busca reconhecer a ação de comunicação da Articulação como uma estratégia essencial para o projeto de convivência com o Semiárido não surge no encontro nacional deste ano. “Ele faz parte de um amadurecimento do debate na própria rede e que ganhou intensidade e força no último EnconASA, em 2012. Nosso desafio tem sido incorporar novos atores, fortalecendo a nossa ação para além do campo instrumental, mas essencialmente no campo político”, reflete.
Pensando na necessidade de trazer novos atores da ASA para esse debate, foi produzida uma carta neste Encontro. O documento ressalta que uma das estratégias fundamentais da Articulação para a transformação do Semiárido está complemente associada à desconstrução da imagem estereotipada da região e do seu povo. “É inegável a importância da comunicação nesse contexto, pois ela é responsável por materializar essa [nova] imagem, fortalecendo a autoestima dos povos e populações locais, tendo como fonte de inspiração os processos de educação popular já enraizados no Semiárido e multiplicados pelo Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido: P1MC e P1+2”, atesta o documento.
A carta destaca também a caminhada que a ASA teve para, cada vez mais, estruturar sua ação de comunicação junto à população do Semiárido como para a sociedade em geral. Ao reconhecer esta caminhada, o documento apresenta a trajetória de 15 anos da Articulação como fonte de motivação e inspiração para a rede assumir politicamente a dimensão da Comunicação como um direito humano. “Democratizar a comunicação é democratizar o sentido da vida, da luta e resistência das comunidades e dos povos do semiárido. Fortalecer a comunicação é fortalecer o nosso projeto Político de Convivência com o Semiárido”, ressalta o documento.
Para Valquíria Lima, da coordenação executiva da ASA Brasil pelo estado de Minas, “começar a pautar a comunicação em outro lugar dentro da rede ASA para que seja vista como direito humano – não apenas no discurso, mas como demanda concreta dos povos do Semiárido – exige que as ASAs estaduais acumulem experiências neste sentido, que esta vivência esteja enraizada nos estados”, destacou na fala que fez no segundo dia do encontro. “Os desafios são grandes e precisam ser assumidos como responsabilidade por esta rede”, acrescentou.
O coordenador estadual da ASA Bahia, Agnaldo Rocha, reconheceu o quanto foi gratificante para ele estar neste Encontro. “Eu, que estou na ASA desde as primeiras reuniões, percebo o quanto avançamos e crescemos nestas discussões. Hoje, precisamos nos perguntar o que precisamos fazer no campo da comunicação para além das metas?”, acrescenta referindo-se às metas de comunicação de um dos programas da ASA.
O agricultor alagoano Florisval Costa, considerou a comunicação de qualidade como muito importante para ampliar os conhecimentos das famílias agricultoras, destacando a contribuição dos cursos de capacitação dos programas da ASA, dos quais é instrutor pela Associação de Agricultores Alternativos (Aagra), em Alagoas. Ele conta que há uns 5 ou 6 anos, podia contar com as rádios comunitárias do agreste e sertão do estado para levar informações para um número maior de famílias agricultoras. “Por causa da perseguição das rádios comunitárias, isso não é mais possível”, lamenta a restrição ao seu direito de acessar um meio de comunicação de maior alcance.
Por fim, mais uma vez pela voz do comunicador Erickson Jardim, fica aqui uma imagem associada ao direito de comunicar: “Compreender a comunicação como um direito nos possibilita praticar a comunicação como uma ponte para outros direitos essenciais. Essa compreensão é um salto qualitativo que, com certeza, influenciará um salto organizativo para a ASA como um todo”. Está dito!
“Este encontro revelou o potencial que a comunicação possui quando falamos sobre a emancipação de mulheres e homens, como indivíduos e como coletivo, sujeitos da sua própria história. Saí do encontro com o sentimento de que não estou fazendo algo pontual e isolado na minha tarefa de comunicador, pelo contrário, a mínima ação comunicadora quando se prioriza o protagonismo dos excluídos da sociedade é em si uma ação revolucionária e libertadora”, anuncia Erickson Jardim, comunicador popular da Cáritas Almenara em Minas Gerais.
(*) Fotos: Netto Santos e Agnaldo Rocha.