conversa apaPor Diego Grespan de Oliveira, da Articulação Paulista de Agroecologia (APA) 

No dia 11 de setembro deste ano, foi realizado o 1° dia de campo para troca de experiências entre os agricultores familiares da região do Leste Paulista. Este evento é o primeiro de uma série que leva os agricultores familiares desta região a conversarem sobre suas dificuldades e buscar maneiras de superá-las, principalmente através da Agroecologia. Serão realizados ao menos quatro dias de campo entre os meses de setembro e outubro nesta região, o produto destas discussões será apresentado no 1° Encontro da Agricultura Familiar do Leste Paulista: caminhando rumo a Agroecologia, que deve acontecer dia 12 de novembro de 2014, em Jaguariúna.

 

História do Agricultor

horta apaO 1° dia de campo aconteceu no Sítio Aparecida do Camanducaia, do agricultor Eduardo de Souza e sua família. O sítio fica em Jaguariúna e é de posse da família a algumas gerações. No início do dia, Eduardo apresentou sua trajetória de agricultor e os motivos que o levaram a transição agroecológica. Ele cuidava da produção de laranja da família desde pequeno, mas a renda que conseguiam com a cultura era muito pequena, até que em um dado momento ele deixou o sítio para trabalhar como empregado em outra propriedade. Nesta nova etapa de sua vida ele conheceu a agricultura orgânica e se motivou para iniciar um sistema parecido em sua própria terra. Decidido ele retornou a propriedade da família e iniciou a produção de hortaliças orgânicas e a comercialização em feiras na cidade de Campinas. Segundo ele, os primeiros anos foram os mais difíceis, mas hoje sua renda e qualidade de vida estão muito melhores e só não aumenta a produção ainda mais, pois não consegue mão de obra extra. Todo o trabalho na propriedade é familiar, Eduardo tem ajuda de sua esposa, filhas, pais e irmãos, que dividem algumas tarefas na produção e comercialização. Desde 2011 o agricultor está no Sistema Participativo de Garantia da ANC – Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região, onde certifica sua produção e mais do que isso, interage com outros agricultores trocando informações, produtos e principalmente cultivando amizades.

Visita à Campo

intercambio apaApós conhecer a história do Eduardo os cerca de 50 participantes do dia de campo, compostos principalmente por agricultores familiares, iniciaram a visita à campo para conhecer a experiência na prática. Foi um momento muito rico de troca de saberes, sobre o manejo das culturas, do solo, da água e todas as práticas empregadas pelo agricultor. Ao fim do percurso os presentes fizeram uma roda de conversa onde iniciaram os debates sobre as questões importantes para agricultura familiar. Neste momento alguns apontaram a dificuldade em conseguirem suas próprias sementes e como isso os prende a monocultura e a utilização dos pacotes de insumos convencionais. Outra questão que surgiu foi à dificuldade de acesso ao crédito, principalmente pelos agricultores assentados da reforma agrária que não tem condições de apresentar a contra partida exigida para liberação do recurso, a partir disso, se dá toda a dificuldade em estabelecer a infraestrutura necessária para produção e comercialização.

Troca de Experiências

Após compartilhar o almoço preparado com alimentos orgânicos, os participantes se dividiram em quatro grupos para se aprofundarem nas dificuldades dos agricultores familiares e as estratégias de superação. Os técnicos que estavam presentes formaram um grupo exclusivo e separado para abordar o tema da agricultura familiar com um olhar específico do seu ponto de vista sobre tema. Depois da dinâmica todos os grupos apresentaram o resumo de suas discussões em um diálogo muito rico e composto por diversos pontos de vista. Durante as conversas apareceram outras dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar, entre elas como os filhos dos agricultores desestimulados pelas condições no campo não tem intenção de permanecer na atividade, gerando uma dúvida sobre o futuro da produção agrícola. Os agricultores apontaram como a falta de apoio público no financiamento, fortalecimento e infraestrutura, programas de incentivo a agricultura familiar e assistência técnica insuficiente, acentuam as dificuldades vividas pelos agricultores no seu dia a dia.

Agroecologia como estratégia de desenvolvimento

roda da apaOs participantes se aprofundaram na superação das dificuldades e encontraram dentro da Agroecologia diversas estratégias interessantes, contrapondo a experiência prática do agricultor que conheceram no dia de campo com suas realidades locais e com o intercâmbio das experiências individuais. Segundo eles, através da diversificação da produção e da comercialização em feiras, ou programas governamentais, é enriquecida a alimentação da família ao mesmo tempo em que estes canais de venda permitem uma melhor e garantida remuneração pelo trabalho do agricultor. Dentro da Agroecologia fica clara a importância da formação de associações e alianças entre os próprios agricultores e com os consumidores, fortalecendo os laços de maneira que a atividade se torna mais sustentável, estimulando inclusive os jovens a permanecerem no campo e dando continuidade ao trabalho dos pais.

Apesar das vantagens a conversão para a agroecologia ainda enfrenta alguns empecilhos que precisam ser superados, entre eles a falta de técnicos especializados para difundir a tecnologia. Uma questão apontada foi a falta de incentivo na forma de recurso pelo governo para que os agricultores possam enfrentar o início do período de conversão, etapa considerada mais difícil. Mas que todas essas dificuldades podem ser superadas através de uma aliança forte entre campo e cidade, como resultado ambos são beneficiados.

Organização

As atividades estão sendo promovidas pela Rede Leste de Agroecologia, Articulação Paulista de Agroecologia e as entidades e colaboradores que estão ligados a estas redes. Os próximos dias de campo agendados serão em Americana (10/out), Socorro (17/10) e Restinga (22/out). O contato para informações pode ser feito através do email: [email protected].