Avaliar as políticas públicas no estado do Rio, potencializar a aproximação com os agricultores, elaborar estratégias para o movimento agroecológico e pautar as mudanças nas legislações ambientais, esses foram alguns dos temas da Reunião da Coordenação Política da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ). O encontro ocorreu nos dias 28 e 29 de agosto, em Guapimirim, região metropolitana do Estado, e contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas, dentre elas agricultores, técnicos extensionistas e movimentos sociais.
A alimentação do encontro foi toda agroecológica, com muitos produtos da agricultura familiar local. Alguns agricultores também venderam suas mercadorias, bem como remédios caseiros e alimentos, e foi realizada uma feira de sementes ao final da atividade. Houve uma homenagem ao agricultor Milton Machado, de Casimiro de Abreu, que era muito querido e faleceu recentemente e tinha um belo trabalho com sistemas agroflorestais na região.
O secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia, Denis Monteiro, trouxe uma avaliação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), na perspectiva de fortalecimento das redes que compõem o campo agroecológico e nas inovações metodológicas no processo, principalmente na centralidade das experiências nos territórios. Segundo ele, a reunião da AARJ foi rica pois mostrou o crescimento das experiências agroecológicas no estado, com um número grande de feiras agroecológicas e da agricultura familiar, acesso aos mercados institucionais, crescimento do número de agricultores orgânicos e várias iniciativas de incentivo ao consumo de alimentos agroecológicos.
“Percebemos um descompasso entre a vitalidade do movimento, com muitos agricultores (as) participando em uma mobilização constante e criativa para dar visibilidade à agricultura familiar do estado do Rio de Janeiro, e a timidez das políticas públicas. Falta vontade política dos governantes para desenvolver mais, no Rio, políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos, Assistência Técnica, Alimentação Escolar e Sementes Crioulas. A AARJ mostra o caminho para conquistarmos maiores níveis de segurança alimentar no estado, aumentando a produção de alimentos de qualidade e com diversidade e promovendo trabalho digno no campo”, afirmou Monteiro.
Antes dos debates os participantes se dividiram em grupos para visitas em três experiências de transição agroecológica na região. O objetivo era promover o intercâmbio entre os agricultores e assessores técnicos e, com base nos relatos, avançar no mapeamento das experiências agroecológicas do Rio de Janeiro. O sítio de Michel, produtor de leite, foi uma das visitas. Ele foi assessor técnico no Mato Grosso, trabalhou muito com agrotóxicos, e atualmente está arrendando seu terreno buscando não usar venenos.
Algumas autocríticas, no sentido de melhorar a dinâmica da articulação, foram apresentadas em relação à reunião: falta de mais agricultores e jovens, e a ausência de algumas regiões do Estado foram algumas delas. Por outro lado, Fabricio Walter professor e membro da Associação dos Agricultores da Microbacia do Fojo , destacou avanços na aproximação entre as organizações e agricultores locais a partir da mobilização do encontro. A comunicação também foi muito debatida nas conversas, no sentido de reconhecer os avanços e traçar estratégias para consolidar o coletivo de comunicação (GT Comunicação da AARJ) constituído desde o processo de preparação para a Caravana Agroecológica e Cultural da Região Metropolitana, além de reforçar outros desencadeamentos desde a realização do primeiro encontro estadual de agroecologia do Rio de Janeiro, ocorrido em 2006, por ocasião da participação de diversas experiências agroecológicas fluminense no II Encontro Nacional de Agroecologia, no Recife. As feiras agroecológicas também foram apontadas como fundamentais, não só para a geração de renda das agricultoras e agricultores familiares, mas também para promover a interação entre a cidade e o campo, sendo espaços estratégicos para promover a agroecologia.
Alguns temas foram indicados como prioritários, levando em consideração a construção da articulação nos últimos anos: agricultura urbana e periurbana, construção do conhecimento agroecológico (ATER, pesquisa e Ensino), acesso aos mercados locais e governamentais, participação das mulheres e jovens, comunicação, reforma agrária, reconhecimento dos povos tradicionais, conflitos e injustiças ambientais, normas sanitárias, guardiões de sementes de variedades locais, dentre outros. De acordo com Claudemar Mattos, membro do Grupo Executivo da AARJ, é importante avançar considerando as identidades e subjetividades dos territórios agroecológicos e sempre seguindo o princípio da valorização das experiências agroecológicas com o protagonismos das agricultoras e agricultores familiares, sistematização e comunicação.
“A reunião da coordenação política e outros eventos da AARJ são momentos e espaços importantes, não só para o fortalecimento da produção sem agrotóxicos e adubos químicos, mas também para a promoção da autonomia dos agricultores, que desenvolvem a sua produção com respeito ao meio ambiente. Contudo, é necessário que haja políticas públicas para a agricultura sejam adequadas à realidade da produção de alimentos do estado do Rio de Janeiro. Este é outro importante eixo de ação da AARJ”, afirma.
Três questões orientaram as propostas apresentadas pelos presentes antes da plenária: avaliação e propostas para melhorar as ações da AARJ, como comunicar para dentro e para fora as experiências agroecológicas e como se posicionar perante as políticas públicas para agricultura familiar no Rio. Assim, entre as principais ações planejadas para 2014 e 2015 foram citadas: reaproximar pessoas que se afastaram da articulação, dialogar com agricultores convencionais, realizar seminários avaliativos, buscar referências regionais em Ater, melhorar a comunicação interna entre as regionais, sistematizar novas experiências, importância das feiras, criar grupo de discussão da agricultura urbana, , produzir informativo impresso nas regionais, proporcionar mais participação de comunicadores populares, , debater as políticas favoráveis e não favoráveis à agricultura familiar, entre outros.
Na agenda da AARJ, além de realizar a próxima Festa das Sementes Locais, ficou decidido realizar o IV Encontro Estadual de Agroecologia em 2015, em Paraty, a fim de entre outros objetivos, reaproximar e fortalecer a articulação regional de agroecologia do litoral sul fluminense.