capa gt mulheresEntre os dias 20 e 22 de novembro aconteceu, em Curitiba – PR, o seminário “Mulheres Rumo ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA)” que contou com a presença de 80 mulheres representantes de diversas organizações e movimentos sociais ligados à agroecologia, ao feminismo e ao direito das agricultoras familiares e camponesas no Brasil. O seminário foi uma iniciativa do GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), em parceria com a União Europeia (UE), Oxfan e Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e teve como objetivos  principais trazer uma reflexão sobre a agroecologia e as políticas públicas e afinar as pautas e os debates para o III ENA, que está previsto para maio de 2014, em Juazeiro – BA.

Programação

No primeiro dia do evento aconteceram as visitas de intercâmbio a diferentes experiências de agroecologia protagonizadas por mulheres em Curitiba e região. Uma delas foi a visita a uma cozinha comunitária, na comunidade Conceição dos Correias, no município de Campo Magro. A cozinha, que surgiu pela articulação da Associação Comunitária com o apoio do governo municipal, tem os objetivos de disponibilizar espaço e equipamentos para o beneficiamento de alimentos, fabricação de pães, polpas de frutas e outros produtos.

cozinha coletivaAs mulheres também visitaram a agroindústria da família Escher que trabalha com produtos lácteos, produção de molho de tomate, fabricação de pães, geleias e beneficiamento de hortaliças. Todos os produtos possuem o certificado de produto orgânico do sistema solidário de certificação participativa da Rede Ecovida de Agroecologia. O selo Ecovida é uma forma de certificação que, além de garantir a qualidade do produto ecológico, permite o respeito e a valorização da cultura local através da aproximação entre agricultores e consumidores e da construção de uma Rede que congrega iniciativas de diferentes regiões.

A agroindústria da família Escher entrega produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e para Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e também comercializa em feiras na capital paranaense. Em relação ao acesso ao PAA, uma das coordenadoras do GT Mulheres, Vanessa Schottz, ressaltou que existem estudos indicando que, no Brasil, os produtos beneficiados são feitos pelas mulheres, mas vendidos no CPF dos homens. “Dessa maneira elas continuam invisíveis e não conseguem dominar os processos de comercialização. Épreciso mudar essa realidade.”

roda discussaoApós as visitas de intercâmbio, o grupo de mulheres participou da plenária da “Caravana Agroecológica e Cultural do Sul”, na Universidade Federal do Paraná, para debater, entre outros temas, as políticas públicas, o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa e a promoção da segurança alimentar e nutricional.

No segundo e terceiro dias do seminário, a programação contou com uma mesa redonda com o Governo Federal, um debate sobre o crédito para as mulheres rurais e uma mesa sobre Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater)para mulheres.

Segundo Vanessa Schottz, o evento cumpriu com o seu objetivo de promover a reflexão sobre a desigualdade no acesso das mulheres rurais às políticas públicas, além de construir propostas concretas para a superação dos diversos bloqueios e entraves. “O debate mostrou, inclusive, que o machismo permanece como um dos principais problemas e que existe uma visão, por parte dos técnicos, de que os projetos devem ser colocados em nome do homem considerado chefe de família. Por isso é tão importante esse diálogo entre o feminismo e a agroecologia, promovido pelo GT Mulheres da ANA.”